Imagem ilustrativa da imagem A professora de eternidade
| Foto: Paulo Briguet



"Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos."
(S. João 15,13)

Alguém já disse que coincidência é o nome moderno do Espírito Santo. Naquele dia, nada aconteceu por acaso. Quando estava indo para o trabalho, a professora Heley deu-se conta de que faltavam exatamente sete dias para a festa de Nossa Senhora Aparecida. No mesmo instante, pensou em seu filhinho. Desde que a tragédia acontecera, há mais de uma década, a dor no coração permanecia igual. Vieram outros três filhos, seus tesouros, mas a imagem do primogênito, inerte na água da piscina, jamais a deixaria. Então ela pronunciou silenciosamente as únicas palavras que a consolavam: "Ave Maria, cheia de graça..."

Tudo aconteceu muito rápido. No dia em que seu filhinho partiu, Heley sentira ódio da água. Agora o inimigo eram as chamas. Trazidas por um demônio, as labaredas começaram a consumir a sala onde as crianças estavam. Imediatamente ela começou a socorrer, um a um, os alunos que tanto amava. Enquanto passava um menino pela janela, sentiu a presença e o auxílio de um ser inefável, feito de luz e espírito. "Bendita sois vós entre as mulheres..."

Daí a uma semana, o país inteiro celebraria a Padroeira, nossa professora de humildade. No dia seguinte, o mundo lembraria o Milagre do Sol, ocorrido há 100 anos, nossa aula de eternidade. Em Aparecida e Fátima, a Mãe de Deus teve como alunos as criaturas mais frágeis e indefesas que se poderia conceber: três pescadores, três pastorzinhos. "Bendito é o fruto do vosso ventre..."

Enquanto Heley lutava contra as chamas, naquela que foi a aula mais importante de sua vida, notou que o assassino voltava para a sala de aula, com o firme propósito de completar o crime da maneira mais hedionda possível. Ele derramou combustível na sala e sobre si mesmo, como num batismo dos infernos. Então Heley percebeu que chegara a sua hora. Lançou-se contra o homem e lutou com ele, da mesma forma que Davi lutara com o anjo. Os corpos da heroína e do assassino foram tomados pelas chamas, e só por isso mais algumas crianças puderam fugir. "Rogai por nós, pecadores..."

Não é por acaso que Heley e heroísmo começam com a mesma sílaba. Três dias antes, havíamos recordado as palavras de Edith Stein: "O mundo está em chamas. A luta entre o Cristo e o Anticristo encarniçou-se abertamente. Por isso, se te decides por Cristo, pode-te ser pedido também o sacrifício da vida". A frase da santa filósofa alemã descrevia, de maneira exata, o heroísmo da professora Heley de Abreu Silva Batista e os acontecimentos destes dias. "Agora e na hora de nossa morte..."

Professora Heley, a heroína brasileira, agora está no Céu, ao lado das oito crianças que partiram com ela, sob o manto de Nossa Senhora. Pensei nisso ao contemplar o céu de Londrina — e, naquele momento, veio-me ao coração uma certeza suave: a dor de Heley não existe mais. Finalmente ela abraçou seu filho, o anjo que a ajudou a salvar tantas vidas na Creche Gente Inocente. Amém.