Especialista em reprodução humana há mais de 40 anos, Osmar Henriques, de Londrina, ressalta que a mensagem mais importante é de que o tratamento de câncer não impõe um final ao desejo de ter filhos. "Hoje, muitos pacientes nos procuram antes do tratamento por orientação dos oncologistas, o que é um sinal de que está existindo uma conscientização", aponta Henriques, do Centro de Reprodução Humana de Londrina.

De acordo com o especialista, o método atual para "preservar" a fertilidade é o congelamento de óvulos e espermatozoides. A mulher é submetida a uma hiperestimulação (uso de hormônios através de injeções) para impulsionar o crescimento da maior quantidade de óvulos. O procedimento dura cerca de 10 minutos e é feito por punção, com anestesia ou sedação.

No homem, esse preparo não é necessário. Na primeira coleta, o embriologista verifica se há uma quantidade boa de espermatozoides, caso contrário, mais coletas serão realizadas. O material passará por um processo de vitrificação, que faz o congelamento em segundos e será preservado em nitrogênio líquido, por tempo indeterminado.

Segundo Ricardo Marinho, ginecologista especialista em reprodução humana, a reprodução assistida é oferecida em alguns serviços públicos no Brasil, mas a maior parte ainda sem a medicação para estimular a ovulação. "Porém, a questão da logística é um complicador, pois esses pacientes têm que ser atendidos rapidamente, pois precisam colher os óvulos e espermatozoides antes de iniciar o tratamento oncológico. O serviço público tem fila e o acesso a esse procedimento pode demorar anos", salienta.

Ele acrescenta que há a possibilidade de usar alguns medicamentos em mulheres durante a quimioterapia, para suprimir alguns hormônios, mas que a literatura ainda busca confirmar a efetividade do método. "Enquanto não há uma medicação que proteja totalmente o ovário, a gente pode guardar óvulos para que quando o oncologista liberá-la para engravidar, ela utilize os óvulos congelados para fertilizá-los com o sêmen do marido e transferir para seu útero", comenta.

Marinho também comenta que uma inovação na área, mas em caráter experimental, é a de congelar um fragmento do tecido ovariano, que futuramente poderá ser reimplantado no organismo. "Se estabelecida, poderia ser talvez, uma opção para pacientes mais jovens que ainda não estão ovulando."