Cólicas menstruais muito fortes não são consideradas normais pelos médicos. Este pode ser um sinal de endometriose - uma doença que atinge cerca de 15% das mulheres brasileiras em idade reprodutiva e é uma das principais causas da infertilidade. Outro sintoma recorrente é a dor durante a relação sexual. A endometriose se caracteriza pelo crescimento do endométrio (tecido glandular que reveste o útero) fora do útero, na parede de órgãos como bexiga, intestino e outros. Este tecido sangra todo mês e as lesões, junto ao acúmulo de sangue menstrual na cavidade do abdômen causam fortes dores.
Considerada crônica, a doença não tem preveção e leva à perda de sono, cansaço, alterações de humor, depressão, tensão pré-menstrual e dor lombar. De acordo com o médico ginecologista Gustavo Vitorino, de Londrina, a maioria das mulheres não está bem informada sobre o assunto. ''Hoje há um acesso mais fácil à informação, mas ainda existem mulheres que não conhecem a doença. Em geral o médico levanta esta possibilidade durante a entrevista feita nos exames de rotina''.
Em função do incômodo, a endometriose interfere na qualidade de vida física, sexual e emocional da mulher. Estudos realizados pela Unicamp e pela Universidade de São Paulo (USP) apontam que a maioria das mulheres demora cerca de sete anos para diagnosticar o problema. Apesar disso, o ginecologista lembrou que nem toda cólica intensa é sinal de endometriose, mas é preciso investigar.
A endometriose não tem cura, e o médico disse que passa a suspeitar do problema quando a mulher não tinha cólicas ou tinha com pouca intensidade e a dor progride com o tempo. Vitorino explicou que o diagnóstico não é tão fácil de ser feito. ''Iniciamos a suspeita a partir dos sintomas. O ultrassom só mostra a endometriose quando há lesões importantes. Existem casos em que é preciso fazer uma ressonância magnética e um exame de sangue, mas a única maneira de ter certeza da existência da doença é fazendo uma cirurgia por videolaparoscopia'', disse. Segundo ele, se durante a cirurgia o diagnóstico for confirmado, os focos já são retirados.
O ginecologista explicou que a cirurgia promove a cura naquele momento, mas depois de alguns meses os focos voltam a aparecer, por isso há mulheres que passam pelo procedimento várias vezes. ''A questão da dor é complexa. Elas fazem a cirurgia para reduzir a dor, mas quanto mais vezes ela se submete a isso, maiores são as possibilidades de ela sentir dor posteriormente em virtude do procedimento cirúrgico''.
Os medicamentos são usados quando o médico tem uma suspeição clínica, mas a paciente tem sintomas menores. ''Não confirmamos tudo 100% para iniciar o tratamento medicamentoso'', disse. Segundo ele, não existe um tratamento que consiga interromper o desenvolvimento da doença porque ainda não se descobriu qual a causa da endometriose e por quê exatamente a mulher desenvolve o problema. ''É uma doença de teorias''. O médico afirmou que apesar das limitações atuais, o diagnóstico e o tratamento da endometriose evoluiu muito nos últimos anos, mas ainda faltam avanços nesta área.