O cursinho comunitário pré-vestibular PPU (Passo a Passo para a Universidade), que conta com 26 voluntários - entre eles todos os professores -, aprovou 80% dos seus estudantes matriculados em universidades - como a UEL (Universidade Estadual de Londrina) - e faculdades privadas. A ação é mantida pela Congregação dos Oblatos de São José e foi criada por iniciativa de Ismael Giachini, da direção do CJV (Centro Juvenil Vocacional).

De acordo com Márcio Teixeira, agente pastoral da casa e coordenador técnico do cursinho, o projeto teve início em 2020, mas só foi possível ser feito de maneira presencial em 2022, por causa da pandemia de Covid-19. Ele diz que o foco da iniciativa é fornecer apoio religioso e social aos que necessitam de amparo. "A gente trabalha com a educação da juventude, seja ela no âmbito eclesial ou no âmbito social. [O projeto] se mantém pela igreja, na parte de custo e capital, mas os demais gastos e necessidades são supridos pelo 'Investe em Mim', que possibilita que as pessoas possam apadrinhar um aluno", relata.

O coordenador também ressalta que há uma prioridade dentro das vagas oferecidas. A proposta é incentivar uma maior diversidade, oportununizando grupos constantemente marginalizados pela sociedade.

"Nós temos 45 vagas para o cursinho. Alguns alunos saíram agora por terem ingressado em uma faculdade. Nós estamos com uma lista de espera e abrimos novas inscrições para essa lista de espera também. Os estudantes são de periferia, de escolas públicas e, para poder entrar, eles passam por uma seleção. Essa seleção garante os quesitos de escola pública, georreferenciamento [onde eles moram], público negro e negra, público indígena, LGBTQIA+ e, depois, vêm as vagas universais", diz.

"É um trabalho coletivo de muita qualidade. Direção, coordenação, professores, voluntários de secretaria e cozinha, e dedicação dos alunos. A ideia é uma educação integral humanizada. Eu costumo dizer que não ensinamos apenas para que passem nos vestibulares, mas que possam ser graduandos e profissionais que entendam seu papel no mundo, no cuidado com o outro. Além disso, a turma 2022 foi um presente, além de estarem no PPU, eles se envolveram em outros projetos da casa e às vezes passavam a tarde conosco, utilizavam o espaço para estudo. O CJV teve total sentido com a presença deles", valoriza.

As aulas - que acontecem de segunda a sexta-feira, das 18h55 às 21h55 - são ministradas na rua Darcírio Egger, 568, no jardim Shangri-lá B. Mais informações podem ser obtidas pelos telefones (43) 3227-0123 e (43) 98808-9565.

Imagem ilustrativa da imagem Cursinho comunitário aprova 80% dos estudantes em Londrina
| Foto: - Imagem cedida/ Arquivo PPU

DAR UM SENTIDO PARA OS ESTUDOS

Murilo Augusto Pancioni Silva, 18, não foi aprovado em apenas uma faculdade, mas em duas. Conhecendo o cursinho comunitário por meio de um amigo, o jovem obteve a aprovação no processo seletivo da UEL e conseguiu bolsa de 100% na Unifil (Centro Universitário Filadélfia) pelo Prouni (Programa Universidade para Todos).

"Eu passei em Ciências da Computação. No início [procurei o cursinho] por conta de ser um ensino extra e gratuito, já que não tinha condições de bancar um particular. Me dediquei mesmo aos estudos por uns nove meses", relembra.

Para ele, a iniciativa é fundamental para que mais pessoas tenham acesso ao ensino superior. "Além de influenciar a comunidade a estar disposta a ajudar o próximo, na vida dos jovens esse projeto social tem como função de guiar, dar um sentido para os estudos. Realmente, muitos ainda não sabem o que vão ser ou o que vão fazer da vida. O Centro Juvenil trabalha com profissionais que nos ajudam a nos entender melhor e, assim, a procurar os nosso próprios gostos e objetivos", afirma.

PROJETO QUE ACOLHER OS JOVENS

Tamiris de Carvalho Ferreira, que também tem 18 anos, foi aprovada para Geografia Licenciatura na UEL. Ela diz que tentou estudar sozinha em casa, mas percebeu que participar de um cursinho seria a melhor opção para chegar à aprovação. Foi procurando cursos gratuitos que ela chegou ao PPU. "Comecei a perguntar para alguns professores do colégio em que estudava se eles conheciam algum curso pré-vestibular gratuito e umas das professoras me disse que era voluntária no CJV como professora de Espanhol e me mostrou o projeto", recorda.

A discente, que conseguiu a vaga por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada), revela que a maneira humanizada que os profissionais tratam os estudantes foi um dos motivos para que ela permanecesse engajada por 11 meses.

"É um projeto que acolhe jovens, proporcionando a oportunidade de estudar totalmente de forma gratuita e entrar na universidade tão sonhada. Pode ser considerado um agente mediador para firmar compromissos coletivos em prol da melhora da comunidade", afirma a estudante.

RETRIBUIÇÃO À SOCIEDADE

O objetivo do projeto de gerar profissionais humanizados, defendido por Teixeira no início da reportagem, pode ser exemplificado por meio de Viviane Alexandrino, professora de Língua Portuguesa e Redação. A docente conta que o que lhe faz dar aulas sem nenhuma remuneração é o amor ao próximo e a retribuição à sociedade por ter se desenvolvido no ensino público.

"Como cria da escola pública, acredito que tenho meu dever social, ou seja, devolver para a comunidade algum conhecimento por ter tido a oportunidade de ter estudado, entrado em uma faculdade e, hoje, ser reconhecida pelo trabalho que exerço. Tive a oportunidade de estudar e fazer cursinho, pois um dia também se colocaram à disposição para me ajudar. Hoje, apenas retribuo", conta a professora.

Participando da iniciativa há quase um ano, ela revela que chegou ao projeto por meio da indicação de uma amiga, que também ministrava aulas no PPU. "Fiquei sabendo, pois uma amiga dava aulas de Português lá. Ela passou no vestibular e começou uma nova graduação em horário noturno. Assim, precisava de alguém para preencher o espaço. Como já queria fazer trabalho voluntário voltado para a educação e tinha horário disponível, topei ajudar", diz.

Alexandrino ressalta que o cursinho pré-vestibular Passo a Passo para a Universidade é de suma importância para incluir pessoas periféricas na vida acadêmica, aumentando as chances de aprovação e diminuindo as desigualdades que ainda existem, sejam elas finaNceiras, sociais, de gênero ou educacionais.

"Esse projeto oportuniza a inclusão social dos menos favorecidos financeiramente, fazendo-os ocuparem lugares como a universidade. Fico pensando como é difícil pagar um cursinho ou se sentir em desvantagem por ter estudado em escola pública e precisar correr atrás do prejuízo para estar em pé de igualdade com alunos com condições mais favoráveis. É uma alegria imensa para mim saber que alunos do cursinho voluntário passaram em cursos concorridos ou ganharam bolsas de estudo, porque tiveram uma oportunidade e se dedicaram. Universidade, seja ela pública ou não, é lugar de todos e deve ser ocupada, também, pelos menos favorecidos socialmente e financeiramente", conclui a docente.

*Sob supervisão de Fernanda Circhia, editora