A queda de 0,8% registrada pela indústria em janeiro de 2019 ante dezembro de 2018 mostra uma continuidade do processo de menor dinamismo que marcou o segundo semestre do ano passado, avaliou André Macedo, gerente na Coordenação de Indústria do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O órgão divulgou nesta quarta-feira (13) os dados nacionais da PIM (Produção Industrial Mensal) referente o primeiro mês do ano. Em janeiro, o patamar de produção estava 17% menor do que o auge alcançado em maio de 2011, em nível semelhante ao de fevereiro de 2009.

O acumulado nos últimos 12 meses ficou em 0,5%, mantendo a perda de ritmo iniciada em julho de 2018 (3,4%). "As taxas estão se tornando menos positivas. Em julho passado a taxa era de 3,4% e agora está em 0,5%. A indústria está reduzindo a magnitude do crescimento.", explicou Macedo.

Na comparação com janeiro de 2018, a indústria recuou 2,6% em 2019, com quedas nas quatro grandes categorias econômicas. O nível de desemprego, com mais de 13 milhões de desocupados no país, redução nas exportações de segmentos importantes da indústria nacional e a crise da Argentina são apontados como fatores que explicam o desempenho da produção industrial.

O pesquisador lembra que a melhora na confiança do empresariado retratada por algumas pesquisas está muito mais calcada nas expectativas para o futuro do que na avaliação sobre a demanda presente. "E o mercado de trabalho está longe de mostrar qualquer tipo de recuperação, então as famílias também tomam decisão de adiar consumo", completou.

Para Macedo "ainda tem um ambiente de incertezas que faz com que decisões de consumo e investimentos sejam postergadas. Não por acaso bens de capital e bens duráveis vêm com saldo negativo importante acumulado", disse.

Na passagem de dezembro de 2018 para janeiro de 2019, a produção de bens de capital caiu 3%, o terceiro mês consecutivo de quedas, período em que acumulou uma perda de 10,2%. Em janeiro, houve redução na fabricação de caminhões e máquinas agrícolas.

Quanto aos bens de consumo duráveis, a produção cresceu 0,5% em janeiro ante dezembro, puxada pela fabricação de automóveis e de eletrodomésticos da linha marrom.

"Mas o crescimento está muito calcado em uma base de comparação depreciada, porque nos últimos dois meses de 2018 a categoria de uso tinha recuado 5,2%", ponderou Macedo. "O aumento na produção de automóveis também foi acompanhado de aumento de estoques, o que pode sugerir alguma redução de ritmo mais à frente", disse Macedo.

Os bens de consumo semi e não-duráveis (-0,4%) e bens intermediários (-0,1%) também recuaram no mês, com o primeiro revertendo o avanço de 0,4% de dezembro de 2018, quando interrompeu a série de quedas iniciada em julho de 2018 (-3,9%); e o segundo interrompendo dois meses consecutivos de alta, período em que acumulou ganho de 1,3%.

BRUMADINHO
O rompimento da barragem da Vale na Mina do Córrego do Feijão, na cidade de Brumadinho, em Minas Gerais, no dia 25 de janeiro, ainda não afetou os dados da produção industrial brasileira, mas têm potencial para impactar o desempenho dos meses seguintes, afirmou André Macedo. "Eu não colocaria na conta esse acidente de Brumadinho no resultado de janeiro. Claro que não estou descartando os efeitos disso mais à frente", explicou Macedo. A produção das indústrias extrativas recuou 1,0% em janeiro de 2019 ante dezembro de 2018. (Com Agência Estado)

Imagem ilustrativa da imagem Indústria começa o ano em queda
| Foto: Folha Arte