Imagem ilustrativa da imagem Conversa com mestre Monir
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Pergunta: Por que devemos sempre buscar mais cultura?
Professor Monir: Ortega y Gasset dizia que todo tigre, quando nasce, é o primeiro tigre do mundo. Ele não precisa de antepassados. Mas nós, ao contrário, não somos nunca o primeiro homem: há uma herança que foi deixada pelos que vieram antes de nós. Temos uma família muito antiga, que nos legou maravilhas. O fato é que materialmente nunca foi tão fácil viver no mundo; basta lembrar as dificuldades que nossos avós tiveram de enfrentar. As coisas materiais, o nosso mundo faz melhor; mas as coisas culturais eram superiores. Por isso, devemos ter respeito pelos nossos antepassados. Precisamos dar valor a essa herança. Se você descobrisse que um tio lhe deixou uma fazenda em Mato Grosso, não iria lá tomar posse? Então, por que não toma posse da "Paixão Segundo São Mateus", de Johann Sebastian Bach? Como ser humano, você tem direito a conhecer essa maravilha!
Pergunta: Por que a beleza é importante para a nossa existência?
Professor Monir: Os gregos identificaram uma doença chamada apeirokalia. Significa ‘abstenção de coisas belas’. Quando você não convive com a beleza, você pega apeirokalia. Se você deseja produzir a compreensão da verdadeira cultura, rodeie-se do que é belo. No Brasil, nós temos a falsa ideia de que o bonito é o caro, é o chique. Não é verdade. Com pouco dinheiro, você pode fazer uma casinha maravilhosa; mas o brasileiro faz uma casa horrível e fica pensando em botar mármore e granito naquela coisa medonha. Veja, eu conheço 362 dos 399 municípios do Paraná. As cidades paranaenses são em geral limpas, mas tem meia dúzia de cidades que são lindas: Rio Claro, Alvorada do Sul, Porto Vitória... cidades de sonho. Por isso, vale a pena ensinar as pessoas a fazer coisas bonitas: uma bela horta, um belo jardim, uma bela casa... O brasileiro precisa se acostumar a conviver com os padrões elevados. Uma das causas da nossa inviabilidade civilizatória é que nós desistimos de nos rodear de estímulos belos. E isso é apeirokalia. A recuperação do senso de estética deve ser uma das nossas prioridades.

Pergunta: Qual é o caminho percorrido pelo artista para produzir coisas belas?
Professor Monir: O caminho da contradição. Quando o artista descobre que não pode lutar contra uma força medonha que sai de uma profundidade inalcançável, ele concebe o projeto da arte como forma de sublimação dessa força medonha. Para você entender alguma coisa, você precisa pesquisar o contrário dessa coisa. A metodologia fundamental da filosofia — e também da arte — é a da contradição. As catedrais góticas são estruturas que se formatam pela contradição de forças opostas que se que se mantém juntas. As oposições das forças se anulam umas às outras e você vai como que produzindo uma escada para o céu. Esse é o significado da catedral gótica, e da escolástica. Uma argumentação de S. Tomás de Aquino ou uma peça de Shakespeare é uma espécie de catedral da palavra. Ambas são essencialmente dialéticas.
(As perguntas são imaginárias, mas todas as respostas foram extraídas de aulas do prof. Monir.)