São Paulo - No Brasil, estima-se que 1,5 milhão de pessoas desconhecem ser portadoras do vírus da hepatite C. A doença afeta cerca de 160 milhões de pessoas em todo o mundo e é responsável por 1,4 milhão de mortes por ano. O vírus que afeta o fígado age de forma silenciosa e quando os sintomas se manifestam, cerca de 20 ou 30 anos após o contágio, geralmente a doença já se encontra em um estágio avançado. Vinte e cinco por cento dos casos de câncer de fígado têm como causa a hepatite C, por isso o diagnóstico e tratamento precoces são fundamentais para que a doença não evolua para as fases mais críticas. O exame anti-HCV está disponível gratuitamente na rede pública de saúde, mas nem sempre é pedido por médicos como exame de rotina e especialistas defendem que o sucesso do trabalho de combate e erradicação da hepatite C no Brasil depende do aumento das notificações.

Para elevar o número de diagnóstico e chegar aos cerca de 1,5 milhão de pessoas que convivem com o vírus da hepatite C sem saber, foi lançada na sexta-feira (25), em São Paulo, a campanha Peça o teste anti-HCV, que pretende envolver os profissionais de saúde do País, de várias áreas de especialidades, na luta pela erradicação da doença. A campanha, realizada pela companhia farmacêutica AbbVie, conta com o apoio das sociedades brasileiras de Hepatologia e Infectologia e da Associação Médica Brasileira. O objetivo é incentivar a classe médica a incluírem o teste para diagnóstico da hepatite C nos exames de rotina.

"Hoje, o problema da hepatite C no Brasil não é mais o tratamento, é o diagnóstico, por isso a importância do exame", reforçou o presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia, Edmundo Lopes. "É uma questão de conscientização. As ONGs de HIV são muito fortes enquanto que o trabalho para prevenir e combater as hepatites e outras doenças infecciosas não é tão forte, mas é viável. Com a campanha, podemos acabar com a hepatite C como acabamos com a poliomielite e outras viroses."

O público-alvo da campanha é a população acima dos 40 anos de idade, nascida até 1975. "Quem fez transfusão de sangue antes disso, a probabilidade de contaminação é muito alta porque não existia controle nos bancos de sangue. O vírus foi detectado em 1989 nos Estados Unidos e os testes chegaram ao Brasil no início da década de 1990. A outra coisa que é um marco na disseminação da hepatite C é a troca da seringa de vidro pela seringa de plástico, descartável", explicou Lopes.
Pessoas que têm outras doenças, como diabetes, também estão no alvo da campanha em razão da evolução mais rápida da hepatite C em pessoas diabéticas.


TRATAMENTO
Até pouco tempo atrás, um grande desafio para médicos e pacientes era levar adiante o tratamento contra a hepatite C, que utilizava o interferon e a ribavirina, medicamentos que além de terem de ser ministrados por um período prolongado, acarretavam uma série de efeitos colaterais que faziam muitos portadores do vírus HCV a abandonarem o tratamento. A partir de 2015, a rede pública de saúde passou a utilizar novas drogas ministradas por via oral no lugar das aplicações subcutâneas, com menos efeitos colaterais e por menor tempo. Até outubro o Ministério da Saúde deve liberar para uso no SUS (Sistema Único de Saúde) uma nova combinação de medicamentos.

Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Sérgio Cimerman, com a evolução do tratamento, a chance de cura entre os pacientes aumentou de 40% para mais de 95% para o genótipo 1, o tipo mais frequente de vírus, associado a mais de 80% dos casos diagnosticados. "Hoje não são necessárias mais as injeções e o paciente toma apenas três ou quatro comprimidos por dia", acrescentou Lopes.

"A Associação (Médica Brasileira) está empenhada na campanha e orienta os médicos associados a solicitarem o exame porque o fígado é uma estrutura importante para todas as especialidades", disse o presidente da AMB, Antonio Jorge Salomão.

*A repórter viajou a São Paulo a convite da AbbVie