Imagem ilustrativa da imagem Precisamos falar sobre Momo
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Enquanto a existência da escultura “Momo” - que representa a figura de uma mulher-pássaro - se limitava às paredes de uma galeria em Tóquio, no Japão, os vídeos infantis da internet eram “inofensivos” e as crianças estavam longe de pesadelos. O fato é que essa figura criada para ser assustadora, com olhos arregalados e pele pálida, caiu no mundo virtual, viralizou e está causando pânico geral. De grupos em grupos de WhatsApp, os vídeos com Momo vêm sendo compartilhados na “intenção” de alertar as famílias.

O que parece ser um inocente vídeo infantil aterroriza no momento em que a personagem surge na tela incitando crianças a cortarem os pulsos. O que se tem apurado até então, é que os vídeos existem apenas nas versões em inglês e espanhol. O evento ganhou tamanha proporção que o canal YouTube Brasil, através do Twitter, publicou a seguinte mensagem sobre o “desafio Momo”: “não encontramos nenhum vídeo que promova um desafio Momo no YouTubeKids. Qualquer conteúdo que promova atos nocivos ou perigosos é proibido no Youtube. Se encontrar algo parecido, denuncie.”

O fato foi além. O MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) passou a apurar o uso da personagem em vídeos infantis. Segundo a assessoria de imprensa, a Coeciber (Coordenadoria Estadual de Combate aos Crimes Cibernéticos) recebeu na terça-feira (19) demanda da Promotoria da Infância e Juventude e instaurou uma investigação preliminar sob sigilo, para apuração e providências cabíveis. O MP da Bahia, por meio do Nucciber (Núcleo de Combate a Crimes Cibernéticos), também começou a apurar fatos relacionados. Foram enviadas notificações ao Google e ao WhatsApp, por meio das empresas sediadas no Brasil, para remoção do conteúdo. O mesmo aconteceu em São Paulo através da Fundação Procon-SP.

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image description | Foto: Folha Arte

No Paraná, o MP não registrou até o momento nenhum tipo de ação relacionada à veiculação de vídeos envolvendo a Momo. A FOLHA também conversou com o Nuciber (Núcleo de Combate aos Cibercrimes) da Polícia Civil do Paraná, que informou não ter recebido, até quarta-feira (20), nenhuma denúncia a respeito.

O Instituto DimiCuida, situado em Fortaleza (CE), que se dedica há pelo menos cinco anos a trabalhos de prevenção, educação e acolhimento de vítimas e familiares de desafios no âmbito virtual, registrou um aumento, desde o ano passado, no número de ligações à procura de ajuda. São, em média, duas ligações a cada mês. “Isso é positivo porque revela que as famílias criaram um campo de consciência do risco da internet”, comenta a psicóloga Fabiana Vasconcelos.

A SaferNet Brasil existe há 14 anos para promover e defender os direitos humanos na internet no Brasil. A respeito do fenômeno Momo, eles orientam o público a sempre desconfiar de correntes alarmistas no WhatsApp, pois aumenta a curiosidade sobre o conteúdo e, consequentemente, sua busca.

DESAFIO VIRAL

Até onde se tem conhecimento, a Momo foi inicialmente utilizada para roubar dados pessoais através de grupos de WhatsApp, mas surgiram outras versões em que incentiva o suicídio de crianças em meio a vídeos infantis. Basicamente, uma voz pede para que as crianças procurem por objetos perfurocortantes em casas e se cortem. Em entrevista ao jornal britânico "The Sun", o criador da "Momo" lamentou a maneira como sua obra foi disseminada para assustar crianças e afirmou que a escultura se degradou e, por isso, a jogou fora. No Brasil, após uma mãe relatar em redes sociais o pânico da filha após assistir o vídeo, o assunto chegou a milhares de lares e aos trending topics do Twitter.

Nativos digitais

A pesquisa TIC Kids Online Brasil, realizada em 2017 com 3.102 usuários, entre 9 e 17 anos, mostra que cerca de 10 milhões de crianças e adolescentes mencionaram que já tiveram contato com algum desconhecido na rede. Deste total, 43% são meninas. Quanto aos tipos de conteúdo, os usuários entre 11 e 17 anos afirmaram ter tido contato com temas de autodano e sensíveis, sendo 15% com formas de machucar a si mesmos e 13% com formas de cometer suicídio. “Existe um comportamento social da era digital, ou seja, de crianças e adolescentes que são nativos digitais e usam o campo da internet como um campo de socialização”, comenta a psicóloga. Ela avalia que no caso das brincadeiras perigosas, as crianças não estão fazendo com intenção suicida. “Elas estão fazendo por uma questão lúdica, de estar dentro de um grupo, de passar por desafios, o que é algo típico da entrada na adolescência”, diz. Isso porque a visualização é algo muito importante para a criança e o adolescente hoje. Segundo a psicóloga, as curtidas e a imagem sendo reconhecida são valorizadas e as plataformas de vídeos na internet monetizam pelo número de visualizações. “Ou seja, ela adicionou uma recompensa a um comportamento”, conclui.

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