Imagem ilustrativa da imagem Entidade alerta para aumento de casos de erros em procedimentos estéticos
| Foto: Gina Mardones
"Não vou dizer que quando o médico faz não exista complicação porque acontece. Mas ele sabe tratar o que possa advir do procedimento", argumenta Lígia Martin, presidente da Sociedade Paranaense de Dermatologia



O mercado de beleza e estética, um dos poucos ilesos diante da crise econômica, tem crescido vertiginosamente. Isso tem atraído profissionais de diferentes áreas, mas também tem promovido novas preocupações. Diante do crescente número de erros cometidos por profissionais despreparados, a Sociedade Paranaense de Dermatologia alerta para os riscos da realização de procedimentos estéticos complexos fora dos consultórios médicos.
O culto à beleza tem levado à multiplicação de procedimentos estéticos, realizados não só por médicos, mas por fisioterapeutas, bioquímicos, dentistas e esteticistas. A falta de preparo de alguns desses profissionais tem provocado verdadeiras tragédias. "Tem crescido muito o número de pacientes que chegam aos consultórios buscando ajuda para consertar erros de profissionais despreparados", afirma a presidente da Sociedade Paranaense de Dermatologia, Lígia Márcia Mário Martin. "Não é reserva de mercado, não estamos querendo defender nosso ganha-pão. Estamos preocupados com a irresponsabilidade ao lidar com vidas", argumenta.
Recentemente, o caso de uma empresária de Cascavel ganhou notoriedade nacional. A aplicação de peeling de fenol nos braços resultou em queimaduras de terceiro grau. Esse procedimento promove o rejuvenescimento facial e, apesar de não ser cirúrgico, é um método bastante agressivo. "Deve ser feito no rosto, com anestesia, dentro do centro cirúrgico porque existe o risco de arritmia. Mas quem fez esse procedimento não sabia disso porque não era um médico", pondera a dermatologista.
Segundo ela, os erros mais comuns são cometidos justamente nos procedimentos mais delicados, como preenchimentos, peelings e aplicações de ácidos e toxinas. "Não vou dizer que quando o médico faz não exista complicação porque acontece. Mas ele sabe tratar o que possa advir do procedimento", argumenta. Segundo ela, além de deformações, queimaduras e manchas, procedimentos mal realizados podem provocar infecções e transmissão de doenças.
Como a única exigência para a realização de procedimentos não cirúrgicos em clínicas de estética tem sido em relação às condições físicas e sanitárias, Lígia sugere que as pessoas se informem sobre o profissional que vai atendê-lo. "Não digo que esteticista não pode realizar certos procedimentos, nem que todo mundo que está no mercado é despreparado. Mas a partir do momento em que envolve ácido, laser, agulhas, é bom saber se o profissional está realmente habilitado para isso. E se perguntar se ele vai conseguir tratar uma complicação que possa ocorrer", recomenda.

SEM REGULAMENTAÇÃO
Entre os esteticistas, a preocupação é parecida. Segundo a presidente da Federação Brasileira dos Profissionais Esteticistas (Febrape), Sandra Bovo, a falta de regulamentação das atividades desses profissionais faz com que pessoas não capacitadas prejudiquem a categoria. "Temos a regulamentação da profissão, mas não das atividades. Com isso, profissionais sem qualquer formação técnica ou tecnológica podem exercer livremente a profissão. Isso acaba denegrindo a categoria e nos faz vítimas de discriminação no mercado", argumenta.
Ela concorda com o ponto de vista da categoria médica sobre a exclusividade da realização de alguns procedimentos. Segundo ela, esteticistas com formação específica não realizam procedimentos invasivos porque entendem que é atividade médica. "Nenhuma das atividades do esteticista envolve procedimentos invasivos. Nós trabalhamos com a superfície da pele", afirma.
Representante da Associação dos Profissionais de Estética do Paraná (APEPR), Beatriz Andriguetto Orasmo afirma que, na maioria das vezes, os erros em procedimentos estéticos são cometidos por profissionais que não têm a formação adequada. "Várias empresas fornecedoras de equipamentos e produtos de estética dão cursos livres de utilização desses materiais. Muitas pessoas que fazem esses cursos rápidos já se acham habilitadas para atuar na profissão, mas esteticistas precisam de cursos com carga horária de 1 mil a 3 mil horas para ter uma formação", conta.