Estudo mostra que das dez vias mais perigosas para os ciclistas, apenas duas possuem ciclofaixas
Estudo mostra que das dez vias mais perigosas para os ciclistas, apenas duas possuem ciclofaixas | Foto: Marcos Zanutto



Entre 2006 e 2016, pelo menos 2.400 acidentes com ciclistas foram registrados em Londrina. Uma média de 240 por ano e quase um por dia. Destes, 20 perderam a vida. Os números foram levantados no trabalho de conclusão de curso intitulado "Bicicleta e espaço urbano: a realidade das ciclovias e ciclofaixas como equipamentos de mobilidade urbana na cidade de Londrina/PR". A pesquisa mapeou os locais com maiores incidentes e propôs melhorias, como forma de garantir mais segurança para quem opta pela bicicleta.

"Queríamos entender a dinâmica das ciclovias e ciclofaixas na cidade, que é novo, em termos, já que desde 2006 existe um projeto sobre este tema. Como está tendo a revisão do Plano Diretor, observei que seria interessante abordar o assunto", justifica o geógrafo Matheus Oliveira Martins da Silva, responsável pelo estudo. Os dados foram apurados junto a base online do Siate e confeccionados por meio de mapas.

Também foi usado material do Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina), que em 2006 elaborou projeto prevendo a construção de cerca de 300 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas. Passados 12 anos, Silva aponta que somente 25 quilômetros foram executados. "A crítica não é ao projeto, que em si é muito bom, mas ao que foi feito pelo município até agora. Sabemos que se seguir esta projeção demorará dezenas de anos para termos o plano em pleno funcionamento", analisa. A pesquisa iniciou como projeto de iniciação científica e se estendeu para conclusão de curso na UEL (Universidade Estadual de Londrina).

O levantamento mostra que das dez vias mais violentas para os ciclistas, apenas duas possuem ciclofaixas. A "campeão" de ocorrências é a PR-445, com 104, seguida de avenida Dez de Dezembro (83) e Saul Elkind (76). Esta última conta apenas com 3,6 quilômetros de ciclovia, que está situada no canteiro central da via, com pouca sinalização e incompleta. A maioria dos acidentes aconteceu entre bicicletas e carros (1.448), em 500 ruas da cidade, com 11 óbitos. As avenidas e rodovias com mais incidentes também são aquelas com maior fluxo de ciclistas.

Imagem ilustrativa da imagem MOBILIDADE URBANA - Londrina tem 240 acidentes com ciclistas por ano



DESLOCAMENTO
Orientador do trabalho, Fabio César Alves da Cunha, professor doutor do Departamento de Geociências do CCE (Centro de Ciências Exatas) da UEL, explica que o trabalho identificou dois pontos essenciais sobre o assunto: falta de segurança para o ciclista e falta de conectividade entre as vias. "O ideal na mobilidade é que não tenham somente carros e ônibus, mas a oferta para o cidadão usar vários modais. Não é colocar ciclovia apenas como válvula de escape, mas para propiciar um trânsito melhor, facilitando o deslocamento para trabalho e estudo", alerta.

Última averiguação feita com ciclistas pelo Ippul identificou que 60% de 500 entrevistados usam a bicicleta para trabalho e estudo. O restante utiliza o veículo para lazer. "Atualmente, as vias estão priorizando mais o lazer e o esporte em detrimento de quem precisa como forma de locomoção para compromissos do dia a dia. O projeto inicial (do Ippul) passou por diversas alterações neste período. Em 2012, por exemplo, a cidade contava com apenas 12 quilômetros de ciclovias. Cerca de 1,8 quilômetros ficavam no entorno do Lago Igapó", diz Matheus Silva.