Imagem ilustrativa da imagem Reflexões sobre a tolerância
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Compartilho com vocês, meus sete leitores, alguns trechos da palestra que proferi na última quarta-feira, durante a mesa redonda do projeto "UEL – A Casa da Tolerância":

1. A tolerância vem a ser uma daquelas virtudes que não devemos declarar. Exatamente como se dá com a bondade, a honestidade e a caridade. O sujeito que se declara bom já está indo mal; o sujeito que se declara honesto nos faz ter mais cuidados com a carteira; e a melhor caridade é aquela que não possui testemunhas, a não ser Deus.

2. Se você é tolerante, parabéns, mas não está fazendo mais do que a sua obrigação. Por isso eu desconfio daqueles que apontam a intolerância como principal defeito de seus adversários. Na minha experiência, tenho visto que muitas vezes a acusação de intolerância — assim como a acusação de "discurso de ódio" — é usada apenas para negar ao adversário o direito de expressão. George Orwell dizia: "Jornalismo é tudo aquilo que alguém que não quer ver publicado. O resto é publicidade". Uma crônica de jornal contrária à ideologia de alguém pode assim ser considerada "discurso de ódio". Garanto a vocês que já aconteceu.

3. Qual é, no entanto, o limite da tolerância? Deixo a resposta para o filósofo romeno Andrei Pleshu. Ele ensina que ser intolerante com o tolerável é algo tão grave quando ser tolerante com o intolerável. Disse Pleshu numa palestra em 2003: "Quero apenas chamar a atenção para a necessidade imperativa de acrescentar à tolerância o discernimento, de não confundir o respeito à diferença com a ética dissolvente do vale-tudo". O intelectual romeno sentiu na pele o comunismo de Nicolai Ceausescu; certamente ele tem uma perfeita noção do que seja intolerável.

4. Da minha parte, só existe uma pessoa com quem eu devo ser absolutamente intolerante, em todas as circunstâncias: essa pessoa sou eu mesmo. Assim, com meu trabalho de cronista, busco realizar o sentido profundo da famosa advertência de Jesus no Sermão da Montanha: "Não julgueis para não serdes julgados". Não se trata de me abster de qualquer julgamento diante da realidade, o que seria impossível, mas de realizá-lo primeiramente no tribunal da minha consciência. Trata-se de buscar aquilo que é intolerável dentro de mim — e vencê-lo.

5. Embora não seja algo da minha especialidade, permito-me aqui fazer aqui um paralelo entre os famosos conceitos de liberdade negativa e positiva, de Isaiah Berlin, adaptando-os para o que eu chamaria de tolerância no sentido fraco e tolerância no sentido forte. Não nos cabe apenas estimular a convivência e o debate entre os diferentes; essa é a tolerância no sentido fraco da palavra – importante, mas insuficiente. O mais decisivo é encontrar um espaço comum em que o diálogo espiritual possa ocorrer livremente: e este espaço é o das grandes obras culturais. Ali se realiza o encontro com as inteligências criativas de todos os tempos, especialmente com os clássicos da literatura. Sim, meus amigos: a alta cultura é a Casa da Tolerância.
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