Já imaginou usar uma impressora 3D para criar ovários sintéticos? Pois essa foi a descoberta de cientistas da Universidade do Noroeste, em Chicago (Estados Unidos), anunciada recentemente. O grupo de pesquisadores desenvolveu próteses de hidrogel feitas em impressora 3D e iniciou os estudos com camundongos. A parte interna dos ovários foi extraída, deixando os animais inférteis. Em seguida, eles implantaram a prótese, formando um ovário sintético. As fêmeas foram fecundadas naturalmente e deram à luz filhotes saudáveis, revelando a possibilidade de restaurar a função ovariana em ratos esterilizados.

De acordo com a publicação do estudo, a estrutura do ovário foi montada camada por camada de hidrogel, considerando o tamanho e o formato dos poros da estrutura para que os folículos ovarianos pudessem aderir a ela. Cerca de uma semana depois, o ovário sintético já estava vascularizado, o que permitiu seu desenvolvimento, isto é, o processo de ovulação, em que o óvulo é liberado para ser fecundado.

Em publicações internacionais, os autores afirmam que esse é o primeiro passo para a criação de uma bioprótese de ovário, "que pode apoiar a produção hormonal e a fertilidade em seres humanos que não possuem essa função, o que inclui milhares de mulheres que estão em tratamento de quimioterapia e radiação."

Os testes ainda não foram realizados em humanos, mas o grupo de cientistas acredita que futuramente isso será possível. "Nossa esperança é que um dia essa bioprótese ovariana seja realmente o ovário do futuro. O objetivo do projeto é ser capaz de restaurar a fertilidade e a saúde endócrina para jovens pacientes que foram esterilizados por seu tratamento contra o câncer", disse Teresa Woodruff, uma das autoras do estudo.

PESQUISA
Outro estudo apresentado recentemente no Congresso anual da Asco (American Society of Clinical Oncology) trouxe uma nova perspectiva sobre gravidez após o câncer de mama, incluindo os tumores positivos de receptores de estrogênio (ER), considerado o tipo mais comum de câncer de mama. Os resultados da pesquisa, que envolveu 1.200 mulheres acompanhadas durante dez anos, revelaram que elas são capazes de gerar um filho sem aumentar o risco de desenvolverem novamente o tumor.

O fato de a gravidez aumentar as chances de recorrência do câncer de mama, especialmente em mulheres com doença ER-positiva, sempre foi uma preocupação entre pacientes e médicos, uma vez que o câncer ER-positivo é alimentado por estrogênio e os níveis hormonais durante a gravidez podem estimular o crescimento das células cancerosas ocultas. No estudo, o autor principal e oncologista, Matteo Lambertini, afirma que os "achados confirmam que a gravidez após câncer de mama não deve ser desencorajada, mesmo para mulheres com câncer ER-positivo."

No entanto, ele ressalta que "ao decidir quanto tempo aguardar antes de engravidar, os pacientes e os médicos devem considerar o risco pessoal de cada mulher para recorrência, particularmente para as mulheres que precisam de terapia hormonal adjuvante."

O estudo incluiu mulheres que foram diagnosticadas com câncer de mama não metastático antes de 2008, menores de 50 anos. A maioria (57%) apresentava câncer ER-positivo e mais de 40% apresentavam fracos fatores prognósticos. Das 1.207 participantes, 333 engravidaram. O tempo médio desde o diagnóstico até a concepção foi de 2,4 anos. As mulheres com câncer de mama ER-positivo tendem a atingir a gravidez mais tarde do que aqueles com doença ER-negativa; 23% dos pacientes com doença ER-positiva apresentaram uma gravidez superior a cinco anos do diagnóstico em comparação com 7% naqueles com tumores ER-negativos.

Na publicação do estudo, a oncologista especialista em câncer de mama da Asco, Erica L. Mayer, diz que "esses dados garantem aos sobreviventes do câncer de mama que ter um bebê após um diagnóstico pode não aumentar as chances de seu câncer voltar. Para muitas jovens de todo o mundo que querem crescer e expandir suas famílias, é uma notícia muito reconfortante."

Lambertini ressalta que "é possível que a gravidez possa ser um fator protetor para pacientes com câncer de mama ER-negativo, através de mecanismos do sistema imunológico ou mecanismos hormonais, mas precisamos de mais pesquisas sobre isso."