Para o presidente da Ocepar, José Roberto Ricken, a meta de faturamento de R$ 100 bilhões deve ser atingida em 2021
Para o presidente da Ocepar, José Roberto Ricken, a meta de faturamento de R$ 100 bilhões deve ser atingida em 2021 | Foto: Imprensa Ocepar/Divulgação


O cenário econômico nacional no último ano associado a recente greve dos caminhoneiros deixou muitos setores do País de cabelo em pé, com prejuízos enormes. O setor cooperativista, por exemplo, teve perdas estimadas em R$ 1 bilhão durante os dez dias de paralisação. Porém, o que se vê mesmo nestes momentos mais turbulentos é uma solidez incrível do sistema, que continua crescendo. Em entrevista à FOLHA, o presidente da Ocepar, José Roberto Ricken, relata que estes períodos de crise demonstram quem está realmente preparado no País.

Ricken, faça um balanço do sistema cooperativista neste último ano. Entre os resultados econômicos e práticos, o que mais te saltou aos olhos neste período?

As cooperativas conseguiram, nos últimos anos, aproveitar bons momentos para planejar e investir. Hoje, 48% do faturamento das cooperativas agropecuárias advém da agroindustrialização, possibilitando resiliência em momentos difíceis. As cooperativas aumentaram em 2% sua participação no PIB agropecuário paranaense, evidenciando o crescimento do setor mesmo em um ano de crise econômica. O número de cooperados cresceu em quase 100 mil e o sistema continuou investindo em capacitação de seus colaboradores, infraestrutura e em inovação. Períodos de crise demonstram quem está preparado, e o cooperativismo demonstrou sua força através desses resultados.

Pensando em todas as vertentes que o cooperativismo trabalha – agroindústria, exportações, armazenagem, tecnologias, etc – como devem seguir os investimentos para os próximos anos para que o negócio continue crescendo de forma sólida?

Todos os anos o cooperativismo tem trazido novos projetos de investimento para ampliar sua capacidade de atendimento aos cooperados e de processamento da produção. Em 2017 o valor total investido chegou a R$ 2,1 bilhões e para os próximos anos existem importantes projetos em andamento, apesar das incertezas econômicas e políticas do país. Vamos manter o foco de nossa atuação em 2018, esperando também que ocorram menos reveses econômicos e políticos que afetem as cooperativas, que buscam o crescimento por meio da agregação de valor na agroindústria.

O relacionamento entre cooperativas e cooperados sempre foi um dos pontos positivos no cooperativismo. Nós sabemos, claro, que se trata também de um relacionamento de interesses. Na sua opinião, como essa ligação pode ser aprimorada nos próximos anos?

O foco do cooperativismo é o desenvolvimento do cooperado e a relação comercial não passa de uma consequência. Os cooperados precisam ter boas opções de renda e acesso aos mercados e as cooperativas buscaram isso com os projetos de diversificação da produção e com a agroindustrialização para agregar valor na produção. No campo, temos cada vez mais opções de atividades para o produtor, em projetos da pecuária e da agricultura. Isso faz a diferença, pois dá novas opções para a atividade, apesar de tornar muito mais complexa sua gestão.

Tirando o salto menor entre 2016 e 2017, a evolução dos indicadores sociais e econômicos do cooperativismo paranaense continuam muito sólidos nos últimos anos, com crescimentos substanciais. Quais as projeções para o final de 2018? Quais indicadores vocês projetam maior evolução? O caminho para o faturamento dos R$ 100 bi (PRC 100) continua dentro do programado?

O PRC 100 representa a soma dos planos estratégicos das cooperativas. É claro que a situação econômica e política traz incertezas, mas continuamos firmes nos propósitos, sobretudo porque, se existe possibilidade de crescimento em tempos difíceis, ele só pode acontecer se tivermos planejamento. O plano está bem fundamentado, especialmente com a contribuição de profissionais de cooperativas e seus dirigentes. Há uma agenda permanente na busca por melhorias na infraestrutura, adequada carga tributária, novas tecnologias, mais investimentos para atender novos mercados, governança, autogestão e investimentos no desenvolvimento humano do público interno do cooperativismo paranaense, além do acompanhamento e análise de desempenho constante de todas as cooperativas. A meta de faturamento de R$ 100 bilhões deve ser atingida em 2021.

Faça uma análise dos gargalos que o sistema cooperativista ligado ao agronegócio enfrenta no Paraná. O que ainda preocupa o sistema cooperativista?

O principal gargalo é a infraestrutura, pois existem muitas deficiências nas rodovias, portos, ferrovias e aeroportos. Faltam investimentos para melhorar e solucionar esses problemas. Essa é uma preocupação muito grande porque prejudica todo o agronegócio paranaense. Além disso existe uma tributação significativa em alimentos básicos e faltam políticas públicas que permitam ao setor contar com investimentos de maior envergadura, ou seja, mecanismos que possibilitem um volume maior de recursos voltados à transformação de produtos agrícolas e que agreguem valor à produção primária. Outra questão importante é a garantia de renda. É necessário estabelecer uma política de Seguro Rural eficiente.

Atualmente cerca de 20% da área cultivada no Brasil é coberta com o Seguro Rural ou Proagro, contra 50 a 80% em outros países com produção agrícola significativa. Essa política tem o sentido de garantir uma renda mínima ao agricultor em caso de frustrações de safra, para que ele possa saldar seus débitos e também não onerar o contribuinte com renegociação de dívidas.

Internamente, no trabalho diário, as cooperativas têm se mostrado extremamente profissionais. O que é preciso trabalhar nesse sentido para seguir nessa evolução. Você acha que todas essas mudanças tecnológicas estão sendo absorvidas pelas cooperativas?

O principal diferencial do cooperativismo são as pessoas. Os profissionais que atuam no sistema estão em constante aperfeiçoamento e é possível perceber o quanto evoluímos no melhor preparo deles, com qualificação dentro das exigências de mercado. Devemos chegar neste ano com aproximadamente 100 mil pessoas com carteira assinada no sistema cooperativista e o preparo dessas pessoas é fundamental para que o cooperativismo continue crescendo e se desenvolvendo. Mais de 90% desses colaboradores têm uma relação direta com as regiões de atuação das cooperativas, facilitando assim o conhecimento das realidades locais. É um estímulo para termos um trabalho focado e de resultados, pois, ali está sua família e a relação com a região é muito intensa.

O Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Paraná (Sescoop/PR) tem sido um agente importante nesse cenário, com investimentos anuais em capacitação e treinamento na casa dos R$ 50 milhões, sem contar os recursos investidos diretamente pelas cooperativas que certamente devem dobrar. O Sescoop tem investido na formação das pessoas, pois isto é nosso negócio. Atualmente são mais de 63 pós-graduações em andamento e três mestrados em gestão de cooperativas. Dessa forma, as cooperativas possuem um quadro de pessoas que têm grande capacidade para gerar inovação, e por meio dessas pessoas o cooperativismo está se desenvolvendo nesta era da aceleração da informação. (V.L.)