O clima de tensão entre brasileiros e venezuelanos ganhou proporção preocupante no último sábado (18) depois que acampamentos de imigrantes foram incendiados por brasileiros. O tumulto começou após um comerciante brasileiro, da cidade fronteiriça de Pacaraima, sofrer uma tentativa de assalto, supostamente praticada por um grupo de venezuelanos. Moradores da cidade atacaram barracas e abrigos, inclusive ateando fogo. Não há registro de feridos, mas após o ato de violência praticado pelos roraimenses, cerca de 1,2 mil venezuelanos cruzaram de volta a fronteira do País com o Brasil.

Nesta segunda-feira (20), o governo de Roraima voltou a pedir ao STF (Supremo Tribunal Federal) a suspensão temporária de entrada de imigrantes em território brasileiro. A intenção seria conter o clima de violência e evitar novos conflitos. Na ação cautelar, o governo estadual sugere o estabelecimento de uma "cota para refugiados". Autoridades de Roraima querem que o ingresso em território brasileiro esteja condicionado à execução de um plano de interiorização dos imigrantes, que deveria ficar a cargo do governo federal. Há outras exigências sugeridas pelo governo estadual, como a criação de barreiras sanitárias na fronteira, condicionando a entrada de imigrantes à apresentação de atestados de vacinas obrigatórias.

A tensão entre brasileiros e venezuelanos é mais um componente triste na dramática situação no país vizinho, que nesta segunda viu entrar em vigor um pacote de medidas do presidente Nicolás Maduro para tentar conter a inflação prevista para 1.000.000% em 2018 - situação enfrentada pela Alemanha em 1923 e pelo Zimbábue no fim da década de 2000.

Não é a primeira vez que o Estado de Roraima pede o fechamento da fronteira da Venezuela. A ministra Rosa Weber já indeferiu a solicitação, lembrando que a medida iria contrariar os tratados ratificados pelo Brasil e a Constituição Federal. O Brasil é um dos países onde os venezuelanos buscam refúgio contra a violência e a fome. Estima-se que um número muito maior de imigrantes tenha buscado uma vida nova na Colômbia, uma prova de que a crise na Venezuela afeta a todos os países da América do Sul. Episódios de xenofobia explícita não combinam com a fama do Brasil como país receptivo e cordial. O governo federal precisa encontrar uma maneira eficiente de lidar com o problema, integrando política externa com estratégias para facilitar o processo de interiorização dos estrangeiros.