Imagem ilustrativa da imagem O padre que esteve no inferno
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Nos 50 anos da morte do Padre José Kentenich, várias passagens de sua vida foram lembradas pelos fiéis em todo o mundo. Hoje eu gostaria de narrar um episódio que envolve o Padre Kentenich e aquela que recebe o título Três Vezes Admirável: admirável Mãe, admirável Rainha e admirável Vencedora.

Durante três anos, Padre Kentenich esteve aprisionado pelo regime nacional-socialista no campo de concentração de Dachau, na Alemanha, onde enfrentou uma epidemia de febre tifoide, uma onda de fome e os constantes "transportes" em que grupos de internos eram levados para as câmaras de gás em Linz, junto ao rio Danúbio. Por várias vezes, esteve a um passo da morte.

Na época da grande fome no campo, no final de 1942, Padre Kentenich recebeu uma primeira remessa de alimentos após várias semanas. Continha dois ovos cozidos, 250 gramas de manteiga, algumas bolachas e palitos salgados. Sem dizer uma palavra, o Pai Fundador repartiu os alimentos com os amigos próximos, entre eles o Dr. Friedrich Kühr, político e economista alemão que fundou, em pleno Dachau, o Instituto das Famílias de Schoenstatt. Depois da guerra, Dr. Kühr viria a residir em Rolândia, nossa cidade vizinha. Seu corpo está hoje sepultado, como herói de Schoenstatt, no Santuário do Colégio Mãe de Deus, em Londrina.

Durante uma celebração clandestina, Padre Kentenich teve a ousadia de eleger Nossa Senhora como a "Rainha do Campo". Em uma de suas conferências no dormitório do alojamento 26/4, o Fundador de Schoenstatt falou sobre o papel dos sacerdotes em "tempos apocalípticos". Para ele, a Igreja contemporânea deveria moldar-se com as lições da "Escola de Dachau". Na visão de Kentenich, o campo de concentração era uma antecipação da situação geral da humanidade futura: um mundo coletivista regido pelos que voltaram as costas a Deus.

No dia 15 de dezembro de 1943, Padre Kentenich colocou-se na quinta fileira de prisioneiros do seu bloco em Dachau, para a costumeira chamada noturna. Naquela noite, o responsável pela chamada foi o temido chefe do campo, Von Redwitz. O militar nacional-socialista estava completamente bêbado. Caminhou alguns passos entre os internos perfilados, voltou-se para o Padre e disse:

- Por acaso, prisioneiro, você é alguma espécie de conselheiro espiritual?

- Não sou. Mas às vezes posso dar um ou outro conselho - respondeu o Padre, com a voz tranquila.

O rosto de Redwitz se anuviou:

- Como você ousa, padreco? Quer dar a mim, o chefe do campo, um conselho espiritual? Seu vadio! Eu vou lhe mostrar! Eu vou lhe enforcar!

Naquela noite, o nazista repetiu cinco vezes a última ameaça. Mas quem acabou sendo enforcado, em 1946, foi o próprio Redwitz, após o julgamento de Dachau.

Milagre? Este cronista de sete leitores permite-se supor que, naquele momento, a Mãe Três Vezes Admirável fez valer o seu título de Rainha do Campo, e evitou a morte de seu filho querido. Afinal, além de Mãe e Rainha, ela também foi Vencedora.

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