Segundo especialista, as pessoas estão assumindo cada vez mais responsabilidades, o que gera uma sensação de incapacidade
Segundo especialista, as pessoas estão assumindo cada vez mais responsabilidades, o que gera uma sensação de incapacidade | Foto: Shutterstock



Pare para pensar se você é uma pessoa ansiosa. Se a resposta for positiva, pense então se isso está gerando algum incômodo no seu dia a dia. Se novamente você responder que sim, então é hora de buscar auxílio e adotar mudanças reais no dia a dia.

Esse é o recado dos especialistas em Psicologia, que estão cada vez mais recebendo a visita de brasileiros que sofrem de ansiedade. Não é a toa que ela é tratada como a "doença do século". Um levantamento do Instituto de Pesquisa e Orientação da Mente (Ipom) aponta que de cada dez brasileiros sete são ansiosos.
Destes, quatro são diagnosticados com ansiedade patológica, isto é, que ultrapassa o limite normal do ser humano, podendo desencadear transtornos mentais e físicos. Nesses casos, a patologia se configura em Transtorno de Ansiedade Generalizado (TAG).

A neuropsicóloga Fernanda Queiroz diz que é importante a pessoa descobrir se a ansiedade é normal ou patológica. Essa informação pode ajudar no tratamento, mas também a evitar que agentes externos potencializem esse comportamento. "Todo mundo é um pouco ansioso e nós precisamos dela porque há uma relação com o instinto de sobrevivência. Ela servia como um alerta para o organismo dos nossos ancestrais sobre a aproximação de animais ferozes ou de tribos rivais, por exemplo", aponta.

É claro que hoje não precisamos mais fugir dos animais, o que não significa que não temos mais ameaças. No entanto, além do trabalho estressante, trânsito caótico, volume de informações, entre outros fatores ambientais, já se sabe que há um fator genético importante no TAG.

Em 2008, cientistas da Alemanha e dos Estados Unidos relataram evidências ligando genes ao comportamento ansioso. O estudo foi publicado na American Psychological Association e mostrou que as pessoas que carregam uma variação comum de um gene que regula o neurotransmissor dopamina, tiveram um reflexo de "susto" exagerado quando visualizaram imagens desagradáveis.

Com isso, os pesquisadores chegaram a uma explicação bioquímica do porquê algumas pessoas acham mais difícil regular a excitação emocional. Um dos pesquisadores, no entanto, ressaltou que essa variação genética "é potencialmente apenas um dos muitos fatores que influenciam uma característica tão complexa como a ansiedade."

Uma pesquisa mais recente, publicada no American Journal of Psychiatry mostrou ainda que a ansiedade pode ser transmitida de pais para filhos por gerações, porém não apenas por questões genéticas e sim por comportamento. O estudo foi conduzido por cientistas do Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociências do King College London, na Inglaterra, com famílias com gêmeos idênticos e não idênticos, na faixa dos 45 anos e com filhos.

Para chegar aos resultados, foi feita uma comparação das correlações entre as crianças e seus pais, como o grau em que compartilham traços ansiosos, com as correlações entre as crianças e co-gêmeos idênticos de seus pais (tio ou tia da criança). A personalidade ansiosa dos pais foi autorrelatada por gêmeos usando 20 itens das Escalas de Karolinska da Personalidade.

A conclusão é de que a convivência é um fator para desenvolver a ansiedade porque as crianças e adolescentes aprendem comportamentos ansiosos de seus pais e essa informação pode ajudar as famílias a refletirem e buscar orientações para reduzir o impacto de sua ansiedade sobre o desenvolvimento das crianças.

RECÉM-NASCIDOS
Em fevereiro, o Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry (JAACAP) revelou um estudo que sugere que os primeiros fatores que permitem prever a ansiedade e a depressão podem ser observados no cérebro logo após o nascimento.

Na pesquisa publicada pela Elsevier, "pesquisadores descobriram, ao analisar exames cerebrais em bebês, que a força e o padrão das conexões entre a amígdala e certas regiões cerebrais podem prever a probabilidade dos bebês desenvolverem maiores sintomas de internalização, tais como tristeza, timidez excessiva, nervosismo ou ansiedade de separação até os dois anos de idade. Tais sintomas estão sendo associados à depressão clínica e transtornos de ansiedade em crianças mais velhas e adultos."