“Aí nós vamos tomar o poder, o que é muito diferente de ganhar a eleição.”

(José Dirceu, 2019)

Como meus sete leitores sabem, sou um apoiador crítico do governo Bolsonaro. Por isso mesmo, sinto-me no dever de apontar os erros do governo quando eles ocorrem. Foi o caso agora, com a nomeação de Regina Duarte para comandar a Secretaria Nacional de Cultura. Até o momento, não tenho motivos para questionar a honradez, o caráter e a inteligência da consagrada atriz, mas vejo, com tristeza, que as suas primeiras escolhas no exercício do cargo foram desastrosas.

Imagem ilustrativa da imagem Namoradinha da Esquerda
| Foto: Marcos Correa - Presidência da República

Depois da saída de Roberto Alvim — demitido com justa razão, depois de parafrasear Goebbels em um discurso —, recebi com alegria a notícia da indicação de Regina Duarte. Ela me parecia, àquela altura, a pessoa certa para administrar a cultura sem recair no dirigismo estatal ou no aparelhamento ideológico. O ideal é que a cultura caminhe com as próprias pernas; o Estado deve ser apenas um facilitador do processo. Como eu sempre digo, governo não escreve livro, nem compõe música, nem monta peça, nem pinta quadro. Quem faz isso são os indivíduos, movidos pelos valores que fundamentam a civilização. Propaganda política, panfletarismo, lacração — nada disso é arte, e muito menos deve ser financiado com dinheiro público.

Porém — ah, porém... — a primeira medida de Regina Duarte no cargo foi exonerar todos os diretores, presidentes e secretários especiais nomeados pela gestão anterior. Ela está em seu direito; mas, ao exercê-lo indiscriminadamente, Regina perdeu a chance de manter o excelente trabalho que vinha sendo feito pelo maestro Dante Mantovani na Presidência da Funarte e pelo professor Camilo Calandreli na Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura. Ainda espero, em Deus, que o historiador Rafael Nogueira seja mantido à frente da Fundação Biblioteca Nacional; ouso dizer que ele é um dos mais competentes quadros de toda a administração Bolsonaro.

Mas o pior não é isso. Como eu salientei, Regina Duarte está em seu direito ao constituir uma nova equipe. A questão é se essa nova equipe está alinhada com os valores que norteiam o governo Bolsonaro e com o projeto escolhido nas urnas por 57 milhões de brasileiros em 2018. Infelizmente, parece-me que a resposta é negativa. Após demitir os conservadores, Regina optou por nomear esquerdistas e representantes da burocracia cultural — esta que foi gostosamente inflada durante o Reinado das Tesouras (PT-PSDB). “Tá tudo dominado”, devem estar dizendo os companheiros. Reitero: não acredito que Regina seja uma traidora ou criptopetista; só acho que ela não entende nada de guerra cultural, e esse desconhecimento pode sair muito caro para o governo.

Bolsonaro vai repetir o erro de Golbery, que entregou a cultura, a mídia e a universidade de mão beijada à esquerda já nos anos 70? Espero que a Namoradinha do Brasil não se revele uma Namoradinha da Esquerda.