O casal Fleurissaint e Castaeng se conheceu em Rolândia e já teve uma filha, Christina, que nasceu no dia 6 de junho
O casal Fleurissaint e Castaeng se conheceu em Rolândia e já teve uma filha, Christina, que nasceu no dia 6 de junho | Foto: Fotos: Gustavo Carneiro


O haitiano Samuel Fleurissaint, 29, chegou ao Brasil em 2013, três anos após o terremoto que devastou o Haiti, em janeiro de 2010. Ele vivia na capital, Porto Príncipe, e a vida estava difícil, sem trabalho e sem dinheiro. Um amigo que já havia emigrado para o Brasil trabalhava em um frigorífico de aves em Rolândia (Região Metropolitana de Londrina) e ele decidiu seguir os mesmos passos.
No Haiti, era mecânico de veículos. Tentou exercer a profissão em terras brasileiras, mas recebeu não como resposta de todos os proprietários das oficinas pelas quais passou. "Fiquei sete meses desempregado, mas agora faz três anos que estou trabalhando como operador de máquina no mesmo frigorífico do meu amigo. Antes estava bom, agora está estranho com a crise e a dificuldade de conseguir emprego, mas ainda assim aqui é melhor que o Haiti. É bem tranquilo, tem muita segurança e um bom hospital", compara.
Em Rolândia, Fleurissaint conheceu Yfaula Castaeng, 30. Os dois começaram a namorar, foram viver juntos e tiveram uma filha. Christina nasceu no último dia 6 de junho. "Não pretendo voltar para o Haiti. Quero ir de vez em quando, rever meus familiares, mas estou construindo minha vida e minha família aqui."
O casal vive em uma casa confortável na região central de Rolândia na companhia do primo de Fleurissaint, Robson Augusten, 29, e da mulher dele, Michele Soline, 28, grávida de nove meses. O bebê, um menino que irá se chamar Ropensly, é esperado para o fim deste mês. Augusten chegou ao Brasil no ano passado e trabalha há oito meses em uma fábrica de embalagens em Cambé (Região Metropolitana de Londrina). Logo no início, contou, enfrentou algumas dificuldades, sendo o idioma a principal delas. "Falo francês, espanhol e crioulo, a língua do meu país, mas aqui as pessoas só falam o português", espanta-se. Assim como o primo, começou a ter aulas de língua portuguesa em uma escola e hoje já consegue se comunicar com certa desenvoltura. Para acelerar o aprendizado, Augusten ouve muita música brasileira.
Fleurissant se diz esperançoso. Vê no Brasil muitas oportunidades, se orgulha de ter um trabalho e com o salário que recebe poder arcar com as despesas de aluguel, luz, água, gás e internet, item fundamental para poder se comunicar com o restante da família que ficou no Haiti.
Reginal Chachoute, 28, não está tão otimista. Ele chegou ao Brasil há três anos para viver com a tia e um irmão. Conseguiu alguns empregos em frigoríficos e na construção civil, mas há nove meses está sem trabalho e para viver depende da ajuda dos parentes com quem reside. "Está difícil arrumar serviço, preciso comer, pagar aluguel e ainda tenho que mandar dinheiro para o meu pai e meu irmão que ficaram no Haiti, mas ainda acho que é mais fácil conseguir emprego aqui no Brasil. Lá, mesmo com estudo, não conseguia trabalho. E também gosto muito do País e dos brasileiros."

Para Vladimir Louis, o mais complicado é suportar a saudade da filha Jeniffer, que não vê há quatro anos
Para Vladimir Louis, o mais complicado é suportar a saudade da filha Jeniffer, que não vê há quatro anos



Para Vladimir Louis, 29, o mais complicado é suportar a saudade da filha Jeniffer, de oito anos, que não vê há quatro anos. "Ela vive com a mãe e não a vejo desde que saí do meu país. Ainda não consegui voltar, mas estou guardando dinheiro e espero poder viajar neste ano."
A família de Louis espalhou-se pelo mundo. A mãe ainda mora no Haiti, mas o pai conseguiu visto e vive legalmente no Canadá, o irmão está nos Estados Unidos e ele veio sozinho para o Brasil em busca de uma vida melhor do que aquela reservada aos seus compatriotas após o terremoto de 2010. Do país de origem foi direto para Belo Horizonte (MG). Formado em Técnico em Informática, conseguiu emprego na sua área por quatro meses, mas também trabalhou como segurança em um zoológico e, fluente em cinco idiomas, atuou como guia de turismo.
Após deixar a capital mineira mudou-se para Rolândia e há 11 meses está empregado em um frigorífico, onde exerce a função de operador de máquina no centro de produção. "Vim sozinho para o Brasil, me senti muito triste, senti falta da minha família. Mas aqui tem mais oportunidades, a vida é melhor e eu estou adaptado, graças a Deus. No Haiti, depois de formado é difícil achar um serviço."
Apesar de satisfeito com a vida que construiu longe de sua terra natal, Louis diz que o pai pretende levá-lo para a América do Norte. "Mas o tempo depende de Deus. Hoje em dia ninguém sabe o que vai acontecer. Enquanto isso, vou ficando por aqui."