Rolândia - A cruz suástica é um dos símbolos mais fortes já criados. Inicialmente representava "sorte", "prosperidade" e "sucesso". Contudo, em função da Segunda Guerra Mundial e da "Solução Final para a Questão Judia" - eliminação dos povos judeus que ocupavam territórios alemães – passou a ter uma conotação totalmente negativa.
Na década de 1930, o pavilhão com a cruz suástica foi hasteado no Norte do Paraná. A região foi um local de concentração de simpatizantes do nazismo. Segundo o professor de História da Universidade Estadual de Londrina(UEL), Marco Antonio Neves Soares, boa parte dos simpatizantes do nazismo estavam em Rolândia (Região Metropolitana de Londrina). "Eram pessoas que já tinham se estabelecido em Santa Catarina, mas devido a um problema sanitário, a incidência de febre amarela, se mudaram para Rolândia", expõe.
Segundo o professor, um deles era August Nixdorf, que montou em Rolândia uma célula do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), conhecido como Partido Nazista. "August Nixdorf usava o termo alemão 'stutzpunkt' (base), ou seja, um ponto de apoio do partido em Rolândia. Não chegou a ser uma agremiação, mas uma célula. Os simpatizantes eram em pequeno número e não tinham muito problema em ostentar o apoio ao regime na Alemanha", declara Soares.
August exerceu grande influência na vida da Gleba Roland, como era conhecida Rolândia na época. Os primeiros imigrantes alemães vieram para cá por intermédio da Companhia para Estudos Econômicos Além-Mar, criada na Alemanha após a Primeira Guerra Mundial para solucionar a crise econômica que atingiu pequenos lavradores, incentivando a emigração. Um de seus presidentes foi Erich Koch-Weser, advogado e político liberal que foi um dos fundadores do Partido Democrático Alemão e que também atuou como Ministro do Interior, vice-chanceler e ministro da Justiça. No entanto, durante a Segunda Guerra Mundial, o governo alemão proibiu a saída de dinheiro da Alemanha e a solução encontrada por Erich Koch-Weser e Johannes Schauff , representantes da inglesa Companhia de Terras Norte do Paraná na Alemanha, foi realizar a chamada Operação Triângulo, por meio da qual os alemães sob risco forneciam o dinheiro para compra do material para a construção de uma estrada de ferro e, em troca, recebiam títulos conhecidos como "cartas de terra", que davam o direito de adquirir terras em Rolândia. Cerca de 400 famílias de origem alemã se estabeleceram na Gleba Roland entre 1934 e 1938, dos quais entre 80 e 120 famílias eram de judeus, inclusive assimilados e convertidos. Dessas famílias, 12 chegaram a Rolândia pela Operação Triângulo e tiveram acesso à terra.
"Sabemos que algumas dessas iniciativas não deram certo. As pessoas compraram o ferro, mas ele não foi entregue à companhia inglesa. Devido ao esforço de guerra, a Alemanha proibiu a negociação do material e aquelas pessoas cujo material não chegou nas mãos da companhia inglesa não obtiveram acesso à terra. Temos aqui no CDPH alguns depoimentos de pessoas que ao chegarem aqui, jamais imaginavam que seriam empregados domésticos ou lavradores que executavam serviço braçal no campo", relata.
Muitas delas, ao chegar ao Brasil, se depararam com símbolos nazistas como os pavilhões com a suástica do NSDAP e isso as aterrorizou. "Eles eram expostos nas efemérides ligadas às ações do partido como o aniversário do Führer. Há, inclusive, uma foto no dia do aniversário de Hitler em que a poetisa Maria Kahle (1891-1975) se apresentou em uma clareira aberta no meio da mata e declamou versos que tinha escrito em homenagem ao líder alemão", destaca Soares.
Maria Kahle nasceu na Alemanha em 1891 e veio ao Brasil em 1913, para visitar uma tia, mas não conseguiu voltar por causa do início da Primeira Guerra Mundial. Em 1920 voltou à Alemanha, e conheceu a ordem antidemocrática e antissemita "Der Jungdeutsche". Com a ascensão nacional-socialista, voltou à América em 1934 para fazer propaganda partidária do regime nazista nas colônias alemãs, entre elas, Rolândia.
Outro evento em que o pavilhão nazista foi ostentado durante a inauguração da escola alemã em Rolândia. Os refugiados judeus se sentiram incomodados com a exposição do pavilhão nazista e não se interessaram em colocar seus filhos na instituição. "A população que era perseguida, os refugiados, pouco vinha para a cidade, enquanto os que eram simpáticos ao nazismo permaneciam no centro do município", aponta Soares. Segundo o professor, os próprios judeus deram aulas para seus filhos ou contrataram professores. "Por isso, os confrontos entre os dois grupos são difíceis de serem localizados em Rolândia." (Leia mais sobre o assunto na página 2)