A coluna de hoje tem por objetivo fazer um desagravo a um dos mais importantes políticos paranaenses de todos os tempos, o ex-governador Ney Aminthas de Barros Braga (1917-2000). O relatório da Comissão Estadual da Verdade do Estado do Paraná, publicado em novembro de 2014, cita o nome de Ney Braga em algumas passagens, relacionando-o a supostas violações de direitos humanos. A pedido do professor Marcus Vinicius Braga Alves, neto do ex-governador, analisei as passagens sobre Ney Braga no relatório da Comissão da Verdade e cheguei às seguintes conclusões.

Imagem ilustrativa da imagem Desagravo a Ney Braga
| Foto: Acervo do Museu Paranaense

ACUSAÇÃO 1: “Ney Braga comandou um massacre de trabalhadores de Porecatu (entre 1947 e 1950).”A Comissão da Verdade se baseou no depoimento de uma única pessoa, o sr. Antonio Santana, que estava com dez anos de idade na época e teria visto um caminhão com a carroceria coberta por um encerado sujo de sangue. Em depoimento à Comissão, a testemunha afirmou que Ney Braga era o “comandante da guerrilha”, mas o relatório afirma que Ney foi o comandante da ação que teria resultado na morte de guerrilheiros. Depois, sob juramento, a testemunha afirmou que os envolvidos na matança eram grileiros. Entre 1945 e 1948, Ney Braga era aluno da Escola Militar do Realengo (RJ). Entre 1949 e 1951, esteve aquartelado no Regimento de Artilharia Montada de Curitiba e participou do Conselho Estadual do Desporto. Não há qualquer registro nem testemunho de sua presença em Porecatu na época da repressão à guerrilha local. Note-se que a testemunha foi ouvida quase 60 anos após os acontecimentos.

ACUSAÇÃO 2: “Ney Braga puniu com aposentadoria compulsória o juiz Jorge José Domingos por ser seu adversário político.”O próprio Jorge José Domingos desmentiu o fato de que Ney Braga o teria perseguido, ao mencionar um ato de ofício do governador Ney Braga, em outubro de 1964, suspendendo a sua punição.

ACUSAÇÃO 3: “Ney Braga ordenou ação policial contra grevistas em novembro de 1979.”Mais uma vez, a acusação se baseou no relato de uma única testemunha, quase 40 anos após os fatos: o sr. David Pereira de Vasconcelos, à época operário da construção civil. A mencionada greve foi julgada ilegal. Em nota publicada à época, a Secretaria Estadual de Segurança afirmou que a ordem do governo era para evitar o confronto, mas que o papel da polícia era de proteger as pessoas, o patrimônio público e privado, e os próprios trabalhadores. A nota também pedia que o caminho do diálogo fosse retomado.

ACUSAÇÃO 4: “Ney Braga preparou Batalhão da PM para combater o governo do presidente João Goulart em 1962.”Pela terceira vez, a acusação se baseia meramente no relato de uma pessoa — o general Ítalo Conti —, que fala quase meio século depois dos supostos acontecimentos, sem nenhuma evidência documental ou mesmo lógica. Apoiador da posse de João Goulart em 1961, Ney Braga ademais nunca foi um “apoiador incondicional” da ditadura, como diz o relatório da “Comissão da Verdade”: foi contra o AI-5, opôs-se à cassação de adversários do regime e apoiou a emenda das eleições diretas em 1985.

Nos 20 anos de sua morte, é justo e necessário que Ney Braga, um homem que ajudou a construir o Paraná, seja publicamente desagravado. Afinal, ele não está mais aqui para se defender.