Não é por acaso que a Festa da Sagrada Face, instituída pela Igreja, coincide com a terça-feira de Carnaval. Nesta data, os fiéis católicos se dedicam a fazer reparações pelas ofensas a Jesus Cristo. Como todos viram, a face de Nosso Senhor foi aviltada e ferida de diversas maneiras durante os dias de folia.

Imagem ilustrativa da imagem As ofensas contra Jesus no Carnaval
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Para nós católicos, jamais foi motivo de escândalo ver Jesus e Maria apresentados com traços étnicos variados. Historicamente, a Sagrada Família possuía as feições do povo judeu. Mas, em diversas aparições e representações ao longo dos séculos, Jesus e a Virgem incorporaram características físicas de outros povos. O antiquíssimo ícone de Nossa Senhora de Chestokowa, padroeira da Polônia, retrata a Virgem e o Menino Jesus com a pele escura (que aqui simboliza os sofrimentos e perseguições vividos pelo povo cristão). Nossa Senhora da Conceição Aparecida, padroeira do Brasil, cuja imagem foi encontrada por três pescadores em 1717, tem traços africanos, como se pranteasse o horror da escravidão. Nossa Senhora de Guadalupe, que apareceu ao índio Juan Diego em 1531, tem traços indígenas e falava em língua asteca. Nossa Senhora de Akita, padroeira do Japão, possui feições orientais. E a ninguém ofendeu o Jesus negro no inesquecível “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna.

O problema está em apresentar uma imagem enganadora de Jesus para atacar o coração da fé cristã. Em nome da liberdade de expressão, criam-se enredos e situações que degradam e ridicularizam o Deus Filho, tentando associá-lo a crimes e pecados que Ele jamais cometeu ou cometerá. Chegam ao cúmulo de mostrar Jesus como mulher e Maria como homem, invertendo a estrutura da realidade definida pelo Criador. Em vez de elevar o homem a Deus, por meio do arrependimento e da conversão, os inimigos da fé tentam rebaixar Jesus ao nível do homem. Onde não existe lugar para o arrependimento e a conversão, também não haverá possibilidade de perdão e consolação.

No lugar da imitação de Cristo — recomendada pelos santos e mártires há dois mil anos —, alguns pretendem que Cristo imite o homem, inclusive nos piores vícios e fraquezas. Em nenhum lugar do Evangelho se verá Jesus Cristo condescendente com o mal ou com o crime. Muito ao contrário, o que Ele faz é oferecer a chance da redenção para os pecadores — ou seja, para todos nós. Como provam os últimos momentos do Calvário, não há perdão sem o reconhecimento do pecado.

A Sagrada Face representa os sofrimentos de Jesus no Calvário — sofrimentos que se intensificam em nosso tempo. A Quaresma que se inicia é a ocasião propícia para reparar essas ofensas, esses vilipêndios, essas blasfêmias contra tudo aquilo que mais amamos — nosso Deus, nossa casa, nossa família, nosso coração. É a hora de imitar o gesto de Verônica, e enxugar a face aviltada de Jesus.

Alegre-se! O bom ladrão foi salvo. Acautele-se! O mau ladrão se perdeu.