Intrépida Trupe abre festival no àpera de Arame15/Mar, 15:56 Por Beth Népoli São Paulo, 15 (AE) - A escolha da Intrépida Trupe, o equivalente brasileiro do Cirque du Soleil canadense, tem tudo para abrir sob aplausos a 9.ª edição do Festival de Teatro de Curitiba no àpera de Arame. Isso porque a inusitada arquitetura desse teatro - construído em vidro e ferro à beira de uma pedreira, numa estrutura vazada que deixa à mostra a beleza da paisagem - exige um espetáculo feérico, capaz de atrair olhos e ouvidos para o palco. Exatamente o que promete ser "Kronos", a mais recente criação da trupe carioca, que conta a história do tempo por meio da mitologia. Dirigido por Beth Martins, Cláudio Baltar e Vanda Jacques, o espetáculo vai levar ao palco do àpera a linguagem do chamado circo moderno, uma mistura das tradicionais técnicas circenses - malabarismos e vôos rasantes no trapézio - com narrativa teatral. Irreverência - Entre os méritos da Intrépida está o de acrescentar o tempero da irreverência carioca ao domínio das técnicas circenses, arrancando gritos, risos e aplausos de espectadores de todas as idades. Por tudo isso, "Kronos" promete ser o espetáculo ideal para essa noite de abertura, cujo clima de festa aliado à arquitetura do àpera costuma atrair uma platéia dispersa. Há motivo para a ansiedade que costuma marcar a abertura do Festival de Curitiba. Afinal, nos próximos dez dias, apaixonados por teatro vão enfrentar uma verdadeira maratona, transitando entre dezenas de espaços teatrais na tentativa de acompanhar o melhor da uma vasta programação. Como nem o mais aficcionado espectador pode dar conta de toda a programação, o difícil é prever o melhor entre os 70 espetáculos disponíveis. Só na mostra paralela, o Fringe, são 46 espetáculos reunindo grupos teatrais de vários Estados do Brasil, do Maranhão ao Rio Grande do Sul. Sem falar na mostra Teatro dos Incluídos, criada este ano com o intuito de destacar criações que tenham as minorias como tema e, ainda, as peças dirigidas ao público infantil. Além disso, os organizadores do festival - Cássio Chamecki, Leandro Knoplfholz e Victor Aronis, sócios da Calvin Entretenimentos - mais uma vez apostam em estréias, 14 entre os 24 espetáculos da mostra oficial, que são sempre uma surpresa. A primeira delas, "Crimes Delicados", dirigida por Antônio Abujamra, poderá ser vista sexta-feira no Guairinha. Diversidade - Também estréia na sexta, no Teatro da Reitoria, a única atração internacional da mostra oficial, o espetáculo "Caesar". Dirigido pelo croata Branko Brezovec, a companhia traz na equipe técnica um cenógrafo esloveno e um figurinista macedônio. A mistura de etnias repete-se no elenco integrado por oito atores que interpretam textos de Shakespeare, Brecht e autores eslovenos e macedônios. Diante de tanta diversidade, uma das estratégias de escolha pode ser conferir novos espetáculos de artistas cuja capacidade de criação já foi testada em trabalhos anteriores. Opções não faltam. Seja no Fringe ou na mostra oficial há companhias, diretores e atores das mais diferentes linguagens teatrais. Gerald Thomas, Gabriel Villela, João Falcão, Antônio Araújo, Moacyr Góes e Marco Antônio Rodrigues são alguns dos diretores, cujos trabalhos merecem ser conferidos. O mesmo vale para atrizes como Denise Stoklos, também responsável pela dramaturgia e direção de "Vozes Dissonantes", o mais novo solo de seu teatro essencial ou grupos como a Companhia do Pequeno Gesto, que traz ao festival uma montagem de "Henrique IV", de Pirandello. Há também expectativa em torno de Anjo Duro, peça dirigida por Luiz Valcazaras, que estréia domingo no Teatro Paiol. O espetáculo marca a volta aos palcos da atriz Berta Zemel, que iniciou sua carreira interpretando Ofélia na montagem de "Hamlet", que consagrou o ator Sérgio Cardoso. Em "Anjo Duro", monólogo escrito por Valcazaras, ela interpreta a dra. Nise da Silveira, a psiquiatra que ousou lutar contra a tradicional prática de aplicação de choques elétricos e confinamento nos manicômios. Reflexão - Coincidentemente, um dos espetáculos da Mostra dos Incluídos, "Dédalus", pode ser considerado um fruto da luta da dra. Nise. Tendo a mitologia como tema, o tragicômico "Dédalus" foi desenvolvido no Instituto Casa para o Desenvolvimento da Saúde Mental e Psicossocial, com direção de Sérgio Penna e Renato Cohen e elenco integrado por atores da instituição. Contando com o patrocínio do Governo do Estado do Paraná e da Prefeitura de Curitiba, a 9.ª edição do Festival de Teatro de Curitiba não se restringe a uma sucessão de espetáculos. Palestras, debates, oficinas e exposições são sem dúvida parte importante da programação - afinal, por sua concentração de criadores, um festival propicia uma ótima oportunidade para refletir sobre a atividade artística.