A médica Margarida Carvalho examina Ana Beatriz, diagnosticada com artrite idiopática juvenil
A médica Margarida Carvalho examina Ana Beatriz, diagnosticada com artrite idiopática juvenil | Foto: Saulo Ohara



O primeiro contato entre Ana Beatriz Rodrigues de Jesus, 10, e a médica reumatologista e pediatra em Londrina, Margarida de Fátima Fernandes Carvalho, foi há cerca de seis anos. Foi quando Bia, como é chamada, começou a ter náuseas e sofrer quedas. "Estava tudo normal e, de repente, estávamos fazendo exames e tentando marcar consultas para investigar o que estava acontecendo", lembra a mãe Daiana Teixeira da Silva.

Depois de um ano de consultas e exames, veio o diagnóstico. Bia tem AIJ (artrite idiopática juvenil), uma doença inflamatória crônica (com duração maior que seis semanas) que acomete uma ou mais articulações e outros órgãos, como a pele, os olhos e o coração.

A doença é autoimune e se manifesta antes dos 16 anos de idade. A mãe da Bia conta que ela é uma criança bastante ativa, frequenta a escola e adora andar de bicicleta. "Mas em alguns momentos a doença parece retornar e aí ela fica irritada, os movimentos voltam a ficar comprometidos e os dedos entortam", revela.

De acordo com a especialista, existem mais de 100 formas de apresentação de reumatismo na infância e a AIJ é umas das mais comuns, embora seja considerada rara. Não há dados oficiais sobre a prevalência da doença no Brasil.

As enfermidades reumatológicas sempre estiveram associadas ao envelhecimento e, portanto, falar em reumatismo infantil ainda requer muitos esclarecimentos, inclusive entre a classe médica.

Diante deste fato, a AIJ é tida como uma doença subdiagnosticada no País e o diagnóstico quando confirmado ocorre muitas vezes tardiamente, podendo limitar o prognóstico. "Em uma artrite sem tratamento adequado por anos, as deformidades podem ser irreversíveis. Estamos falando de uma doença que causa morbidade, prejudica a qualidade de vida e traz deformidades físicas importantes", resume a reumatologista pediátrica em Curitiba, Christina Feitosa Pelajo.

Além dos sinais comuns às outras doenças, como por exemplo as dores nas pernas que podem ser relacionadas também às dores de crescimento, ela explica que é normal a criança não apresentar queixas. "Tudo isso leva à demora no diagnóstico", diz.

A médica Margarida Carvalho examina Ana Beatriz, diagnosticada com artrite idiopática juvenil
A médica Margarida Carvalho examina Ana Beatriz, diagnosticada com artrite idiopática juvenil



MENOR INCIDÊNCIA
Assim como a AIJ, a FR (febre reumática) também é prevalente na infância. Com menor incidência, mas citadas pelas especialistas estão ainda o lúpus eritematoso sistêmico, dermatopolimiosite, esclerodermia e as vasculites.

De acordo com Carvalho, a FR surge após uma infecção de garganta, por uma bactéria chamada streptococcus. "Até metade das crianças pode não apresentar sintomas como febre, dor de garganta e aumento dos gânglios", afirma.

A forma mais característica e significativa da FR é, entretanto, inchaço e dor em grandes articulações (punhos, cotovelos, joelhos e tornozelos). "A artrite fica entre dois a três dias em cada articulação e vai migrando. Vale lembrar que ela é aguda e dura no máximo dez dias, acometendo especialmente crianças em idade escolar, dos 6 aos 13 anos", completa a reumatologista de Londrina.

Já na AIJ, a dor e inchaço articular persistem e há diferentes formas de apresentação nas crianças, com variações pelo fator idade e características individuais.

A doença também pode evoluir para outros quadros, como a uveíte (inflamação da úvea, camada média do olho). "Ela pode surgir a partir da artrite e o fato mais preocupante é que ela é totalmente assintomática. A criança não vai ter olho vermelho, nem irritação ou coceira. Por isso todo diagnóstico de artrite deve envolver um encaminhamento ao oftalmologista", aponta Pelajo.

Na FR, uma complicação frequente é a cardiopatia reumática. Cerca de 30% das crianças que tiveram a doença podem ter lesão das válvulas cardíacas. "Comparado ao quadro de 30, 40 anos atrás, hoje temos uma preocupação muito menor com essa doença, mas as sequelas continuam sendo um importante gasto para a saúde pública", comenta Carvalho.

Em relação às causas da FR e da AIJ, a especialista de Londrina afirma que são desconhecidas. Ela, que se dedica à área de reumatismo há 40 anos, cita que alguns estudos revelam a existência de uma base genética, no entanto, ainda não se tem os marcadores específicos.

Para esclarecer a sociedade em geral sobre o reumatismo infantil, a SPR (Sociedade Paranaense de Reumatologia) realizará no dia 1 de setembro, um evento com especialistas, no aterro do Lago Igapó, das 10h às 14h, em Londrina.