A Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) é um dos problemas mais comuns no aparelho digestivo e afeta a qualidade de vida de cerca 12% da população brasileira, segundo especialistas. Até hoje, essas pessoas contavam com dois tipos de solução: o tratamento clínico, com medicamentos e mudanças na rotina, ou a cirurgia. Agora, o tratamento de refluxo ganha uma nova alternativa no Brasil. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já autorizou o implante do dispositivo Endostim, que promete pôr fim ao refluxo com um procedimento minimamente invasivo.
Antes de chegar ao estômago, os alimentos passam pelo esôfago. Entre os dois órgãos existe uma válvula que se abre para dar passagem aos alimentos e se fecha, imediatamente, para impedir que o suco gástrico atinja o esôfago. "Em algumas pessoas, esse esfíncter entre o esôfago e o estômago é menos eficiente e acaba permitindo que os alimentos voltem, provocando sintomas como azia e queimação", explica o cirurgião do aparelho digestivo Ricardo Kaoru Nakamura.
A nova técnica consiste na implantação de um dispositivo na região do esfíncter inferior do esôfago para contraí-lo através de estimulação elétrica, corrigindo seu funcionamento. "O Endostim é similar ao marca-passo cardíaco, com eletrodos que são posicionados no esfíncter e ligados a um estimulador que fica sob a pele", explica a gastroenterologista e professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Caroline Saad Vargas.
Segundo ela, o implante é feito através de videolaparoscopia, um procedimento pouco invasivo e com menos chances de complicações. A manutenção do equipamento também é bastante simples. "O estimulador pode ser programado para aumentar ou diminuir a duração dos ciclos de impulsos elétricos, sem a necessidade de um novo procedimento. A cada seis ou sete anos, é necessário apenas trocar a bateria, que fica subcutânea", conta a médica.

INDICAÇÕES

O procedimento atende pacientes que não conseguiram resolver o problema apenas com medicamentos, mas também não são casos de indicação cirúrgica. Segundo ela, cerca de 40% das pessoas com DRGE não conseguem eliminar os sintomas apenas com medicamentos, mas nem todos eles podem se beneficiar da nova terapia. "Se for caso cirúrgico, como paciente com hernia de hiato volumosa, o Endostim pode não ser eficaz. Mas se o paciente atender a alguns critérios, certamente ele se beneficiará do tratamento", explica.
O tratamento, segundo a especialista, não impõe nenhuma restrição ao paciente e traz uma série de benefícios. "Ele pode se alimentar normalmente, fazer atividades físicas, passa a dormir melhor. O foco é melhorar a qualidade de vida do paciente",garante.
Caroline é a responsável pela seleção de pacientes com DRGE para indicação de Endostim e conta que esse tratamento será feito em poucas regiões do País, incluindo o Paraná. "Será feito apenas em centros de referência em refluxo. Um deles é em Ponta Grossa", afirma.
A terapia do Endostim já é realizada na Alemanha, Suíça, Holanda, México e Argentina e está em fase de testes nos Estados Unidos, segundo Caroline. Por aqui, os primeiros procedimentos devem começar a ser feitos ainda neste mês, por enquanto, apenas em clínicas particulares.

ARGENTINA

O programador brasileiro Sebastian Garcia, que vive na Argentina há 26 anos, é um dos 300 pacientes que já receberam o dispositivo no mundo. "Eu sempre tive problemas de acidez e sofri por muitos anos achando que era normal. Tomava medicamentos, mas não resolvia", conta.
Apenas três anos atrás Garcia descobriu que tinha refluxo e que poderia passar por cirurgia para resolver o problema. "O médico me disse que eu poderia ser operado da forma mais comum, que é a fundoplicatura, ou poderia implantar o Endostim, que na época estava sendo autorizado na Argentina. Eu optei pelo segundo", conta.
A mudança a partir da cirurgia, segundo ele, foi geral. "Mudou tudo. Agora posso comer qualquer coisa e não tenho acidez, a menos que eu coma muito ou coma errado, o que faz mal a qualquer pessoa sem refluxo. Antes, qualquer coisa me dava acidez", compara Garcia.