Impulsionados pelo desejo de conectar entidades socioassistenciais e pessoas que têm vontade de fazer doações, mas não sabem como, empreendedores de Londrina lançaram no último dia 13 a Anjos.co, uma plataforma virtual onde é possível, no mesmo lugar, encontrar entidades idôneas registradas nos conselhos municipais e fazer doações a uma ou mais delas comprando on-line o que elas precisam no momento. A entrega é feita pelo próprio serviço, e o doador recebe notificações a todo momento sobre o processo de doação.

"Todos os dias, indo ao trabalho, eu via a situação nas ruas da cidade: pessoas morando nas ruas, pedindo nos semáforos. Isso tem aumentado bastante em Londrina por causa da crise", conta Valmir Manfrim Gonçalves Junior, engenheiro da computação e um dos fundadores da startup junto com Ronaldo Kmita e Pedro Hoam, das áreas de gestão e de marketing, respectivamente.

Assim como qualquer outra startup, a Anjos.co tem um modelo de monetização que envolve a taxa de serviço e, mais tarde, a comissão pela venda dos produtos e a publicidade na plataforma. O fim da Anjos.co como empresa, entretanto, está atrelado à solidariedade. "A empresa se enquadra como um negócio de impacto social, e é amparada em dois pilares: o impacto social e o retorno financeiro. É uma tendência que tem aumentado bastante no Brasil, apesar de um pouco timidamente."

"No momento que a macroeconomia está passando, alguns problemas se evidenciam. E da ideologia e da vontade de empreender surge a vontade de trazer as duas coisas juntas", comenta Fabrício Pires Bianchi, consultor do Sebrae Londrina, sobre o movimento de negócios de impacto social. O conceito desse movimento, chamado também de empreendedorismo social, não é novo, lembra Daniele Conte, também consultora do Sebrae Londrina. Surgiu nos anos 1970, quando Muhammad Yunus criou, na Índia, o que seria considerada a primeira empresa de negócios de impacto social: um banco que realiza empréstimos de pequenas quantias - a Grameen Bank -, criada para ajudar moradores de uma comunidade pobre, vizinha à universidade onde Yunus dava aulas.

"O empreendedorismo social surgiu a partir da necessidade de resolver problemas sociais de comunidades, carentes ou não", explica Daniele. As empresas de negócios de impacto social, ela continua, criam estratégias, metodologias, modelos de negócio, técnicas, mecanismos, tecnologias e inovações para resolver esses problemas e promover mudanças na sociedade. "Isso não quer dizer que, lá na frente, a empresa não vai ter lucro. A ideia inclusive é que ela seja sustentável. Os seus desafios, que são buscar a sustentabilidade, não são diferentes daqueles de uma empresa comum."

Segundo Daniele, o número de negócios de impacto social vem crescendo à medida que a consciência coletiva sobre as condições de vida das pessoas também aumenta. "À medida que a consciência coletiva vem avançando para melhores condições de vida, vão surgindo junto negócios de alto impacto, tecnologias e inovações." A rica estrutura de suporte ao surgimento de startups no País hoje, na opinião de Daniele, também viabilizou o nascimento de novos negócios de impacto social.

Geração de renda

A sustentabilidade ambiental e a geração de renda são o objetivo do projeto de uma marca londrinense de moda sustentável, o Retraço Novo. A marca social reutiliza resíduos da indústria têxtil para a produção de roupas femininas, moda casa, acessórios e outros produtos e capacita mulheres com esse conhecimento para que elas possam gerar renda. A metodologia criada por Bianca Baggio, fundadora da marca, já permitiu a confecção de 95 peças usando apenas 50 quilos de resíduo têxtil e a mão de obra capacitada pelo empreendimento social.

O Retraço Novo está na plataforma de crowdfunding Benfeitoria a fim de captar recursos para o projeto. Hoje, quatro mulheres recebem capacitação da empresa, ajudam a atender a demanda da marca e, ao mesmo tempo, estão aptas a receber encomendas por conta própria. A ideia, segundo Bianca, é que no início a marca funcione como uma gestora para que, no futuro, as mulheres estejam aptas a gerir os seus próprios negócios.