Dois adolescentes ficaram feridos, com disparos de arma fogo feitos por um colega de classe no Colégio Estadual João Manoel Mondrone, em Medianeira (oeste), na manhã desta sexta-feira (28). O atirador, também adolescente, alega que sofria bullying e teria armado a ação com outro colega da mesma idade. Segundo o 14º Batalhão de Polícia Militar (14º BPM), pertencente ao 6º Comando Regional da PM (6º CRPM), a situação ocorreu por volta de 8h40 e houve uma rápida intervenção policial, que cessou o ataque. Os suspeitos foram apreendidos e duas vítimas foram socorridas e encaminhadas para atendimento médico. A ocorrência provocou pânico entre os alunos, que fugiram da unidade escolar. Vídeos em redes sociais mostram os momentos de desespero.

Segundo informações da Polícia Militar, os adolescentes entraram na escola armados com uma garrucha calibre 22 e uma faca, além de bombas caseiras e várias munições. Segundo o Tenente Dusinski, ambos estavam com material explosivo, aerossóis, bombas de fogos de artifício. "Chegaram na primeira sala e não acharam os alvos. Foram na segunda sala, apontaram a arma de fogo e falaram para os outros alunos para sair da sala", destacou. Os alunos acharam que era brincadeira, e os agressores deram a volta e foram pela janela, por onde efetuaram o primeiro disparo. "Um aluno foi atingido nas costas e o outro aluno foi atingido na perna", destacou. Os demais alunos foram ao piso superior para fugir, e os agressores ficaram fechados na outra sala.

A PM deu voz de abordagem aos adolescentes, que efetuaram dois disparos na porta. "Os policiais adentraram e efetuaram disparos contra os adolescentes, que não atingiram os jovens. Os adolescentes estavam com 65 munições de calibre .22 intactas, seis munições de calibre .22 deflagradas, três caixas de bombinhas tipo rojão com 56 unidades no total, uma faca, duas bombas de fabricação caseira e uma mochila. Em diligência à residência de um deles foram localizadas mais munições, duas espingardas, vários recortes de notícias similares a esses ataques que ocorreram nos Estados Unidos, de alunos que entraram na escola e efetuaram disparos.

Ao todo foram oito disparos registrados. O atirador teve tempo de recarregar a arma durante o ataque. O plano de ambos seria, de acordo com o Guia Medianeira, que o adolescente armado com a faca trancasse a porta para que ninguém saísse. "Mas, na hora do ocorrido, ele disse que travou e não conseguiu cumprir o combinado", afirma o repórter "Magrão", do site Guia Medianeira, que conversou com o adolescente.

O delegado da Polícia Civil, Denis Merino, estava ouvindo os pais do atirador quando a reportagem da Folha ligou para ele. "Foram encontradas armas com o pai e lavramos o flagrante por omissão de cautela na guarda da arma de fogo e porte ilegal de armas. Está tudo irregular. São armas de baixo calibre que foram adquiridas porque ele é um colono de sítio. Já analisamos documentos que apontam que ele sofria bullying na escola, mas nada justifica a ação", declarou Merino. Os menores foram apreendidos e serão encaminhados para um centro de socioeducação.

Uma das pessoas que estava na sala de aula relatou à Folha que 18 alunos estavam tendo aula de História, quando o atirador deu um chute na porta da sala. "No começo todos acharam que era uma brincadeira", relatou a pessoa, que pediu para não ser identificada. O atirador apontou a arma para os alunos em busca de uma pessoa específica. "Ele apontou a arma para os alunos, mas não atirou em ninguém", disse a testemunha, que foi uma das pessoas que teve a arma apontada contra a sua cabeça. "Ele viu que não era quem ele queria, e foi embora", destacou.

Ela contou que ao ver quem estava portando a arma, todo mundo achou que fosse brincadeira, mas ao ouvir os tiros na outra sala, as pessoas se deram conta que algo ruim estava acontecendo. "Aí todos entraram em desespero e saíram correndo", declarou. Segundo a testemunha, ninguém imaginou que algo do tipo aconteceria. "Eu não o conhecia, mas tenho amigos que o conheciam. Ele nunca teve comportamento estranho, mas também não tinha amigos. Era bem na dele.", relatou a testemunha. A pessoa destacou que uma das pessoas atingidas estudava em sua sala. "Ele levou um tiro na perna. Estão todos em choque. A maioria não consegue acreditar", relatou a pessoa com quem a reportagem conversou.

Outro aluno relatou que se sentiu em pânico. "Fiquei paralisado por um momento, depois não conseguia andar porque as minhas pernas estavam bambas", declarou. "Um dos meninos de minha sala foi confundido com o irmão gêmeo dele e levou o tiro quando estava correndo", relatou. "Depois desse tiro eu saí do colégio em choque. Procurei meus amigos para ver se eles estavam bem. Depois que os atiradores foram detidos, voltamos para pegar nossos pertences e fomos embora", disse a testemunha.

Segundo a testemunha, o atirador sempre foi uma pessoa calma, era muito inteligente e nunca imaginou que ele faria isso.

Veja as imagens (Crédito: Guia Medianeira)



O Siate foi acionado e fez o encaminhamento das vítimas. Uma delas, de 18 anos, foi ferida nas costas está em estado grave. O rapaz foi levado à Foz do Iguaçu para receber o atendimento médico adequado. O outro estudante foi atendido no Hospital e Maternidade Nossa Senhora da Luz, em Medianeira (PR), foi atingido de raspão na perna e não corre risco de morte. A primeira vítima, entretanto, não era o alvo do atirador, que teria gravado um vídeo, ao sair de casa, no qual dá os nomes de oito pessoas que pretendia atingir.


Garrucha, faca e munições apreendidas com adolescentes que atiraram contra colegas em escola de Medianeira
Garrucha, faca e munições apreendidas com adolescentes que atiraram contra colegas em escola de Medianeira | Foto: Guia Medianeira




Após efetuar os disparos, o adolescente com a garrucha correu para uma sala de dois pisos para se esconder. A Polícia Militar entrou na instituição de ensino e também foi recebida a balas, mas os oficiais conseguiram render os menores.

Ainda segundo "Magrão", o adolescente escreveu uma carta de duas páginas na qual pede perdão pelo que faria e justifica suas atitudes extremas. A Polícia Civil, entretanto, não pretende divulgar seu conteúdo.

A reportagem da Folha conversou com a tia de um dos agressores, Ana Thomé Slongo, que afirmou que seu sobrinho é um menino quieto. "Fiquei sabendo pelo noticiário que ele sofria muito bullying na escola. Ele é fechado e nunca reclamou nada comigo. Foi uma surpresa para todos nós ele fazer isso. Ninguém esperava isso. Fiquei sabendo do ataque pelo noticiário. Nem cheguei a conversar com os pais dele", destacou.

O pai do adolescentes atingido nas costas, Éder Facundo, afirmou que seu filho foi transferido de Foz do Iguaçu à Curitiba, para o Hospital do Trabalhador. "O médico responsável vai deixá-lo em observação pois, pode ser que ele não precise de cirurgia. A bala alojada está como se fosse um parafuso. Alguns fragmentos de ossos podem ser absorvidos pelo próprio organismo do meu filho. Só teremos outra posição após este tempo de observação, que deve acontecer por cerca das 10 horas de sábado (29)".

O ataque chocou a comunidade de Medianeira. A dona de casa Brasília Almeida, 74, relatou que suas filhas e seus netos estudaram nesse colégio. "Nunca tinha acontecido esse tipo de coisa aqui em Medianeira. Eu, pelo menos, nunca ouvi falar. Foi uma coisa horrível. Tomara que isso não continue. Nesse mundo ninguém aceita coisa errada, mas fazem. Chocou a cidade", relatou.

Outra pessoa que conversou com a reportagem foi um aluno do colégio que foi palco do ataque, de 17 anos, que não estava no local no momento da ocorrência. "Sujou a imagem da escola. Eu conhecia o rapaz de vista, não era amigo dele. Mas isso causa preocupação", declarou.

Dois vídeos foram gravados por um dos agressores antes de atirar contra os colegas de turma. Ele atribui a "culpa" pelos ataques aos colegas que praticavam bullying contra ele. Ele também culpou os pais por não educarem os filhos que o agrediram.

No dia 21 de outubro do ano passado a Folha publicou a reportagem "Bullying afeta a autoestima", em que entrevistou a psicóloga e professora do Departamento de Psicologia Social e Institucional da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Solange Maria Beggiato Mezzaroba. A matéria relembrou os episódios que ocorreram em Goiânia (GO), Taiúva (SP), Realengo (RJ), São Caetano do Sul (SP) e Corrente (PI). (Colaborou Vítor Ogawa/Reportagem Local)

(Atualizado às 23h26)