Imagem ilustrativa da imagem Dez anos esse cachorrinho
| Foto: Paulo Briguet

Há exatamente dez anos, em 10 de julho de 2009, dia do meu aniversário, cheguei em casa depois do trabalho e recebi o presente mais inesperado: um cachorrinho vira-lata. Rosângela acabara de resgatá-lo na rua, durante uma chuva forte.

Quando vi aquele serzinho peludo no sofá da sala, ao lado da Rosângela e de minha mãe, com cara de assustado e rabo entre as pernas, pensei comigo mesmo:

“Que feio!”

Com efeito, mesmo depois de tomar banho e receber os primeiros cuidados no veterinário, o vira-lata não constituía nenhum modelo de beleza canina. Magro e pequeno, tinha as patas compridas; a cabeça miúda era desproporcional em relação ao corpo; e os tufos irregulares da pelagem não contribuíam em nada para a harmonia do conjunto. O cachorro era tão estranho que nem parecia cachorro. Talvez fosse uma raposa, um cachorro-do-mato, um lobinho-guará. Acreditamos que era da espécie Canis familiaris porque o Dr. Ricardo disse; porém, só tivemos certeza mesmo quando o bicho latiu.

No dia seguinte, fomos passear com ele no jardim da Madre Leônia. Passava por ali uma moça, que ao vê-lo proferiu o seguinte comentário:

“Nossa, que Cisquinho!”

Até aquele momento, o cão não tinha nome. Dali em diante passou ser o Cisco. Oficialmente, na ficha do veterinário, é Francisco, mas ninguém o chama assim. Se tivesse o dom da fala (e ele quase tem), poderia dizer como o Agente 007: “Meu nome é Cisco, Fran Cisco”.

Não sabíamos, mas a chegada do Cisco era um anúncio em nossas vidas. Uma semana depois que ele chegou, a Rosângela descobriu que estava grávida do Pedro. Durante os nove meses de gravidez, ele foi um fiel guardião do nosso filho tão esperado. E permaneceu guardião depois do nascimento do Pedro: montava guarda diante do berço e soltava uivos de alerta quando o bebê chorava. Até hoje Cisco e Pedro são grandes amigos.

Todas as manhãs eu passeio com o Cisco. Assim que o Sol se levanta, ele vem me chamar. Creio que, somados, meus passeios com ele equivalem a uma peregrinação de ida e volta ao Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, no México. Durante os passeios, eu rezo. Um célebre neurologista, o Dr. Charcot, dizia que a verdadeira função do corpo é levar o cérebro para passear. Talvez a função do Cisco em minha vida seja equivalente: ele é que me leva, não sou eu que o levo.

E até aconteceu o inesperado. Graças aos cuidados da minha sogra, Dona Elia, o Cisco deixou de ser um cachorro feio! Eu não diria que ele se tornou um cão de vencer concursos de beleza, mas certamente está bem mais apresentável: gordinho, o pelo bem cuidado, o rabo esvoaçante.

Obrigado, Cisco, por tudo que você fez e faz por nós. Eu não sabia, mas naquele dia chuvoso estava ganhando um dos meus melhores presentes de aniversário.