Há pioneiros que ajudaram a edificar Londrina e outros que ultrapassaram os limites do município e se aventuraram por vários lugares. Um deles é Antônio Amado Noivo, português que veio ao Brasil em 1914. Filho de Manoel dos Santos e Rosa Noivo, ele nasceu em 24 de março de 1898, na freguesia de Mira de Aire, Porto de Mós, local onde fica a Gruta de Mira de Aire, também conhecida como Gruta dos Moinhos Velhos, uma das grutas naturais mais bem preservadas de Portugal.

Mapa da Vila Ipiranga, em Londrina. Rua que leva nome do pioneiro Antônio Amado Noivo era parte de seu patrimônio
Mapa da Vila Ipiranga, em Londrina. Rua que leva nome do pioneiro Antônio Amado Noivo era parte de seu patrimônio | Foto: Folha Arte

Quando ele embarcou rumo ao Brasil, Portugal vivia um período de incertezas. O País tinha implantado a República em outubro de 1910, quando o rei Manuel II foi deposto. Aproveitando o momento, a Grã-Bretanha e a Alemanha assinaram duas convenções secretas para dividir as colônias portuguesas (em 1898 e 1912); o rei da Espanha pressionava Londres e Paris para organizar uma intervenção militar em Portugal, para restabelecer a "ordem" e a monarquia; e a Grã-Bretanha se afastou de Portugal, não fornecendo recursos para programas de aquisição de armas, que eram usadas em suas colônias na África. Quando a Primeira Guerra Mundial começa, em agosto de 1914, ela se mistura a uma guerra civil intermitente de um regime recém empossado e fraco. A emigração portuguesa durante o período fez com que quase meio milhão de portugueses se mudassem para outros países, entre eles o Brasil. Amado Noivo desembarcou no Brasil e logo se instalou na região de Serra Negra (SP), cidade próxima a Campinas, quando tinha 16 anos, onde montou uma loja de secos e molhados, uma versão dos atuais mercados.

Antônio Amado Noivo  (1898 - 1964)
Antônio Amado Noivo (1898 - 1964) | Foto: Arquivo pessoal/Luiz Noivo Pereira

Segundo seu neto, o executivo de vendas Luiz Noivo Pereira, 63, seu avô veio a Londrina em 1934. “Ele veio atraído pelo projeto da Companhia de Terras Norte do Paraná. Comprou uma propriedade de terras onde hoje é a Vila Ipiranga”, destacou.

O projeto da CTNP era diferente da comercialização fundiária que vigorava em Estados como o de São Paulo. O baixo preço dos lotes associado com o tamanho médio variando entre 3 e 15 alqueires atraía compradores. A área que Amado Noivo comprou possuía 15 alqueires, ou seja 363 mil metros quadrados. “Para você ter uma ideia do tamanho da área, a fazenda ia da avenida Juscelino Kubitschek, passava por onde está o Moringão, seguia pela avenida Bandeirantes, ia até onde hoje é o Colégio Maxi e subia a rua Mato Grosso até encontrar com a avenida JK novamente”, destacou Pereira. Ele montou uma olaria nas proximidades do que hoje é o Colégio Maxi. “Ele pegava o barro para fazer os tijolos do Ribeirão Cafezal, que hoje é o lago Igapó”.

Placa  da rua que leva o nome do pioneiro em Londrina
Placa da rua que leva o nome do pioneiro em Londrina | Foto: Gustavo Carneiro

SEDE DA FAZENDA AINDA EXISTE

A sede da fazenda ainda existe. “Ela fica na rua Mato Grosso, esquina com a rua Raposo Tavares. Ela foi construída em 1943. A casa tem um pé-direito alto, com 3,5 metros de altura. As paredes são de tijolo maciço deitado. A obra deve estar catalogada pelo Patrimônio Histórico de Londrina”. Com a cidade em expansão, o movimento da olaria era intenso. Muitas pessoas precisavam dos tijolos e das telhas fabricadas por Noivo. No auge do movimento do café ele montou uma máquina beneficiadora de café na rua São Jerônimo, Centro de Londrina (paralela à rua Santa Catarina).

Antônio Amado Noivo, na companhia da esposa
Antônio Amado Noivo, na companhia da esposa | Foto: Arquivo pessoal/Luiz Noivo Pereira

Como a propriedade de Amado Noivo na atual Vila Ipiranga estava bem localizada, logo a Companhia de Terras fez uma proposta para trocar lotes da sua propriedade por propriedades em outros municípios que a companhia estava desbravando pelo interior do Estado. Em Cruzeiro do Oeste, ele recebeu uma propriedade e montou por lá uma serraria, a Serraria Brasil. Em Altônia, onde também recebeu propriedade na troca por lotes da atual Vila Ipiranga, ele tinha propriedades rurais, onde cultivou café. “Foi um desbravador. Ele fez todo o desbravamento da região de Umuarama. O movimento da serraria acontecia o dia inteiro. Naquela época ele importou as máquinas e os caminhões da Inglaterra. Ele vendeu a empresa a um grupo de japoneses e as máquinas eu soube que estão em atividade até hoje, no Pará. Sei disso, porque meu tio quem orienta como consertar”.

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Noivo era casado com Maria de Jesus Marcelino, cinco anos mais nova que ele. O casal teve cinco filhos, José , Antônio Filho, Odele, Elsa e Mário. Mas o caçula Mário Amado Noivo morreu de meningite no dia 7 de abril de 1945, quando ele tinha apenas 20 anos, uma das maiores tragédias familiares. “Na época não tinha vacina”, conta.

 Antônio Amado Noivo, na companhia da esposa e de quatro de seus cinco filhos
Antônio Amado Noivo, na companhia da esposa e de quatro de seus cinco filhos | Foto: Arquivo pessoal/Luiz Noivo Pereira

Luiz Noivo Pereira relatou que a melhor lembrança do tempo de convívio com o avô eram as brincadeiras que fazia com ele ainda criança na máquina de café, as idas às fazendas em Sertanópolis e as corridas com o carrinho de rolimã. “Era um outro tempo.”

O neto do pioneiro ressalta a índole boa do avô. “Ele era uma pessoa que queria ficar junto com povo. Fazia jantares e adorava fazer refeições em mesa grande. Adorava bacalhau e sardinha na brasa, mas no dia a dia era o arroz e feijão que fazia parte do cardápio”.

COMPATRIOTAS E PESSOAS DE OUTRAS ETNIAS

Além de ter ajudado muitos portugueses que vinham para cá, sempre se deu bem com pessoas de outras etnias. “Ele também ajudou muito os japoneses e outras pessoas. O Celso Garcia Cid era motorista da Companhia de Terras Norte do Paraná e quando viu a oportunidade de comprar a jardineira, meu avô ajudou com dinheiro para que ele comprasse o primeiro ônibus da Viação Garcia”, apontou.

Pereira relata que seu avô também ajudou o carioca Orlando Mayrink Góes em seus primeiros dias de Londrina, que se transformou de um contabilista a um corretor de propriedades e um empresário do setor de automóveis. “Naquela época era tudo na base da confiança, ou como eles falavam, na base do fio do bigode. Ele só falava para pagar quando a pessoa tivesse condições para isso”, destacou Pereira. “Meu avô também doou todos os tijolos utilizados na construção da sede da Folha de Londrina para o João Milanez. Enquanto minha mãe era viva a Folha enviava os exemplares para a casa dela”, apontou. Também foi um dos fundadores da Cervejaria Londrina, que popularmente acabou denominando um trecho dos bairros Aeroporto, Jardim Vera Cruz e Jardim Graziela como Cervejaria, embora esse nome não seja oficial.

Nota de jornal anunciava visita do pioneiro à sua terra natal
Nota de jornal anunciava visita do pioneiro à sua terra natal | Foto: Arquivo pessoal/Luiz Noivo Pereira

Hoje seus descendentes estão espalhados pelo mundo: Suíça, China, Japão, Estados Unidos e também pelo Brasil inteiro. Mas a base da família sempre foi Londrina. “Me lembro de nossa convivência na casa da rua Mato Grosso com a rua Raposo Tavares. Gostava de pegar os netos para contar histórias. Mesmo com propriedades e negócios em outras cidades, ele era apaixonado pelo Norte do Paraná e por Londrina. Ele morreu aqui em Londrina em 1964, aos 66 anos”.

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- Folha de Londrina/Notícia Boa