Botafoguense de coração, João Saldanha teve o primeiro contato com o futebol no Paraná. Após o pai, Gaspar Saldanha, se envolver em conflito político com Borges de Medeiros, no Rio Grande do Sul, a família se mudou para Curitiba, a duas quadras do estádio do Atlético Paranaense, onde ia assistir aos treinos das divisões de base.

Nos anos 1950, já no Rio de Janeiro, chegou a atuar profissionalmente pelo Botafogo, mas abandonou a carreira para cursar Jornalismo e se tornou um dos mais importantes cronistas esportivos do País. Saldanha é o autor de frases famosas como: "se macumba ganhasse jogo Campeonato Baiano terminava empatado". Como técnico, foi campeão carioca com o Botafogo, em 1957, no time de Garrincha, Didi e companhia.

Desta época, registrou, em seu livro de memórias "Os subterrâneos do futebol" (Editora José Olympio, 1980), o texto "Noivado em Londrina". O time havia disputado uma partida dura no Rio e, no dia seguinte, se apresentou em Londrina. Com os jogadores exaustos, todos concordaram que dormiriam cedo. De longe, Saldanha viu Garrincha deitado com seu calção quadriculado. Foi dormir tranquilo sabendo que o craque não ia terminar a noite na boemia.

No ano seguinte, o time retorna para Londrina e, na portaria do hotel São Jorge (depois Sahão), foi abordado por uma mulher que dizia ser noiva de Garrincha e trazia uma criança no colo. "Achei que podia ser golpe, pelo cartaz que Garrincha tinha", relata no livro. Depois, ao colocar o jogador contra o muro, o "anjo das pernas tortas confessou": "Não fala nada pra ele, mas eu pagava para o massagista ficar na minha cama com o meu calção".

Saldanha montou a Seleção que se sagraria campeã mundial em 1970, sob comando do técnico Zagallo. Um dos convocados de Saldanha foi o ex-goleiro do Londrina Ado. "Ele me viu jogar em Curitiba e depois na minha estreia pelo Corinthians. Gostou muito e mandou me avisar no vestiário que eu estava convocado. Achei que era brincadeira", contou. Ado, que foi reserva de Félix na Copa do México, disse que gostaria que Saldanha tivesse acompanhado o grupo. "Ele foi demitido pouco antes da Copa por seus ideais políticos. Ele nunca escondeu que não gostava do regime militar." Quando o ex-presidente Emílio Médici tentou ingerir na escalação do escrete canarinho, Saldanha teria dito em rede nacional: "O general nunca me ouviu quando escalou o seu ministério. Por que, diabos, teria eu que ouvi-lo agora?" (C.F.)