Fundada em agosto de 2020 em Londrina, a fintech Bankme surgiu com uma proposta inovadora: viabilizar a criação e operação de minibancos para médias e grandes empresas. O pioneirismo da proposta neste concorrido mundo das startups do mundo financeiro já chama a atenção de grandes investidores e, com apenas seis meses de funcionamento, já recebeu investimentos de R$ 20 milhões.

A primeira rodada terminou no início desta semana, com capital investido pela Target Venture.

Imagem ilustrativa da imagem Fintech londrinense que cria minibancos recebe investimentos de R$ 20 milhões
| Foto: Gustavo Carneiro

Para o sócio-fundador da Bankme, Thiago Eik, a evaluation confirma que Londrina chega, finalmente, a um lugar de relevância entre as startups financeiras. “Londrina ficava um pouco de canto em relação às fintechs. A maioria é de grandes centros, como São Paulo. Até onde temos conhecimento, nunca tinha havido uma fintech de relevância em Londrina. E este é tido como o mais promissor dos mercados de startups”, avalia.

Com o aporte em transações obtido, Eik e seu sócio, o advogado André Bravo, pretendem ampliar ainda mais a estrutura, investindo em tecnologia e aumentando o quadro de pessoal “Hoje estamos com 16 pessoas e a perspectiva é chegar ao fim do ano com 170”, diz Eik.

A fintech já se prepara para se mudar do imóvel que ocupa de 160 metros quadrados para outro de 800 metros quadrados. Em relação aos minibancos em operação, a expectativa é saltar dos atuais 12 para 70 - o que é bem possível, para uma empresa jovem que movimentou R$ 70 milhões em operações em 2020. “O caminho é muito recente, mas o negócio é muito inovador, porque nosso objetivo é permitir, a todas as boas empresas do país, que cada uma tenha seu próprio banco.”

Minibancos

Diferentemente de outras fintechs no dia a dia do brasileiro, como Nubak e Pic Pay, o Bankme não é voltado para o varejo. A proposta é viabilizar que empresas com faturamento a partir de R$ 60 milhões ao ano possam fazer operações de créditos, como empréstimos e antecipação de recebíveis para seus próprios fornecedores, a juros mais baixos e com menos burocracia que os bancos tradicionais.

Com bancos próprios, as empresas reduzem a burocracia e ainda fazem os próprios ativos aumentarem. As operações são executadas pela fintech e podem ser controladas por navegadores ou dispositivos móveis, em plataforma própria.

“Isso torna as compras muito mais eficientes, porque o comprador não precisa mais negociar prazo, o fluxo de caixa fica mais saudável e o financeiro dele, muito mais equilibrado, porque não chega um boleto de última hora para pagar. Nós criamos a plataforma em que nós criamos o minibanco e administramos. Nós fazemos tudo. O empresário não precisa contratar ninguém. Então, é muito eficaz”, diz Eik.

Empresas Simples de Crédito

A ideia de montar uma empresa para criar minibancos não é recente para Thiago Eik e o sócio-fundador da Bankme, o advogado André Bravo. Entretanto, a criação de financeiras que pudessem dar aporte a seus fornecedores era bastante restrita, para empresas com faturamento de R$ 2 bilhões ao ano.

O cenário começou a mudar após a sanção, no primeiro semestre de 2019, da lei complementar que instituiu as ESC (Empresas Simples de Crédito), criada justamente para descentralizar as concessões de crédito. Este novo modelo de negócio permite realizar operações de empréstimos e financiamentos, com capital próprio, mas voltado para MEI (microempreendedores individuais), microempresas e empresas de pequeno porte.

“Temos de repensar a cadeia produtiva”

A criação de um minibanco próprio pela Bankme foi um meio que o empresário londrinense Nivaldo Benvenho, da Midiograf, encontrou para auxiliar seus pequenos fornecedores.“Eu descobri que boa parte deles teve dificuldade em 2020 para obter crédito e os programas governamentais de fomento não chegaram até eles. Isso obrigou muitos deles a migrar para serviços de agiotagem e de factoring, pagando taxas abusivas, muitas das vezes”, conta.

Com essas dificuldades, os fornecedores passaram a pedir com mais frequência pagamentos à vista. “Mas, no meio da pandemia, não dava pra comprar a vista todas as vezes, com o fluxo de caixa da empresa”, afirma.

Então, conversando com Thiago Eik, Benvenho descobriu este novo sistema, em que a empresa cria um fundo e pode passar a financiar seus fornecedores, principalmente os menores, antecipando os recebíveis de compras a prazo, com uma taxa de juros sobre a antecipação de recebíveis mais baixa que a de bancos tradicionais.

“É um processo em que o empresário banca a compra a prazo para dar liquidez para seu fornecedor. Isso flui mais rápido, a inadimplência fica a zero, porque, se não pagar [a duplicata], não volta o título para ela, como num banco comum, porque garantidor é a própria empresa que fez a oferta de crédito”, explica Benvenho.

E complementa: “Parece um processo muito interessante. Nós [empresários] temos de pensar diferente na cadeia produtiva. Empresas maiores têm de sustentar seus fornecedores para manter uma cadeia saudável. E o Bankme permite fazer isso sem ter os custos de uma financeira.”