Imagem ilustrativa da imagem Você não é bem-vinda, Judith Butler!
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A petição pública que pede o cancelamento da palestra de Judith Butler no Brasil contava até ontem com mais de 360 mil assinaturas. O autor da petição contra a rainha branca da ideologia de gênero é um jovem tradutor e ensaísta londrinense. Feito um Davi armado com sua funda e cinco pedrinhas lisas, Bernardo Pires Küster enfrentou uma das intelectuais mais poderosas do planeta, obrigando-a dar respostas defensivas na mídia nacional e internacional. O cronista conversou com Bernardo:

Você esperava que a petição fosse tão longe?
Jamais achei que essa ação teria a adesão espontânea de mais de 350 mil brasileiros, que manifestaram seu profundo desapreço à vinda de Butler ao Brasil. Surpreendeu-me a proporção que tudo isso tomou, e, por outro lado, nem tanto. Ação semelhante ocorreu em 2014/2015 na rejeição quase absoluta da ideologia nos Planos de Educação (Nacional, Estadual e Municipal). Londrina também a excluiu, pelo menos nominalmente, de suas escolas. Veja, a confecção da petição, juntamente com Guilherme Ferreira, da CitizenGo Brasil, foi uma oportunidade dada novamente aos brasileiros de unificar e tornar pública sua posição em relação à ideologia de gênero. Direcioná-la especificamente a uma pessoa foi a novidade, por assim dizer.

O que você diria a quem o acusa de promover a censura?
Primeiro, é bom deixar claro. Não se trata de censura, pois não temos esse poder, esse meio de ação, ou seja, o poder de veto; nem de boicote, pois não tínhamos a menor intenção de participar da palestra, nem sequer seríamos bem-vindos. É um protesto, um grande e barulhento protesto, como há muito tempo não se via por aqui. A direita jujuba, os tais liberais de direita, acreditam piamente que é possível vencer uma batalha cultural e, portanto, política, unicamente combatendo ideias. Essa é toda a fraqueza do liberalismo: vivem no abstrato, no debate de ideais econômicos, em teorias de Estado, querem o bem da economia e abdicam do essencial, da moral, da religião e da cultura. Esse é um erro mastodôntico que vem sendo cometido há mais de 40 anos no Brasil.

Se você tivesse a oportunidade de encontrar a sra. Butler, de que forma lhe explicaria que ela não é bem-vinda ao Brasil?
A petição já não seria o bastante? Recentemente, em uma entrevista a uma revista progressista brasileira, ela afirmou que "não podemos impedir o exercício da liberdade, mas podemos — e devemos — reunir mais pessoas". Bem, estamos apenas seguindo o conselho dela. Espero que Butler reconheça que, numa democracia, o contraditório é fundamental. Explicaria a ela que sua ideologia não nasceu em solo brasileiro, não é fruto de reflexões nacionais e foi sempre rejeitada em todo o nosso território. Por que ela, que é a causa mais próxima dessa ideologia política, acha que passaria incólume? Judith Butler está na defensiva. Nós retiramos uma acadêmica da obscuridade de seu escritório em Berkeley, Califórnia, e a jogamos na praça pública de debates, na qual ela nunca esteve tão desconfortável e temerosa. Sra. Butler, você não é bem-vinda. Já causou danos demais ao nosso país.