Em alguns lugares ele é conhecido como Bicho Manjaléu. Em outras regiões é chamado de Papa-Figo. Também pode ser conhecido como Papa-Gente. Ou ainda como o terrível Bicho-Papão. Personagem presente nos tradicionais contos populares brasileiros, trata-se de um bicho capaz de provocar medo. Um ser imaginário para manter distância. Um bicho grande, peludo, feioso, chifrudo, fedido, raivoso, sanguinário e faminto.

Lenda de tradição oral brasileira de origem europeia, Bicho Manjaléu foi compilada em livro, pela primeira vez, pelo historiador sergipano Sílvio Romero (1851 – 1914). Ao longo do tempo dezenas de versões se propagaram em livros direcionados ao leitor infantil e infantojuvenil. Uma das versões mais recentes integra “Histórias Bem-Contadas – Contos da Tradição Popular Brasileira”, obra dos escritores paranaenses Marcia Paganini e Ricardo Dalai lançado pela editora Madrepérola.

Com ilustrações de Cassia Naomi Nakai, o volume traz cinco contos populares, entre eles a história do lendário Bicho Manjaléu. Trata-se de uma típica narrativa com a mitológica jornada do herói. Um dos contos narra a história de um jovem que viaja pelo mundo em busca de três irmãs que nunca conheceu. Em sua viagem, se apaixona pela Princesa de Castela que é prisioneira do Bicho Manjaléu. Para libertá-la, o rapaz empreende uma jornada que conta com o auxílio de sentimentos sinceros e elementos fantásticos.

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. | Foto: Cassia Naomi Nakai/ Reprodução

Outro conto presente em no volume, “A Princesa de Bambuluá”, foi compilado pela primeira vez pelo folclorista potiguar Luís da Câmara Cascudo (1898 – 1986). Traz a história de João Amarelo, um jovem feio, fraco e faminto que se abriga numa caverna. No local conhece uma linda moça enfeitiçada. Para libertá-la da maldição, o rapaz precisa realizar provas que exigem coragem e resiliência. E amor, é claro.

Após vencer com enorme dificuldade os complicados desafios, João Amarelo, pelas mãos do destino, precisa enfrentar novos desafios para permanecer ao lado da amada. E as dificuldades se multiplicam multiplicam para o rapaz conseguir chegar ao Reino do Bambuluá, um lugar próximo do paraíso.

“A Comadre da Morte”, outra narrativa popular de “Histórias Bem-Contadas”, traz uma das recorrentes lendas sobre pactos com a Senhora Morte recorrentes em várias culturas. Um sujeito miserável, sem conseguir ninguém para ser madrinha da filha recém nascida, aceita a Morte como madrinha. Em gratidão, a Morte concede ao homem a capacidade de saber se um enfermo vai morrer ou sobreviver. E assim, como um médico falsário, consegue fazer fortuna. Mas quando ele próprio está próximo do fim, decide enganar a Morte. Consegue ludibriá-la uma, duas vezes. Mas na terceira, não há mais escapatória.

As narrativas presentes em “História Bem-Contadas” são um exemplo de como as antigas narrativas populares ainda permanecem sedutoras. E como ainda abrem caminho para o entendimento de linguagens simbólicas.

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. | Foto: Reprodução

Serviço:

“Histórias Bem-Contadas – Contos da Tradição Popular Brasileira”

Autor – Marcia Paganini e Ricardo Dalai

Ilustração – Cassia Naomi Nakai

Editora – Madrepérola

Páginas – 58

Quanto – R$ 29,90