Para Bianco Zalmora Garcia, professor de ética e política do Departamento de Filosofia da UEL (Universidade Estadual de Londrina), casos que envolvem a temática honestidade sempre chamam a atenção. "Qualquer ato heroico ou que tenha relevância moral vai denotar admiração, como se fosse um modelo a ser seguido. Este tipo de situação é regido por um princípio que todos esperamos que ocorra na sociedade", explica.

No caso do menino de Santo Antônio da Platina (Norte Pioneiro), que devolveu o troco sem que o responsável por doar o dinheiro esperasse, acaba ganhando mais interesse e publicidade por se tratar de uma criança. "Pela faixa etária, o ato honesto veio de um certo altruísmo, porque, normalmente, a criança tende a ser mais egocêntrica. Seu desenvolvimento moral age de um lado por interesse e de outro para obedecer normas e convenções", afirma ele, que é doutor em educação pela USP (Universidade de São Paulo).

De acordo com Garcia, o fato de o País conviver com inúmeros casos de corrupção envolvendo políticos e pessoas públicas não significa que a sociedade seja corrupta. "Foi criada a sensação generalizada de que estamos em uma cultura de desonestidade. Isso gera insatisfação e a ideia de que todos estamos envolvidos neste contexto", aponta. "Londrina é um caso peculiar, porque passou por vários momentos políticos marcados por desvios de conduta e já viveu esse tipo de sensação com ainda mais ênfase."

Pesquisa divulgada nesta semana pelo Datafolha, encomendada por uma consultoria organizacional em parceria com um instituto britânico, mostrou que a população vê a corrupção como um comportamento que representa o Brasil. Por outro lado, porém, acredita que a honestidade é o que melhor caracteriza o brasileiro. "Existe uma desconexão entre o corpo politico e a sociedade, embora dentro de uma democracia representativa, e isso fica explícito no levantamento. O único aspecto contraditório nisso é que esse conjunto de pessoas que elenca a honestidade como um valor primordial não repercute isso na eleição", analisa.

Garcia ainda explica que a honestidade é um valor que se conquista com o tempo e está alinhada a um conjunto de outros fatores, como a decência, retidão e caráter. "Ninguém nasce honesto, mas aprende no contexto familiar e social. Por isso a autorrespeitabilidade é fundamental no conceito de honestidade. Além do mais, esses valores são necessários para um bom convívio social. As pessoas precisam ter esse anseio diariamente", pontua.