Sabrina Aparecida Terra Sena e o marido Maycon Roberto Vicente: à espera de João Ricardo
Sabrina Aparecida Terra Sena e o marido Maycon Roberto Vicente: à espera de João Ricardo | Foto: Anderson Coelho



A dedicação de mais de 20 anos em estudos sobre a endometriose trouxe ao ginecologista Claudio Crispi, uma certeza. "Os médicos precisam ter uma visão completa das pacientes, acolhendo e buscando um tratamento mais humano, para garantir qualidade de vida a essas mulheres", revela. É com esse olhar que o especialista vem a Londrina, participar do 2º Mutirão de Endometriose Profunda, nos dias 3 e 4 de novembro, no HCL (Hospital do Câncer de Londrina).

Além de falar sobre a doença para o público em geral, ele irá operar três pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde) junto a uma equipe multidisciplinar, com o objetivo de instruir cirurgiões no que ele chama de sistematização para garantir a segurança e o resultado esperado da cirurgia. "Não é raro as pacientes com endometriose profunda serem operadas mais de uma vez. Essa é uma das cirurgias mais difíceis e a ideia é justamente fazer com que seja reprodutiva de maneira segura e completa", comenta.

A doença é considerada um caso de saúde pública, pois atinge 15% da população feminina entre 15 e 45 anos, em todo o mundo. A OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que atualmente são 176 milhões de mulheres diagnosticadas.

A SBE (Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva) descreve a endometriose como "doença ginecológica caracterizada pela presença de tecido semelhante ao endométrio fora do útero, ou seja, em qualquer outro lugar do corpo".

Na pelve feminina, este tecido pode acometer as trompas, ovário, peritônio, bexiga, intestino, fundo da vagina, entre outros. E pelo estímulo dos hormônios femininos sofre pequenos sangramentos, o que provoca uma intensa reação inflamatória e explica a dor intensa experimentada pelas mulheres.

Com o comprometimento do aparelho reprodutor, a doença diminui a capacidade da mulher de engravidar. A infertilidade é, então, uma das principais consequências da endometriose.

Pensando em todo o impacto causado na saúde das mulheres, Crispi reforça a importância do diagnóstico precoce, pois destaca que no Brasil a detecção ocorre comumente após 10 anos do seu aparecimento.

Ainda de acordo com o especialista, quando uma mulher relata um dor fortíssima de cólica, as chances dela ter endometriose são de 90%. "Se há um aumento do fluxo menstrual e dor na relação sexual, as chances são de 98%", enfatiza.

MÚLTIPLAS QUEIXAS
Ginecologista em Londrina, Francisco Lopes é um dos coordenadores do mutirão e acrescenta que a endometriose pode gerar queixas que nem sempre estão relacionadas à parte ginecológica, fator que implica também no diagnóstico tardio.

Entre as possibilidades, além das bem estabelecidas – cólica intensa, dor na relação sexual e infertilidade - o ginecologista cita abortamentos no primeiro trimestre de gestação; infecção urinária e candidíase de repetição; alterações intestinais próximo ao período menstrual; comprometimento do sistema imunológico; hipotiroidismo etc. "Hoje, temos exames específicos como ressonância e ultrassom com preparo, que na presença e interpretação de profissionais bem treinados podem apontar focos de endometriose", comenta.

SERVIÇO:
A palestra sobre endometriose com o professor Claudio Crispi é aberta ao público e acontecerá no dia 4 de novembro, às 14h, no auditório do Hospital do Câncer de Londrina (rua Lucila Balalai, 212)

O retorno da fertilidade após a cirurgia
Sabrina Aparecida Terra Sena estava há quatro anos tentando engravidar, mas não imaginava que a dificuldade tinha um nome: endometriose. "Antes, eu achava que tinha relação com o fato de ter tomado anticoncepcional por muitos anos", lembra.

A boa notícia é que, dependendo do grau da endometriose, o tratamento cirúrgico renova as chances das mulheres que desejam engravidar. Segundo a SBE (Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva), "a retirada das lesões e das aderências permitem uma melhora da qualidade de vida com diminuição ou extinção da dor e retorno à fertilidade em grande parte das mulheres com a doença."

A moradora de Jaguapitã (Região Metropolitana de Londrina) passou por cirurgia em março de 2017 com o ginecologista Francisco Lopes. Mas antes disso, conta que foi atendida por diferentes médicos e que a cada consulta recebia uma resposta em relação ao tratamento da doença. "Cheguei a tomar remédios, mas não funcionou", afirma.

Cerca de dois meses depois do procedimento, Sena e o marido Maycon Roberto Vicente receberam a notícia que tanto aguardavam. "Eu estava grávida, me sentindo ótima. A gente se sente cada dia mais realizada", diz ela, na 27ª semana de gestação.

O pequeno João Ricardo não imagina o quanto foi aguardado, mas de dentro da barriga da mãe já figura uma história que merece ser compartilhada para trazer esperança e alegria para outras mulheres que têm a doença e desejam ser mães.

A endometriose é responsável por cerca de 50% dos casos de infertilidade nas mulheres do mundo inteiro. Realidade que reforça ainda mais a importância do diagnóstico precoce e o tratamento adequado. (M.O.)

'Doença pode reaparecer, mas vai levar anos'
O tratamento da endometriose depende de vários fatores, a começar pelo grau da doença. Por isso, o ginecologista especialista na doença, Claudio Crispi, explica que apesar de o tratamento ser exclusivamente cirúrgico, não significa que todas as mulheres precisarão operar. "É possível interromper o ciclo menstrual através do uso de anticoncepcional para dar conforto e qualidade de vida à paciente, pois ele vai diminuir a cólica menstrual e a velocidade do crescimento da doença", afirma.

Questionado sobre a recidiva da endometriose, Crispi é enfático. "A cirurgia precisa ser suficiente para remover toda a doença. Já atendi uma moça que foi operada 15 vezes porque os procedimentos foram incompletos, seja pela falta de experiência da equipe ou porque o diagnóstico prévio não foi adequado", diz.

O profissional reconhece, entretanto, que se a endometriose tiver foco celular, ou seja, microscópico, o cirurgião não conseguirá ter acesso. Nesse contexto, "a doença pode reaparecer, mas vai levar anos. No mínimo, de sete a dez", salienta.

As três cirurgias programadas no mutirão são casos de endometriose profunda (presença de lesões com mais de 5mm de profundidade). Apesar de raro, Crispi afirma que a doença, se não tratada, pode virar um câncer, principalmente na endometriose ovariana. (M.O.)