Imagem ilustrativa da imagem Saúde 4.0 e a relação médico/paciente
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Os algoritmos e a saúde podem e estão caminhando juntos tanto na precisão de diagnósticos e procedimentos médicos, quanto na gestão de recursos, pessoas e todo o mercado. O desafio, porém, está na outra ponta dessa revolução, a da sociedade que, na opinião de profissionais que acompanham essas transformações, precisa descobrir novas formas de lidar com o mundo novo que está aí.

"Precisamos parar de fazer as mesmas perguntas, já que as demandas e as soluções disponíveis para esse novos tempos são diferentes e, claro, as respostas que buscamos também. Vivemos em um mundo novo em termos demográficos, epidemiológicos e tecnológicos, no qual tudo precisa ser repensado e reconstruído, inclusive, as bases da relação médico-paciente", aponta o médico e professor assistente da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo) Gonzalo Vecina Neto, que esteve recentemente em Londrina, onde falou para uma plateia de profissionais da área sobre o "Perspectivas do médico na saúde 4.0".

"As transformações tecnológicas que já são realidade e as que estão por vir trazem novas possibilidades de tratamentos para doenças até então incuráveis e muita precisão tanto do ponto de vista dos diagnósticos até manobras cirúrgicas. Mas como se dará o acesso à população ou de que forma os profissionais estão acompanhando isso são temas para tratarmos daqui para frente. Na esteira de cada solução nova vêm novos desafios, inclusive relacionados ao custo, já que há várias pesquisas bem-sucedidas só que para doenças tão raras, que sem escala são invalidadas pelo alto custo", constata o ex-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que veio a convite da Unimed.

Para os profissionais de saúde de todas as idades e especialidades, ele recomenda uma postura aberta a "fazer coisas diferentes". "Assim como os demais setores da sociedade, a Medicina está mudando radicalmente com o advento de tanta tecnologia que evolui mais rapidamente do que a nossa capacidade de absorver e utilizar. Por isso esses novos tempos exigem que busquemos soluções diferentes, primeiro para que a sociedade consiga usufruir de toda essa evolução e também porque tanto o paciente quanto o médico tendem a travar uma relação diferente, no qual ambos chegam a um acordo; há uma construção de que modo se dará esse tratamento."

Na visão do médico, esse é o caminho para se preservar aspectos fundamentais do exercício da Medicina como a confiança necessária na relação. "O paciente empoderado vem com uma série de conhecimentos, alguns pertinentes outros falaciosos que também se multiplicam na internet. Por isso que é fundamental aos médicos entenderem esse contexto e não agirem de forma unilateral, querendo impor um tratamento. A palavra de ordem desse processo é cocriação/coconstrução de tratamento visando saúde e bem-estar", ressalta.

No entendimento de Vecina Neto, é preciso aumentar a capacidade de enxergar todas essas transformações. "Não vamos parar de evoluir na capacidade de processamento de dados eletrônicos, o que nos confere um poder incrível de interferir no corpo humano com o auxílio de inteligência artificial", observa. "Hoje, os cientistas, por meio de uma técnica chamada de clustered, conseguem alterar a genética dos ratos manipulando o RNA dos vírus e introduzindo no corpo dos animais. Vencidas barreiras éticas, isso chegará aos seres humanos e em uma velocidade surpreendentes como muitas coisas que surgiram nos últimos dez anos. Para tudo isso, assim como nas demais áreas do conhecimento humano, faz-se necessária reconstruir a forma de fazer Medicina."

ROBÔ LAURA
Um dos exemplos de Saúde 4.0, que em 2016 passou a ser utilizado pelo Hospital Nossa Senhora das Graças de Curitiba e, atualmente, dezenas de hospitais no país usufruem da solução, alcançando 2,5 milhões de pessoas, é o Robô Laura, desenvolvido pelo analista de sistemas Jacson Fressatto, 38. Ele se debruçou no projeto após perder sua filha Laura com apenas 18 dias de vida, por conta de septicemia (infecção bateriana grave no sangue). O robô utiliza tecnologia cognitiva para salvar vidas, a partir de um software que consegue aprender analisando e até conversando com áreas operacionais de hospitais, embora possa ser adaptado para ambientes de manutenção e serviços industriais, por exemplo.

Com o robô, a gestão de risco se torna mais eficiente a ponto de reduzir em 5% o índice de mortes em hospitais. "Nosso modelo de negócios visa usar a tecnologia de modo tão eficiente a ponto de salvar vidas, mas o robô é perfeitamente adaptável a outros setores que demandam de gestão de risco, daí a sustentabilidade do nosso projeto que, para hospitais filantrópicos, trabalhamos com valores bem diferentes dos orçamentos para hospitais particulares visando garantir o acesso. A meta é que até 2020 o número de mortes por septicemia no Brasil caia em 5%", comenta. Estima-se que 250 mil pessoas morram no país, anualmente, por conta dessa infecção.

Fernando Zanetti, gestor comercial: grande revolução
Fernando Zanetti, gestor comercial: grande revolução | Foto: Gina Mardones



Duas décadas aprimorando a gestão
Em Londrina, há 20 anos a empresa Solus Saúde trabalha na missão de agregar à gestão de operadoras de planos de saúde a tecnologia disponível para melhorar processos administrativos de todas as vidas atingidas, seja dos prestadores de serviços, médicos cooperados ou usuários dos planos. A solução segue os padrões da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) e integra todos os dados contábeis e administrativos mais as atualizações das regras auditadas pela agência, a uma mesma base de dados (plataforma), o que simplifica a visualização de todas as áreas a partir de uma arrojada arquitetura de informação.

"Hoje é difícil imaginar a loucura que era para uma grande operadora administrar o quanto iria pagar aos médicos em determinada data, já que o sistema não dava esse extrato em tempo real, como a nossa solução oferece. Foi e é uma grande revolução que agregar valor ao serviço como um todo", avalia o gestor comercial da Solus Saúde, Fernando Zanetti, ressaltando que mesmo em tempos de crise a empresa tem crescido. Atualmente, conta com uma carteira de clientes formada por 150 empresas, distribuídas em 23 estados. (M.M.)