Sólido e em ascensão. Assim pode ser definido o Bloco Bafo Quente que desde sua formação, em 2006, conserva seus integrantes originais. Tendo como inspiração o grupo carioca Monobloco, o Bafo Quente nasceu com o objetivo de reunir ritmistas de Londrina num trabalho de pesquisa sobre percussão e suas possibilidades de integração com outros instrumentos.

O grupo de estudos se expandiu a apresentações públicas e, graças à pluralidade de seus integrantes - músicos oriundos de várias bandas da cidade - conquista cada vez mais admiradores que já trata o bloco de modo íntimo: Bafo Quente, o Bloco, o Bafo ou simplesmente BBQ.

Gisele de Oliveira, cantora do BBQ: "São só quatro dias de carnaval, temos que nos permitir"
Gisele de Oliveira, cantora do BBQ: "São só quatro dias de carnaval, temos que nos permitir" | Foto: André Trigueiro/ Divulgação

'É o começo de uma tradição'

A relação de Gisele Silva de Oliveira com o Bloco Bafo Quente não é apenas cultural, está ligada à identidade da cidade que acolhe. A celebração do carnaval às margens do Igapó faz parte disso. Para Gisele, 37 anos, cantora do Bafo, a expectativa criada em torno da atração carnavalesca é uma confirmação de anseios. De 2006 para cá, são 14 anos de um trabalho respeitado. "Em momentos corriqueiros, no dia a dia, somos abordados e o carinho das pessoas, de diferentes idades, é muito grande", conta.

A demonstração do contentamento do público, vai além da presença nos dias de folia. "Isso dá uma sensação gostosa do sentimento que o londrinense tem pela cidade e vai sendo incutido nas pessoas, cria uma tradição por esse prazer que é a música que o bloco tem para oferecer." Gisele é casada com o baterista Duda de Sousa, também do bloco. Este será o segundo carnaval do filho deles, Rael, de quatro meses. "Ano passado eu já estava grávida", sorri.

Nascida em Paranavaí, Gisele se mudou para Londrina em 2000 para estudar Artes Cênicas e participa do BBQ desde o comecinho. Outras experiências como os grupos musicais Sambulantes e Mama Quila preenchem o portfólio da cantora, que também se apresentou na Dinamarca em teatros, escolas e espaços culturais divulgando a música popular brasileira.

A contar pela alegria nas ruas e a festa tão democrática, o bloco não vai deixar o sambar morrer. "São só quatro dias de carnaval, temos que nos permitir", lembra a artista.

Marcelo Siqueira, ritmista: "Em São Bernardo, vivíamos muito o samba, o carnaval passava na rua de baixo da minha casa"
Marcelo Siqueira, ritmista: "Em São Bernardo, vivíamos muito o samba, o carnaval passava na rua de baixo da minha casa" | Foto: André Trigueiro/ Divulgação

'A bateria de é algo mágico'

Marcelo de Siqueira, 37 anos, é um dos percussionistas do grupo que soma 16 profissionais da música. Sua vocação para a arte vem da infância, no ABC Paulista. "Em São Bernardo, vivíamos muito o samba, o carnaval passava na rua debaixo e do meu quarto eu ouvia a bateria, que é muito emocionante, algo mágico". De seu quarto, o menino de nove anos se projetava, sentia as batidas e sua vontade era estar no meio da folia.

Quem procura acha e, para sua sorte, uma boa amizade permitiu que se aproximasse do samba. O amigo Cristiano, era filho de ninguém menos que o compositor Antonio Zeferino Xavier Gonçalves, autor de sambas reconhecidos. "Naquela época eu não sabia de tudo isso". E logo, passou a frequentar rodas de samba como o da Escola Rosas de Ouro, um episódio serviu de motivação. "Formamos um grupo na escola e fizemos uma paródia para um concurso contra as drogas e ganhamos". O prêmio foi um passaporte para o Playcenter e mais do que isso, um incentivo para algo que já dava muito prazer.

Quem estudou com Marcelo de Siqueira nas escolas estaduais de São Bernardo, deve se recordar que desde esses tempos, seu apreço pela música era levado a sério. Em Londrina desde de 2002, ele também é formado em Gestão em Gastronomia e acompanhou diversos artistas por todo o Brasil. Outros nomes como Almir Guineto, Dudu Nobre, Toninho Geraes e Moacyr Luz acrescentam à experiência do músico. Quando conheceu o baterista Duda de Sousa, do Mama Quila, passou a emprestar o seu talento a outras bandas como Maracutaia do Samba, Sarará Criolo e Homens e Caranguejos e sente-se realizado de poder viver da música. Professor de percussão na Guarda Mirim de Londrina, juntamente com o músico Gabriel Jarbas, oferece oficinas e utiliza o método acessível de Prática em Conjunto, na Vila Alma Brasil. "Ensinamos ritmos brasileiros adaptados para escolas de samba", informa.