No dia 25 de abril de 2016, a psicóloga Elaine Prestes teve a experiência que ouvia ser a mais dura na vida de uma pessoa. De modo súbito, sua única filha, Mariana, sofreu um aneurisma na escola e morreu, aos 16 anos. Diante do luto, ela encontrou apoio, conheceu outras mães que perderam seus filhos e passou a gerenciar o grupo Mães da Esperança. "Criado a partir da união de mães que passaram pela dor mais complicada, a de ter que lidar com a partida definitiva", assim o grupo se define e a empatia faz-se presente. Com atividades programadas, as reuniões são realizadas uma vez por semana e contribuem para o processo de enfrentamento do luto. É ali, juntamente com mães que conhecem uma dor tão profunda, que encontram compreensão e o reconhecimento de que o sentimento que possuem é legítimo.

A psicóloga Elaine Prestes perdeu sua única filha aos 16 anos e criou o grupo Mães da Esperança: "Quanto mais a gente divide, menos pesado fica. E se tem alguém disposto a ouvir, não estamos sozinhos"
A psicóloga Elaine Prestes perdeu sua única filha aos 16 anos e criou o grupo Mães da Esperança: "Quanto mais a gente divide, menos pesado fica. E se tem alguém disposto a ouvir, não estamos sozinhos" | Foto: Anderson Coelho



O Mães da Esperança propõe uma troca de experiências que vale mais que remédio e prova que a inciativa voluntária pode ser transformadora. Foi por meio de um abraço que Prestes entendeu que pessoas com a mesma dor seriam aliadas no alívio. "Eu não me esqueço quando a primeira mãe que vive o luto foi me visitar. Foi muito marcante. É um abraço que traduz tudo. É diferente estar diante de uma pessoa que passou pelo seu sofrimento e o gesto de abraço traduz tudo." Isso é empatia. É muito ruim escutar alguém dizer que sabe o que você está sentindo porque ela não sabe.

Com algumas reuniões e compartilhando histórias, a psicóloga, com o apoio do padre Vandemir Araujo e das outras mães, percebeu que novas atividades poderiam ser inseridas e o grupo ganhou forma e uma agenda. "O padre Vandemir idealizava este grupo, por acompanhar famílias enlutadas e, a partir do sofrimento de várias mães, o grupo surgiu com o meu acompanhamento, que sou mãe e psicóloga. A ideia é aproveitar o dom de cada uma e entender que temos que nos ligar à vida novamente." Há partilha, oficinas de oração, artesanato, desapego e, segundo Prestes, a procura por iguais faz parte do processo porque falar do sentimento alivia. "Nem todo mundo pode estar presente em todas as reuniões, mas todos sabem que existe um porto seguro, existe um lugar e pessoas com as quais podem estar. Algumas mães relatam que não veem a hora de chegar o dia da reunião e tem mãe que depois que entrou no grupo entendeu que precisa voltar a viver e vai enxergando lá na frente."

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MOTIVAÇÃO
A promessa de que encontraria paz não fazia sentido para Prestes. "Comecei a sentir uma ponta." No grupo, ela conseguiu encontrar motivação e ver que é possível continuar - de outra forma. O que faz toda a diferença nesse estado de espírito dela é ter com quem contar. É poder falar e ser ouvido. "As pessoas precisam falar sobre suas dores. Para nós, falar sobre nossos filhos é a melhor coisa e, embora as pessoas pensem, esse assunto não é velado porque não há como negar uma parte de minha história, nem o fato da morte de alguém tão amado. Eu, como psicóloga, sei que quanto mais a gente divide, menos pesado fica e que se tem alguém disposto a ouvir, não estamos sozinhos", reflete. Mas fora de um grupo, a empatia é bem mais difícil de ser encontrada. "As pessoas deixaram de escutar as outras. Ninguém tem mais tempo pra ninguém. E isso é falta de empatia".

Ajudar e ser ajudado dá sentido ao grupo. "Estamos no mesmo barco. Conheci nesse período pessoas muito humanas e sensíveis e isso mantém a minha esperança porque a superficialidade tem ocupado grande espaço na sociedade", acredita. E sustenta: "Somos seres afetivos e precisamos estar com o outro. Se não falamos, adoecemos e adoece também quem está do lado e então descobrimos que precisamos ressignificar a vida." Sobre sua integração com o grupo, ela destaca o pensamento do médico psiquiatra Viktor Frankl. "Encontrei o significado da minha vida, ajudando os outros a encontrarem o sentido das suas vidas".

Serviço: Mães da Esperança: Todas as quintas-feiras, às 20 horas, na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora - Rua Dom Bosco, 55 - sala 1.
facebook: https://www.facebook.com/maesdaesperanca.londrina/

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