O fim de equipes tradicionais do futebol paranaense deixou para trás um legado pouco atrativo e que marca o descaso com o patrimônio das cidades: o que fazer com os estádios, que já foram palcos de grandes jogos do futebol estadual?
A FOLHA visitou os tradicionalíssimos estádios Comendador Luiz Meneghel, em Bandeirantes, e o Regional de Cambará, ambos no Norte Pioneiro, e constatou o abandono e a depredação dos campos, casas dos extintos União Bandeirante e Matsubara.
Localizado na Vila Maria, o Luiz Meneghel, construído em 1964 pela família Meneghel, hoje serve de moradia para andarilhos e usuários de drogas. Em meio ao lixo e entulhos, acumulados onde funcionavam os vestiários, banheiros, bares, academia e lavanderia, se encontram as arquibancadas sujas e cheias de mato, a cobertura totalmente destruída e o antigo gramado, que hoje parece mais um pasto. O estádio não recebe sequer jogos dos times amadores da cidade.
Cercado por pequenos comércios e residências, o estádio da Vila Maria nem de lembra longe os dias de festa, que movimentavam a cidade nos grandes jogos. O que sobrou para os moradores foi a certeza do abandono deste patrimônio e o medo, com o vaivém dos usuários de entorpecentes, mesmo durante o dia. "É uma judiação ver o que se tornou o estádio. Aí podia muito bem ter uma escolinha para tirar esses moleques da rua. Infelizmente, temos que conviver com isso toda hora", conta o comerciante, Adaílton Rodrigues, 44 anos.
O aposentado Cristiano da Silva, 56, viveu de perto os grandes momentos do União, quatro vezes vice-campeão paranaense e extinto em 2006, e relembra jogos com equipes da elite no estádio. "Aqui já jogaram Grêmio e São Paulo pela Copa do Brasil e, hoje, nem um joguinho amador temos no domingo", lamenta.
CAMBARÁ
Construído pela Torcida Organizada Matsubara (TOM), entre os anos de 1979 e 1980, o Estádio Regional de Cambará, depois de vários anos abandonado, voltou para as mãos dos torcedores e começa a ser recuperado.
Diferente do estádio do antigo rival, o Regional conta com dois funcionários, que fazem a manutenção e cuidam do local. Tomado por pragas, o gramado recebeu tratamento e deve estar em condições de ser utilizado nas próximas semanas. A etapa seguinte será refazer a cobertura dos vestiários, já que as antigas telhas foram todas roubadas durante o período de abandono.
"O estádio carregava a cidade nos dias de jogos e era o cartão postal do município", recorda o caseiro João Ferreira, 57, que jogou na base do Matsubara e, que há poucos meses, retornou para cuidar do local onde defendeu as primeiras bolas como goleiro.
"Vendo isso aqui dá uma saudade tremenda. Era sempre cheio de gente e hoje é um abandono total", aponta o zelador Luís Gonçalves, que trabalhou por 16 anos no Matsubara. De forma esporádica, o time do São José, bairro onde se localiza o estádio, faz algumas partidas no local.
Se o Regional começa a ganhar vida novamente, não se pode dizer o mesmo da Vila Olímpica, que fica anexa ao campo e é composta por 12 casas, que serviam de moradia para os jogadores que atuavam no Matsubara, uma das melhores escolas de formação de atletas do futebol brasileiro.
Envolvidas em disputadas judiciais, as residências foram totalmente depredadas e viraram mocós. "As pessoas fazem de tudo lá dentro. Fumam, se drogam, fazem sexo e nós ficamos reféns aqui do lado de fora", revela o caseiro.