Alberto João Zortea Junior com alunas da equipe de pesquisa: "Os insucessos são de 2% em uma fase inicial de fixação, mas se trabalharmos em uma faixa de 10 anos pós-instalação dos implantes, chegare
Alberto João Zortea Junior com alunas da equipe de pesquisa: "Os insucessos são de 2% em uma fase inicial de fixação, mas se trabalharmos em uma faixa de 10 anos pós-instalação dos implantes, chegare | Foto: Gina Mardones



Uma das maiores inovações na Odontologia foi descoberta ao acaso. A osseointegração (integração físico-química entre o titânio e o tecido ósseo) foi observada pelo ortopedista sueco Per-Ingvar Brånemark há meio século, e hoje é aplicada mundialmente e em larga escala, na reabilitação de perda dentária. Apesar de não haver registros oficiais sobre o número de implantes realizados no Brasil, estima-se uma média de três milhões de procedimentos por ano. Um número que evidencia a área de Implantodontia, mas também traz alguns questionamentos a fim de alcançar resultados cada vez melhores.

Já se sabe que alguns indivíduos, por exemplo, apresentam um agrupamento de insucessos nos implantes dentários e isso vem despertando a atenção de pesquisadores para a avaliação de possíveis causas. Algumas dessas respostas podem surgir de um projeto de pesquisa desenvolvido em parceria pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e a University of British Colúmbia (UBC), no Canadá.

Intitulado "Variáveis associadas ao insucesso de Implantes Osseointegrados Orais", o projeto faz parte da pesquisa de pós-doutoramento de Alberto João Zortea Junior e conta com a participação de professores doutores e alunos do curso de Odontologia da UEL. "O índice de perdas dos implantes osseointegrados nesses últimos 50 anos vem diminuindo bastante. Hoje, os insucessos são cerca de 2% em uma fase inicial de fixação, mas se trabalharmos em uma faixa de 10 anos pós-instalação dos implantes, chegaremos a 8% de perda. Então, começamos a buscar caminhos para entender o porquê de algumas perdas e de alguns indivíduos apresentarem esse agrupamento de insucessos", aponta Zortea.

Emerson Venancio, um dos coordenadores do estudo, explica que o agrupamento é quando um mesmo indivíduo tem um número acentuado de insucessos, que podem ser justificados por dois grandes grupos de fatores. "Um deles é biológico, como a genética, e o outro está associado aos implantes, como marca, habilidade do cirurgião dentista, isto é, uma série de fatores inerentes ao ato de fazer implante", resume Venancio, acrescentando ainda outros elementos a serem investigados como a presença de doenças prévias e até aspectos psicoemocionais.

Imagem ilustrativa da imagem Por que há perdas de implantes dentários?



A pesquisa vem sendo desenvolvida há dois anos e os resultados serão a longo prazo. Na fase inicial, foram levantadas as fichas clínicas de 370 pacientes, com análise prévia do índice de sobrevivência desses implantes. "Nesta segunda etapa vamos fazer uma análise clínica e biológica desses indivíduos", comenta Zortea, que filtrou os pacientes atendidos em seu consultório, em mais de 30 anos de experiência em Implantodontia. "Isso é importante para a pesquisa porque um dos fatores que poderiam influenciar é justamente o profissional que executou os implantes", completa Venancio.

Neste processo serão coletados dados referentes a fatores de risco sistêmicos (história médica e uso de medicações de uso crônico), avaliação da presença de marcadores inflamatórios no sulco gengival e saliva, verificação do índice de higiene oral e análise de algumas alterações genéticas.

RESULTADOS PRÉVIOS
Zortea comenta que existem algumas pressuposições iniciais pelos resultados extraídos das fichas clínicas dos pacientes, mas que serão confirmadas com uma investigação mais abrangente.

A mestranda em Odontologia, Ana Poletto, que integra a equipe de pesquisa, diz que as primeiras impressões relacionam o comprimento dos implantes; o número de dentes remanescentes, isto é, quantos menos dentes a pessoa tinha, mais falhas ela apresentava; e a localidade, ou seja, a região posterior do maxilar e mandíbula.

Em relação à perda de dentes nesses pacientes, a equipe verificou como causa comum o histórico de má higiene bucal e, consequentemente, problemas de cárie e periodontais. "Esse é um projeto de, no mínimo, 10, 15 anos de estudo e a parceria com o Canadá é importante para agilizar esse processo. Pelos números de insucessos serem pequenos há uma impressão de que essas informações não têm tamanha importância, mas se pensarmos no número de implantes executados no Brasil e no mundo, esse percentual de insucesso acaba sendo muito grande", sustenta.

Além disso, Zortea lembra que os implantes osseointegrados são utilizados em diversas áreas da medicina, como na recomposição de membros artificiais. "Algumas descobertas desta pesquisa podem ser transpostas para outras áreas de utilização dos implantes osseointegrados, principalmente os fatores genéticos que possam estar influenciando nos insucessos", observa.

Em breve, uma pesquisadora da University of British Columbia virá a Londrina avaliar o trabalho de pesquisa na UEL e alinhar o método de interseção de resultados.

Entidade mira segurança dos materiais
Além dos aspectos que estão sendo avaliados no projeto de pesquisa da Universidade Estadual de Londrina (UEL), a qualificação profissional e a procedência dos materiais também têm impacto nos resultados dos implantes dentais.

Pensando nisso, a Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo) negocia junto a entidades do setor odontológico a obrigatoriedade de uma carteirinha para os pacientes, por meio da qual informações de rastreabilidade do produto possam ser fornecidas.

Em um artigo publicado recentemente, a entidade informa que cerca de 30% dos quase três milhões de implantes dentais realizados em média por ano no Brasil são feitos com produtos ilegais. O superintendente da Abimo, Paulo Henrique Fraccaro, cita que "levando em conta que o mercado de implantes é de 2,9 milhões de unidades e o de componentes é duas vezes esse número temos mais de 2 milhões de peças irregulares circulando."

Durante uma palestra sobre o tema, o coordenador da Equipe de Inteligência e Contra Inteligência da Coordenação de Segurança Institucional da Anvisa, Marcel Figueira, afirmou que os produtos visados pela pirataria na Odontologia são os implantes, os componentes e o ferramental. Conforme a publicação, Figueira diz que cerca de 1,2 mil dentistas e protéticos estão em processo de análise.

Outro aspecto relevante para o sucesso do implante dentário é, segundo o especialista em Implantodontia em Londrina, Lauro Sakurai Junior, o cuidado com a higiene. Ele, que observa no dia a dia complicações relacionadas aos implantes, diz que os cuidados pós-implante são indispensáveis. "É um pós-operatório similar ao processo de extração, que requer cuidados na alimentação e na higiene, com escovação e uso de fio dental. Além disso, é importante visitar o dentista periodicamente, pois dependendo do implante há recursos adicionais para limpeza", comenta. (M.O.)