Passam muitos "filmes" na cabeça do pequeno Vitor Fernandes Benini, de 6 anos. São tantos detalhes e "roteiros", que é impossível guardá-los para si.

Vitor Fernandes Benini escreveu livro que conta a história de uma moto que vai à escola junto com outras motos, obra será lançada esta semana em Londrina
Vitor Fernandes Benini escreveu livro que conta a história de uma moto que vai à escola junto com outras motos, obra será lançada esta semana em Londrina | Foto: Divulgação




Assim começa a história do menino "nutrido" de imaginação. Aos três anos e meio, ele começou a compartilhar esses "filmes", como ele mesmo descreve, com a mãe Ione Fernandes e a tia e madrinha Sirlei Benini.

E uma delas se transformou no livro "Motorsec na escola", que será lançado no sábado (22), no Sesc Cadeião, em Londrina. "Meu tio me deu uma moto que vem com uma ferramenta e eu inventei um filme. Motorsec é o nome da moto que vai para a escola junto com outras motos", conta o garoto, enquanto folheia as páginas do livro.

Com ilustrações de Roger Lemes, a publicação traz as aventuras de uma moto que não se dava muito bem com a ferramenta, mas juntas, lutaram contra um monstro que surgiu para devastar toda a cidade. Entre uma página e outra, a união de forças pelo bem vence o mal.

"O que me chamou a atenção é a riqueza de detalhes que ele traz, sendo tão novo. As histórias têm começo, meio e fim, e sempre carregam uma mensagem", conta a mãe, que no dia a dia, registra outros contos no computador, a pedido do filho.

Até agora, já são dez histórias criadas por Benini, que segundo a mãe, poderão dar vida a outros livros. "A gente procurou publicar uma dessas histórias para estimular o Vitor e incentivar outros pais a ouvirem seus filhos, a dedicar mais tempo à leitura", afirma.

Para a madrinha, que é professora aposentada, as histórias de Benini representam "uma liberdade de expressão, pois tudo vem acontecendo de forma espontânea. A fantasia é a brincadeira dele", observa.

O envolvimento da família tem um capítulo à parte na vida do pequeno roteirista. Benini é uma em cada cem crianças que nascem com cardiopatia congênita. Aos 11 dias de vida, ele fez sua primeira cirurgia. Cinco meses depois, passou pela segunda e aos três anos e meio, a terceira.

"Ele foi para a escola aos 4 anos, pois antes disso, não podia ter muito contato com outras crianças e os passeios ao ar livre também eram limitados, pois ele se cansava rápido. Então, o Vitor sempre brincou muito em casa e a gente se preocupou em estimulá-lo com livros e brincadeiras", lembra a mãe.

Na teoria do psicólogo francês Jean Piaget (1896-1980) sobre o desenvolvimento cognitivo em crianças, há a defesa de que as crianças adicionam novos conhecimentos à medida que interagem com o universo ao seu redor. Para isso, se baseiam no conhecimento já adquirido, adaptando ideias.

Nos estágios cognitivos do desenvolvimento infantil, Piaget descreve dos 2 aos 7 anos, como o período em que as crianças desenvolvem memória e imaginação, e que dos 7 aos 11 anos, elas se tornam mais conscientes dos eventos externos e dos sentimentos dos outros.

Pedro Gusmão Moretto Próspero criou a história "O macaco medroso" em uma aula de produção de texto na escola, o livro foi lançado em 2016
Pedro Gusmão Moretto Próspero criou a história "O macaco medroso" em uma aula de produção de texto na escola, o livro foi lançado em 2016 | Foto: Marcos Zanutto




Nessa fase, aos 8 anos, Pedro Gusmão Moretto Próspero criou a história do "O macaco medroso" em uma aula de produção de texto na escola. Na narrativa, o macaco chamado Del tem medo de pular nos cipós. Em várias tentativas, Del cai no chão e o medo então, se soma o sentimento de vergonha, uma vez que os outros macaquinhos começam a tirar sarro de Del.

Mas o macaco não desiste e treina muito até conseguir dar um salto mortal de costas de um cipó para outro, mudando toda a história. "É uma lição de esforço e perseverança. Depois do livro, algumas crianças na escola também se interessaram em escrever", comenta Próspero, agora com 12 anos.

O livro foi lançado em 2016 e a mãe Viviani Gusmão M. Próspero, comenta que neste período, o filho passava pela fase da manifestação de medos. "Interpretei o texto como uma forma de expressão dele", diz a mãe, acrescentando que além da perseverança, o livro também traz a questão do bullying. "Achei tão bom que tive a ideia do livro e contei com a Lara Haddad para as ilustrações", completa.

A experiência em escrever um livro animou os dois pequenos autores, mas ainda é cedo para dizer se eles seguirão o caminho das letras. O fato é que compartilhar essas histórias para que outras crianças possam vivenciar suas fantasias, além de fomentar a imaginação, pode ser um incentivo para que pais e educadores repensem sobre seus papéis no estímulo à leitura e brincadeiras com os filhos, pois o despertar para a criatividade e compreensão do mundo é também uma questão de oportunidade.