Em artigo publicado recentemente nesta FOLHA ("Que país é este? É hora de mudar!"), abordei a degradação do debate público e as perdas que isso representa justamente em um período histórico de imensos desafios: a urgente reforma do Estado, o enxugamento do conjunto de leis que nos rege, a propagação de uma conduta mais solidária e altruísta nas relações entre pessoas e instituições.

Gostaria de aprofundar aqui esta abordagem, lembrando os ativos necessários para uma nova pactuação da sociedade brasileira.

Algo que perpetue os mais elementares sustentáculos da vida em sociedade, que inclui algumas bandeiras históricas de entidades de classe, guardiãs das liberdades econômica e individual, do associativismo em prol do bem comum.

Nada mais importa em nossas vidas se estes fundamentos estiverem em risco. A cultura do conflito é uma ameaça transversal. E se todos estão ameaçados, se todos estão vulneráveis sob qualquer perspectiva, a união é a melhor estratégia. Estamos diante de uma encruzilhada: ou passamos por reformas e avançamos ou seguimos o caminho das fraturas institucionais, uma lesão no civismo, de graves consequências.

Só iremos nos distanciar do abismo quando conseguirmos entender, de forma clara e sentimental, a beleza e a riqueza que é a diversidade e a complexidade humana.

Líderes e liderados não podem mais fugir da tarefa de reorganizar a esfera pública e refundar nosso código de relacionamento na esfera privada respeitando esta ideia basilar.

É preciso consenso e, antes, bom-senso. Não podemos jamais cair na tentação de colocar o mundo na cabeça. Temos que colocar a cabeça no mundo. Pensar menos no anel e mais na cruz. Explico: o anel representa a ilusão da vida completamente explicada, sem os grandes mistérios que nos fragilizam, representa a trajetória sem imaginação, a ideologia da perfeição, fechada ao imponderável. A cruz, por sua vez, representa as linhas infinitas, a perspectiva incontrolável, aberta e incompreensível. Em outras palavras, devemos priorizar a tolerância, a universalidade e o civismo.

O pensador Augusto de Franco ensina que a democracia – muito mais que o direito ao voto ou a rotatividade de poder – se caracteriza especialmente pelo interminável exercício da construção do consenso. Se a sua opinião é diferente da minha - e é válido que seja assim, você não é meu inimigo, mas simplesmente alguém que pensa diferente. É neste ponto que sua habilidade de convivência é testada. O respeito ao outro diante da divergência é o motor da paz.

A democracia aproxima a civilização humana da conciliação. Jamais duas nações democráticas se enfrentaram militarmente. Há sempre um país totalitário em pelo menos um lado dos lados da guerra. Evidentemente isso não é por acaso.

É tão somente na democracia que a disseminação do conhecimento é feita sem barreiras, uma propulsão à inovação e ao desenvolvimento sustentável.

Toda arte se dá na diversidade, na complexidade e na tensão humana, e, a grande arte, na captação do transcendental, do universal, do eterno. Como não ser conservador no que é eterno? Como exercer o livre arbítrio e o civismo, a não ser por absoluta livre escolha do indivíduo? "A essência do civismo é a consideração do coletivo no domínio do individual e não a submissão do individual ao coletivo (que é o coletivismo). Por esta razão civismo só existe quando há absoluta liberdade de escolha", dizia o saudoso mestre José Monir Nasser. Que Deus nos proteja e que os corações e mentes de todas as gerações estejam alinhados em bons propósitos. Sim, uma nova realidade é possível!

Claudio Tedeschi, presidente da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina)

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