O horário de verão entra em vigor no próximo domingo, mas alterações na rotina devem começar alguns dias antes
O horário de verão entra em vigor no próximo domingo, mas alterações na rotina devem começar alguns dias antes | Foto: Gustavo Carneiro



No dia 15 de outubro começa o horário de verão e muitos pensam que adiantar uma hora traz mudanças apenas nos ponteiros do relógio. Mas não é bem assim. Especialistas afirmam que o relógio biológico sai do ritmo que está acostumado e o corpo então sente o impacto desta privação do sono.

"No horário de verão ocorre uma transitória dessincronização interna, impactando no sono, que é crucial para a atividade do organismo", afirma Edson Delattre, professor aposentado do Instituto de Biologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

O neurocientista Fernando Louzada, da UFPR (Universidade Federal do Paraná), lembra ainda que algumas pessoas já estão no limite de ajuste do sono. "Há uma parcela da população que teria uma preferência a acordar mais tarde devido à condição genética, mas que já estão se esforçando diariamente para acordar mais cedo. É nessa parcela da população que a privação de uma hora a mais de sono é mais impactante", aponta.

Pensando em maneiras de amenizar os efeitos dessa mudança, Delattre recomenda alguns hábitos de higiene do sono. "Dias antes do horário de verão, as pessoas devem buscar dormir um pouco mais cedo, devem abrir as cortinas para deixar que a luz solar as despertem, ou seja, de forma mais natural; e também evitar o consumo de cafeína e estimulantes à noite", indica.

Para a adaptação ao novo horário, Louzada diz que ser importante sinalizar para o cérebro sobre a mudança. "A ideia é indicar que o dia já começou. Ao acordar, ligue as luzes, pois lá fora ainda estará escuro. Esse 'recado' também vale para a noite, ou seja, avise o cérebro que o dia terminou, evitando a exposição à luz", enfatiza.

O professor Luiz Menna-Barreto, do Grupo Multidisciplinar de Desenvolvimento e Ritmos Biológicos da USP (Universidade de São Paulo), destaca que a capacidade de ajuste do corpo humano é o aspecto mais fascinante da ritmicidade biológica, pois "viabiliza, por exemplo, nossa adaptação aos horários japoneses quando passamos a viver por lá. Essa propriedade se vale de mecanismos moleculares nos quais atuam os genes identificados pelo trio vencedor desta edição do Nobel", completa.

Diabetes tipo 2 está associada à dessincronização
O professor aposentado Edson Delattre, do Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Biologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), é de Londrina e defendeu uma tese sobre as ilhotas pancreáticas de Langerhans com enfoque cronobiológico, especialmente os ritmos endócrinos.

Ilhotas são os órgãos endócrinos que produzem e liberam insulina no sangue. Ele fez experimentos ao longo de 24 horas, isolando ilhotas para ver se a secreção de insulina in vitro sofria alguma alteração ao longo do ritmo circadiano. "A produção e a liberação da insulina para a corrente sanguínea é dependente da hora do dia. Em ratos, por exemplo, eu constatei que ela é maior à noite, até porque é um animal de hábitos noturnos", aponta.

No ser humano, já se sabe que o efeito da insulina é mais eficiente no início da manhã. "Além de termos uma maior secreção, as células onde a insulina atua respondem melhor neste período. Isso porque todo o organismo é temporizado. Alguns estudos já haviam mostrado tal fenômeno", comenta.

Mas vale dizer que o corpo humano possui milhares de ritmos e esse fenômeno tende a se expressar em múltiplas dimensões. No caso da insulina, por exemplo, há os ritmos ultradianos, que duram a cada oito ou dez minutos. Nesse tempo, em um indivíduo normal, as células beta do pâncreas liberam um pulso de insulina na corrente sanguínea.

"Pesquisas revelam que a perda da capacidade de coordenar a liberação desses pulsos de insulina é um fator que contribui de maneira intensa para o aparecimento do diabetes tipo 2", conclui.

Ajuste vale para 11 estados

Brasília - Na madrugada do dia 15 de outubro (domingo), os brasileiros devem adiantar o relógio em uma hora devido ao horário de verão. A mudança é adotada por 11 estados até 18 de fevereiro de 2018. O ajuste do horário vale para os moradores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal.

O objetivo é aproveitar o maior período de luz solar possível para economizar energia. Com a mudança no relógio, o leste do Amazonas e os estados de Roraima e Rondônia ficam com duas horas a menos em relação ao horário de Brasília, enquanto Acre e oeste do Amazonas ficam com três horas a menos.

O chefe da Divisão do Serviço da Hora do Observatório Nacional, Ricardo Carvalho, explica que a diferença de tempo entre o nascer e o pôr do sol durante o verão é maior nas áreas distantes da linha do equador, que divide a Terra entre os hemisférios Norte e Sul. É o caso das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.

"Quanto mais ao Sul, os dias tendem para uma maior variação ao longo do ano, sendo mais longos no verão e mais curtos no inverno. Por exemplo, em 1º de julho, no Rio de Janeiro, a duração do dia foi de 10h45, enquanto em Porto Alegre foi de 10h15. No verão, especificamente no dia 1º de dezembro deste ano, a duração do dia no Rio de Janeiro será de 13h07 e em Porto Alegre será de 13h56", diz.

O programa foi instituído pela primeira vez no verão de 1931/1932 e vem sendo adotado continuadamente desde 1985. O governo chegou a cogitar o fim do horário de verão, mas optou por manter ao menos até este ano.