Estresse, solidão, insatisfação, ansiedade, pânico, falta de energia e insônia. Esses sinais, em excesso, além da depressão, podem ser sinal de neurose. Considerada uma doença, a neurose atrapalha a rotina do indivíduo e pode desencadear outros problemas de saúde. Estudo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) mostra que a dor crônica, seguida da respiratória e vascular, são as mais comuns em quem possui transtornos emocionais, de humor e de afetividade.

Normalmente, esses transtornos estão ligados à personalidade da pessoa e ao seu universo afetivo. "São resultados de uma herança genética. Muitas pessoas nascem com chances de desenvolver esses transtornos. Soma-se a isso as experiências ou traumas adquiridos no decorrer da vida. Um nível muito alto de estresse, por exemplo, pode desencadear a doença", afirma a psiquiatra Juliana Brum, de Londrina.

O conceito de neurose foi estabelecido em 1769, recebendo novas conceituações cem anos depois, com o psicanalista Sigmund Freud. Atualmente, a OMS (Organização Mundial da Saúde) trata o termo como transtorno. A entidade ainda o dividiu com mais especificidade, elencando o transtorno fóbico-ansioso, obsessivo-compulsivo, dissociativo e somatoforme. Dentro da psicanálise, essas doenças são consideradas graves, porém com tratamento e controle de sintomas.

O tratamento depende de diversas frentes, variando de caso a caso. "Dependendo da gravidade, a psicoterapia é suficiente. Já quando é de moderado a grave, necessita de remédio, associado a outros tratamentos, como acompanhamento com psiquiatra, psicólogo, fisioterapeuta. A realização de terapia ocupacional também ajuda", elenca. "Análise do comportamento, terapias em grupo e psicoeducação, que faz a pessoa entender o que ela tem, colaboram", completa.

Segundo Brum, os mais afetados, em geral, são mulheres, porém o público jovem que apresenta transtornos emocionais, de humor e afetivos, vem procurando tratamento médico com mais frequência. "As mulheres são mais acostumadas a falar de suas emoções, diferente dos homens, que são mais resistentes. Também venho observando que os jovens estão se informando mais sobre isso e buscando ajuda."

CRISE

O período de crise que o País vive, com alta taxa de desemprego e recessão, vem influenciando a vida das pessoas e, consequentemente, a saúde do brasileiro. Em 2016, a Previdência Social registrou o afastamento de 75,3 mil trabalhadores em razão de quadros depressivos, o que representa 37,8% de todas as licenças médicas motivadas por transtornos mentais e comportamentais no mesmo ano.

"Muitos pacientes que agora estão sem dinheiro, por causa do desemprego, querem interromper o tratamento porque não têm como pagar a consulta, o que atrapalha na recuperação. Existem ainda casos de pessoas que procuram o tratamento por causa da falta de emprego, pois isso é um gatilho para a aparecer a doença", contextualiza a psiquiatra.

Entre as principais doenças relacionadas a neurose está a depressão. Pesquisa divulgada em 2017 pela OMS alerta que até 2020, a depressão será a doença mais incapacitante do mundo. A ansiedade também tem registros preocupantes. Segundo a organização, o número de pessoas com transtornos de ansiedade era de 264 milhões, em 2015, com um aumento de 14,9% em relação a 2005.

EXERCÍCIO FÍSICO
No tratamento aos transtornos emocionais, de humor e afetividade, os exercícios físicos são apontados como um dos mais eficientes aliados na recuperação. "O exercício físico libera alguns hormônios que ajudam no estado emocional, como a serotonina e a endorfina. Além disso, o contato com outras pessoas colabora com o tratamento, porque coloca o indivíduo em comunicação com os demais", explica o educador físico Gabriel Bento.

De acordo com ele, os principais exercícios indicados são a caminhada e a musculação. "As atividades de intensidade moderada e forte costumam ser as mais indicadas, porque quanto mais intenso o aeróbico, mais os hormônios são liberados. Mas, isto precisa ser direcionado para cada problema e acontecendo de forma gradual", recomenda.

Para quem possui algum sintoma e para aqueles que já convivem com a neurose, o mais importante é o enfrentamento do preconceito para buscar ajuda. "O tratamento, quando acontece de forma precoce, oferece mais chances de respostas. O que as pessoas precisam saber é que assim como qualquer parte do corpo, o cérebro também adoece", informa Juliana Brum.(Leia mais na pág. 10)