Imagem ilustrativa da imagem Relato de uma mãe indignada
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"Paulo, bom dia.

Gostaria de relatar a você e a seus leitores um fato ocorrido no último domingo que está causando grande consternação em minha família.

Sou mulher e mãe. Tenho dois filhos pequenos: a menina está com oito anos; o menino completou um ano. Sou bióloga, fiz mestrado em meio ambiente e doutorado em agronomia. Há quatro anos, eu e meu marido, que conheci na universidade, decidimos mudar para Guaravera e viver em um sítio da família, em busca de melhor qualidade de vida para nossos filhos. A vida no campo tem sido muito boa para nós.

Há muitos anos a família de meu marido mantém uma barraca de pastel na feira em Londrina. Aos domingos, adquirimos o hábito ajudar meu sogro na feira; meu marido e o irmão dele fazem isso desde a infância. No último domingo, decidimos levar a nossa filha conosco, a pedido dela mesma. Não o fizemos para que ela realizasse algum trabalho, mas para que estivesse junto com os pais e os avós, num ambiente familiar sadio e seguro. Em hipótese alguma queríamos explorar a nossa filha, a quem tanto amamos! Queríamos apenas que ela aprendesse como são as coisas. Temos plena noção dos limites que separam um domingo em família e a exploração da mão de obra infantil.

Mas... aconteceu. Sem a menor cerimônia, um homem desconhecido se aproximou de nossa filha — uma criança de oito anos! — e pegou no braço da menina. Meu sogro, que tem imenso amor pela neta, ficou revoltadíssimo e afastou o homem. Então descobrimos que ele é um conselheiro tutelar (seu crachá funcional estava encoberto por uma bolsa). Seguiu-se uma áspera discussão. O que era para ser um domingo feliz virou um pesadelo.

Estamos indignados, Paulo. Tanto pela abordagem inadequada do conselheiro quanto pela proibição de que nossa filha esteja conosco no ambiente de trabalho. Depois, quando procuramos as autoridades responsáveis, descobrimos que vamos sofrer dois processos: um pelo Ministério Público do Trabalho; outro por danos morais (contra o meu sogro, o avô zeloso que apenas defendeu a neta amada).
Estou revoltada e angustiada. Você tem um filho da mesma idade, deve imaginar o que sinto agora. Meu coração está nas mãos. A gente cria filhos com todo carinho, com todo amor, tentando fazer o melhor, tentando protegê-los das coisas erradas, neste país em que as pessoas roubam, mentem, matam... Mas nós somos uma família de bem, não fizemos nada de errado, e seremos obrigados a passar por isso! É uma injustiça muito grande.

Eles queriam que eu deixasse a minha filha em casa, navegando na internet e vendo televisão? Com tantas situações graves e sérias, com tanta violência praticada contra as crianças, o Conselho Tutelar não tem outras prioridades? Inúmeras crianças precisam de ajuda real e eles vão mobilizar a Justiça por um motivo desses?

Peço que me ajude, Paulo. Mostre o que aconteceu conosco a outras famílias, para que situações semelhantes não se repitam.

Apesar do que passamos, eu tenho esperança."