Imagem ilustrativa da imagem Carta à minha noiva
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Rosângela,

Hoje comemoramos dez anos de casamento. Às sete da noite, faremos a bênção das alianças, trazidas até o altar pelo nosso amado filho Pedro. O local escolhido para a modesta cerimônia é o Santuário Eucarístico Mariano, na pequena igreja onde está Madre Leônia, a futura santa de Londrina e já santa de nossa rua. Convidamos, para este momento, alguns poucos amigos e os meus sete leitores. Seus pais estarão presentes no primeiro lugar da igreja; os meus, no primeiro lugar do coração.

Chovia muito no dia em que nos casamos. Você entrou na igreja, linda como sempre, ao som de trovoadas. Apesar das brincadeiras de meus amigos — "Só podia chover, afinal o Paulo está casando!" —, hoje eu sei que a chuva tinha um significado importante. Precisávamos da água, porque naquele momento decidimos plantar juntos a nossa eternidade. E eu digo, com alegria: ela já começou a brotar.

O amor não é uma paixão, não é um sentimento, não é uma construção social, não é uma ideologia: o amor é uma escolha — a escolha de viver para sempre. Como ensina o Padre Elias, ele decorre da liberdade humana. "O homem não consegue amar se não for capaz de escolher amar, e com essa escolha veio a possibilidade de escolher o oposto de amar."

E o oposto de amar, como ensinava Viktor Frankl, é nos encerrarmos em nós mesmos. O sentido da vida, segundo o grande psicólogo, sempre está além do eu, realiza-se no outro. Isso implica que amar não se reduz ao prazer e alegria; ele e ela são bem-vindos, mas comparativamente fáceis. A grande prova do amor está em suportar, com entusiasmo se possível, o inevitável sofrimento.

Não há amor sem compaixão. Sofremos juntos, porque acreditamos que, com o amor, não vamos morrer nunca. O casamento é, sob esse ponto de vista, um ensaio da ressurreição. Quando você se casou comigo, no fundo sabia que mesmo os meus defeitos — e eles são tantos! — um dia serão transfigurados em qualidades para apresentarmos a Deus.

E que alegria ter Madre Leônia tão perto de nós! Ela é a prova viva de que as pequeníssimas sementes — como as que ela plantou com Dom Geraldo — se transformam em árvores, e as árvores em bosques, e os bosques em florestas de amor. Hoje a obra de Madre Leônia está em cinco continentes. Mas, para isso, foi preciso que ela se tornasse uma esposa de Cristo.

Nossa obra, minha amada, não chegará não tão longe, mas alcançará o coração de algumas pessoas. O principal fruto destes dez anos é o nosso filhinho, que hoje caminha até o altar: as alianças trazidas pela aliança. Para mim, você sempre será aquela noiva que entrou sob as bênçãos da chuva na igreja do Coração de Maria; a diferença é que agora você tem ao lado um menino mensageiro chamado Pedro.

Pela tradição, os dez anos de casamento são as bodas de estanho. Por ser um metal maleável e com grande capacidade de adaptação, o estanho simboliza a compreensão mútua. Mas, em meu coração, nossas bodas serão para sempre bodas de papel, como foram em nosso primeiro ano de casados: para que nele o noivo possa escrever e reescrever as mesmas palavras indeléveis: — Eu te amo.