Naquela manhã, eu passava por um momento difícil, quando o telefone tocou. Do outro lado da linha, era Nicolás Mejía, superintendente da Folha de Londrina. Convidava-me para escrever uma coluna diária no jornal. Nunca me esquecerei desse telefonema — pois o convite de Nicolás marcou o nascimento da Avenida Paraná. De janeiro de 2016 até hoje, a crônica diária foi o coração da minha vida profissional. Em quatro anos, publiquei mais de mil textos. Isso dá um livro!

Imagem ilustrativa da imagem Não sei dizer adeus
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Mas todo livro tem sua última página. Escrever todos os dias não é uma atividade fácil; aliás, não é coisa de gente normal. Nos últimos 50 meses, eu respirei, pensei, amei, dormi e sonhei a Avenida Paraná. Todos os acontecimentos, dos mais graves aos mais corriqueiros, sempre me trouxeram a mesma pergunta:

— Será que isso dá uma crônica?

Em 1989, a saudosa professora Maria Helena Cavazotti Viana me ensinou as seis perguntas básicas do lead jornalístico: Quê? Quem? Como? Quando? Onde? Por quê? Toda matéria de jornal deve responder a essas questões. A crônica, por outro lado, responde à sétima pergunta do lead: — E daí? Foi justamente isso que eu tentei fazer desde o começo na Avenida Paraná: mostrar as consequências e os desdobramentos das informações que recebemos todos os dias. Para tanto, muitas vezes foi necessário lançar mão dos recursos da literatura e da imaginação; afinal, o que não pode ser imaginado não pode ser compreendido.

Nesse ponto, vali-me de outra lição preciosa. Meu mestre Olavo de Carvalho, o maior escritor brasileiro em atividade, sempre disse que é necessário escrever “com o coração nas mãos”. A palavra “coração”, aqui, não tem a conotação de sentimentalismo, mas o sentido de autoconsciência. Escrever com o coração nas mãos significa expressar-se com a máxima sinceridade, sem nenhum tipo de fingimento.

Agradeço, e muito, aos meus sete leitores. Sim, eu sei que eles são mais de sete. Tanto que me tornaram o colunista mais lido do jornal — o que não é pouco, considerando que nas páginas da Folha há mestres do ofício como Domingos Pellegrini e Luiz Geraldo Mazza. Porém, vale para o jornalismo o que vale para o cinema: nem sempre os melhores filmes têm a melhor bilheteria.

Agradeço aos meus críticos. Por três motivos: quando certos, eles me mostram o que devo mudar; quando errados, eles mesmo assim me dignificam com o seu tempo e a sua atenção; quando mal-intencionados, eles me mostram o caminho que devo evitar.

Agradeço ao já mencionado Nicolás Mejía, à chefe de Redação Adriana De Cunto, à edição do Cidades e a todos os colegas da Folha, sem exceção. Aqui eu tive uma liberdade e um apoio que só os grandes jornais podem oferecer. Nicolás e Adriana insistiram para que eu permanecesse; mas seria injusto — com o jornal, com os leitores e comigo mesmo — prosseguir sem poder me dedicar de corpo e alma à Avenida Paraná, como sempre fiz. É hora de seguir outros caminhos.

Como não sei dizer adeus, dedico esta coluna — e todas as outras — a Deus.