Imagem ilustrativa da imagem Grupo oferece apoio a neuróticos



Funcionando em Londrina desde 2013, o N/A (Neuróticos Anônimos) é um grupo que oferece apoio a pessoas que sofrem com problemas emocionais. As reuniões acontecem às sextas-feiras, na Paróquia São Vicente de Paulo, na avenida Madre Leônia Milito, na zona sul da cidade. No Brasil, são quase 5.000 grupos anônimos.

Autodenominando-se irmandade, o N/A se fundamenta no programa sugerido pelos Alcoólicos Anônimos. É composto por 12 passos que levam o indivíduo à recuperação, 12 tradições que orientam os grupos e garantem sua unidade e o anonimato, sete lemas que norteiam o dia a dia dos participantes e três legados, que assumidos garantem a continuidade dos anônimos e a estabilidade de cada membro.

Em Londrina, o grupo começou pela iniciativa da administradora de empresas Stella Lima e de seu esposo, Paulo Macedo. O casal começou a frequentar as reuniões do N/A em 2011, na cidade de Apucarana (Centro-Norte). Stella foi procurar ajuda para o esposo, que havia sido diagnosticado com depressão. "Quando comecei a participar das reuniões, fazendo companhia para ele, vi que eu também era doente, pois tenho distúrbio de ansiedade", conta.

Em razão da distância, eles resolveram iniciar as reuniões na cidade."No N/A as pessoas chegam, dizem o que sentem e ninguém fala nada, no sentido de advertir ou de indicar o que fazer. É um grupo que dá apoio para quem realmente precisa. Isso acontece após lermos a literatura do dia e da troca de informações e experiências. Isso é importante, porque através do meu depoimento, a pessoa pode pegar como exemplo e tentar melhorar", explica.

De acordo com Lima, a evolução em que possui emoções que interferem em seu comportamento só acontece quando a pessoa aceita que é doente. "Não temos 'poder' de médico e nem de psicólogo. Somos todos leigos, que estão em busca de ajuda e de ajudar", pontua. "Também não temos nenhuma vinculação religiosa. Usamos o espaço da igreja pois frequentamos a paróquia e o padre nos autorizou."

Atualmente, cerca de 15 pessoas participam das reuniões ativamente. Nos encontros, faixas etárias, classes sociais e sexos ficam do lado de fora, valendo apenas os problemas de cada um. "Conseguimos perceber que a pessoa doente não costuma assumir responsabilidade porque a doença tirou isso dela. Vemos também que existe muito preconceito. A própria palavra neurótico é forte e faz com quem participa tenha vergonha de falar", acredita Stella Lima, que se declara como uma neurótica em recuperação.

Recentemente, o grupo começou a oferecer apoio também na zona norte de Londrina, com reuniões todos os domingos em uma capela no conjunto Violin. Foi um participante da irmandade que frequenta desde o início quem resolveu levar a iniciativa para esta outra localidade.

SERVIÇO
O Neuróticos Anônimos tem reuniões às sextas-feiras, às 19h30, na avenida Madre Leônia Milito, 545, e aos domingos, às 8h30, na rua Ibis, 44.

'Hoje sei me cuidar melhor'

"Quando comecei a participar das reuniões, vi que tenho distúrbio de ansiedade", conta Stella Lima
"Quando comecei a participar das reuniões, vi que tenho distúrbio de ansiedade", conta Stella Lima | Foto: Saulo Ohara



Foi de repente que o jovem de 27 anos, que prefere não se identificar, sentiu as consequências de uma vida acelerada. No fim de 2012, após o encerramento do ano letivo da faculdade de engenharia, ele teve um surto psicótico, o que assustou o rapaz e sua família. "Foi algo muito forte e que tive que ficar afastado de tudo por cerca de 80 dias. Fui para a casa dos meus pais me cuidar", relembra.

No início, o quadro foi diagnosticado como esquizofrenia, doença que gera delírios, alterações do pensamento e da afetividade, além da diminuição da motivação. "A partir deste episódio comecei a tomar remédios e procurei tratamento médico com terapeuta e psicóloga", conta. "Mesmo melhorando, me sentia muito sozinho. Para mim faltava alguma coisa."

Neste momento, o rapaz começou a pesquisar, na internet, grupos que pudessem ajudá-lo. Foi então que descobriu o Neuróticos Anônimos. Já são dois anos frequentando as reuniões ativamente. "No começo sentia um pouco de vergonha por estar lá. Porém, com o tempo, vi que era preciso levantar a cabeça e que não adiantava ficar pensando no que aconteceu. O grupo me ajudou muito nisso e deu a chance de um autoconhecimento muito grande", destaca.

Após o susto, ele afirma que passou a respeitar seus limites, dosando as atividades, principalmente as relacionadas ao trabalho, para que não venha sofrer novamente com problemas emocionais. "Hoje sei me cuidar melhor que antes. Faço o que preciso, prático esportes, trabalho e namoro. Busquei retornar minha rotina, de forma menos acelerada e levar uma vida normal", relata. "Os médicos me falaram que evoluí da esquizofrenia para bipolaridade", comemora.(P.M.)