Apesar das indefinições que circundam o Linfoma de Hodgkin (LH), uma coisa é certa: ele é altamente curável. Cerca de 80% dos casos têm sucesso no tratamento de primeira linha, baseado em quimioterapia. Esse tipo de câncer que se origina nos gânglios do sistema linfático é considerado raro, com uma incidência em torno de três pessoas a cada 100 mil brasileiros. Porém, na faixa etária dos 15 aos 35 anos é a neoplasia mais comum. Então, apesar de poder acometer indivíduos de qualquer idade, ele é mais prevalente em jovens. A estimativa do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) para novos casos é de 2.470, sendo 1.460 homens e 1.010 mulheres.

Os gânglios estão espalhados pelo corpo e agem como filtros do sangue na defesa contra vírus e bactérias. Em alguns casos, os linfócitos (tipos de células de defesa produzidas na medula óssea) presentes nos gânglios podem sofrer mutações e se transformarem em células cancerígenas.

Pesquisador da doença há 15 anos, o hematologista Otávio Baiocchi, de São Paulo, observa que por se tratar de uma neoplasia não muito agressiva e de instalação lenta, as pessoas geralmente não dão valor ao surgimento de algum sinal. "É bastante comum o paciente, durante a consulta, contar uma história de meses com os sintomas", conta Baiocchi, chefe de Oncologia e coordenador do Grupo de Linfoma da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

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'Eu não sentia absolutamente nada'

Além disso, a inespecificidade da causa, dos fatores de risco e dos sintomas torna o LH um grande desafio também para os profissionais da saúde. "Os pacientes não buscam o hematologista de imediato e sim o clínico geral ou otorrinolaringologista, por exemplo. Se estes médicos não pensarem em Linfoma de Hodgkin, o encaminhamento ao especialista não acontecerá", analisa.

Sendo assim, é importante que a população fique atenta ao aparecimento de gânglios aumentados, popularmente chamados de íngua. Os mais conhecidos estão localizados na região do pescoço, axila e virilha. Associado a essas ínguas, pode haver quadros de febre, geralmente vespertina, perda de peso, plurido (coceira pelo corpo) e sudorese noturna importante. Em relação aos fatores de risco, Baiocchi diz que ainda não há uma definição.

"Diferente de outros tipos de câncer que estão relacionados, por exemplo, ao tabagismo, etilismo e sedentarismo, no Linfoma de Hodgkin, até por acometer bastante os jovens, normalmente os indivíduos estão saudáveis", aponta o especialista.

Quanto à causa, Baiocchi afirma que alguns estudos apontam hipóteses como relação viral ou com radiação, mas até então não foi identificado nenhum agente específico. "E também o fato da mãe, irmã ou filho ter tido Hodgkin não quer dizer, de maneira alguma, que há uma predisposição na família", completa.

Imagem ilustrativa da imagem Linfoma de Hodgkin é mais frequente entre os jovens


TRATAMENTO
De acordo com o hematologista, há 30 anos não havia nenhum tratamento novo para o Linfoma de Hodgkin. Hoje, os pacientes que não respondem à 1ª e 2ª linhas de tratamento disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) têm a 3ª linha como opção, que é a terapia-alvo.

Essa terapia teve autorização da Anvisa há cerca de dois anos e não está disponível no SUS. "Ela é revolucionária porque até então havia muito pouco a se fazer por aqueles que não respondiam à 2ª linha de tratamento", comenta. Segundo Baiocchi, no Hodgkin há um marcador específico que se chama CD30 e a droga, cuja substância ativa se chama brentuximabe vedotina, "vai liberar um anticorpo que irá atingir as células que expressam CD30, que neste casos são as células malignas", explica.

No entanto, a maior parcela dos pacientes, em torno de 70% a 80%, se beneficia da 1ª linha de tratamento, que é a quimioterapia. Os demais 20% ou 30% que não respondem ou recidivam continuam com o tratamento (2ª linha) com quimioterapia de resgate.

Nos casos em que os pacientes sejam elegíveis há o transplante autólogo de medula óssea. "É um procedimento muito seguro e não há perigo de rejeição, justamente por lidar com a medula do próprio paciente. Porém, em torno de 5% a 10% dos pacientes não respondem a este tratamento e a tentativa de cura então se estende para a terapia-alvo", sustenta.

O uso do medicamento costuma ser em média durante um ano. "A resposta é muito boa. Para esses pacientes que não respondem ao transplante, a gente consegue resultados em torno de 83%. É claro que ainda há um percentual de pessoas que não tem retorno com a medicação ou que volta a apresentar a doença", sinaliza.

Nesses casos, Baiocchi cita o transplante alogênico aparentado (irmãos) ou não aparentado (banco de doadores) de medula óssea. Vale lembrar que as opções de tratamento vão depender de alguns fatores, como a idade e estado clínico do paciente, tipo, extensão e localização do câncer.

GRAUS DE GRAVIDADE
Segundo o Inca, há mais de 20 tipos e subtipos de Linfoma não Hodgkin (LNH) com graus de gravidade, causas e sintomas. Nas últimas décadas, o órgão vem observando um aumento de casos, especialmente em indivíduos acima de 60 anos, embora possa acometer pessoas em qualquer idade, incluindo crianças.

Os sintomas são semelhantes ao LH, assim como o diagnóstico. A diferença entre os dois tipos está nos aspectos da neoplasia, que são avaliados na biópsia. Os tratamentos comumente prescritos são quimioterapia, radioterapia ou ambos.