Júlio Cezar Agostini, do Sebrae, Marco Antonio Nascimento Cunha, do ISAE/FGV, o mediador Marcos Rambalducci, e David Vacari Conchon, do Sicredi
Júlio Cezar Agostini, do Sebrae, Marco Antonio Nascimento Cunha, do ISAE/FGV, o mediador Marcos Rambalducci, e David Vacari Conchon, do Sicredi | Foto: Ricardo Chicarelli



O momento atual de retomada do crescimento econômico do país abre oportunidades para que micros e pequenas empresas (PME) superem a crise e voltem a crescer. Soluções individuais para cada pequeno negócio, porém, não serão suficientes para garantir o ambiente favorável à sustentabilidade dos pequenos negócios. Para o diretor de Operações do Sebrae/PR, Júlio Cezar Agostini, um dos painelistas do EncontrosFolha, o ambiente externo às empresas precisa acolher as PMEs (pequenas e micros empresas). "É preciso que a terra esteja adubada e fértil", disse ele.
Agostini analisou que a crise atual é mais profunda que as vividas na década passada. "Diferentemente de outras crises, entretanto, o Brasil tem agora a Lei Geral das MPE, um arcabouço legal que reconhece e formaliza os pequenos empreendedores", ressalta.
A lei estabelece algumas diretrizes para garantir longevidade e crescimento às MPEs e, no contexto de crise, apoiou muita gente que perdeu o emprego e se viu obrigado a empreender por necessidade em busca de nova fonte de sobrevivência.
Neste contexto, a possibilidade de se estabelecer como MEI (microempreendedor individual), um dispositivo criado em 2008 como complemento da Lei Geral, se mostrou útil para dar aos desempregados a oportunidade de empreenderem com segurança jurídica. "Se não fosse a lei, muitos trabalhadores estariam na informalidade", afirmou.
O crescimento no número de MEIs abertas no Paraná dá provas que o empreendedorismo foi a solução para muitos desempregados. Enquanto em 2015 o Paraná contabilizou 72,3 mil novos negócios tocados por microempreendedores individuais, o número saltou para 77,4 mil em 2016 e deve chegar a 80 mil em 2017. "É como se fosse uma grande indústria gerando 80 mil empregos", comparou Agostini, para quem o principal problema do Brasil não é a falta de riquezas, mas a desigualdade. "A sociedade brasileira é desigual, precisamos de mais igualdade de oportunidades. As micros e pequenas empresas promovem isso, mas precisam de ambiente favorável", reforça.
Desburocratização, acesso ao crédito, tributação, associativismo empresarial, educação empreendedora, acesso à inovação e acesso à Justiça são outros fatores favoráveis às MPEs que podem ser contemplados em políticas públicas. "O problema não é ser pequena, mas trabalhar sozinha", acrescenta o painelista, lembrando que cooperativas de crédito e sociedades garantidoras de crédito são exemplos de instituições que fomentam os pequenos negócios pautadas por associativismo e facilitação de acesso a financiamentos.
Para quem está empreendendo, seja por necessidade ou oportunidade, o diretor do Sebrae orienta que o êxito depende principalmente das condições para aprender sobre o novo negócio. "Quem empreende por opção tem mais tempo para se preparar, mas todo empreendedor tem que planejar", ensina.
Mesmo as startups e empresas de alto potencial de crescimento inseridas em setores que crescem a despeito da crise precisam de ambiente favorável para prosperar. "Há três anos não havia aceleradoras ou programas de apoio a startups em Londrina", compara, referindo-se a iniciativas que buscam apoiar o empreendedorismo inovador na cidade. "São categorias que não navegam no oceano vermelho da concorrência porque investem em inovação", diz.
Outo investimento importante para criar o ambiente favorável é a educação empreendedora. Em Londrina, todos os alunos das escolas municipais participam do programa de empreendedorismo do Sebrae, além de várias instituições particulares. No Paraná, 107 mil jovens passaram pelo programa. Além disso, o Sebrae apoia a criação de startups de alunos nas universidades. "O objetivo é criar mentalidade empreendedora", afirma.
A despeito do tipo de negócio, Agostini garante que um fórmula tradicional continua sendo fundamental para o sucesso de qualquer empresa. "Qualidade, bom atendimento e preço justo", resume.

Cooperativas de crédito aumentam aportes para MPE
Enquanto o sistema bancário tradicional reduziu os empréstimos para MPE (micros e pequenas empresas) de R$ 336,1 bilhões em junho de 2015 para R$ 294,7 bilhões em junho de 2016, as cooperativas de crédito aumentaram os aportes em 32% no mesmo período, passando de R$ 1,83 bilhão para R$ 2,42 bilhões. "Na crise, os bancos preferem emprestar para o governo, o que tira dinheiro da produção para cobrir deficit público. O sistema cooperativista é mais identificado com as demandas regionais e por isso opera de forma diferente. Não à toa, quando o sistema bancário empresta menos para as pequenas empresas, o volume de operações do cooperativismo cresce", compara o diretor de Operações do Sebrae/PR, Júlio Cezar Agostini.
Por isso, o fomento das cooperativas de crédito é um dos preceitos fundamentais para garantir o desenvolvimento das MPEs brasileiras. O gerente Regional Norte de Desenvolvimento do Sicredi, David Vacari Conchon, destacou que enquanto nos Estados Unidos 48% da população é associada a cooperativas de crédito, no Brasil os associados não passam de 4,5%.
Em relação ao volume de crédito ofertado, as operações brasileiras não passam de 4% do volume total enquanto na França, 60% dos recursos ofertados passam pelo cooperativismo.
Isso porque, no Brasil, apesar das cooperativas de crédito datarem do início do século 20, quando foi criado o primeiro Sicredi no Rio Grande do Sul, só ganharam expressão no século 21, como é o caso do próprio Sicredi, que passou a ter livre admissão de pessoas físicas e jurídicas em 2005. "É um sistema que oferece melhores oportunidades para as pessoas", afirmou Conchon.
Atualmente, o Sicredi atende mais de 3 milhões de pessoas em 1.540 pontos de atendimento em todo o Brasil. Acumula ativos totais de R$ 76 bilhões e já emprestou R$ 39 bilhões. O lucro líquido da instituição soma R$ 1,6 bilhão. "Nossa visão é sermos reconhecidos como instituição financeira cooperativa comprometida com o desenvolvimento econômico e social das comunidades", reforça.
Em relação a pessoas jurídicas, o cooperativismo também tem atraído mais empresas. Em 2015, o Sicredi tinha 14 mil associados nessa categoria e hoje já soma 23,3 mil, um crescimento de 47%. O gerente regional atribui o incremento à proximidade com entidades de representação, como é o caso de associações comerciais, sindicatos rurais e Sebrae, entre outras. "Fomentamos o trabalho das micros e pequenas empresas. O cooperativismo se pauta pela qualidade, bom atendimento e preço justo", reforça.
O desenvolvimento das cooperativas de crédito impõe ao setor a responsabilidade de ser grande sem perder a identidade local que faz a diferença no atendimento e na oferta de soluções aos associados. "Nosso intuito não é ganhar dinheiro, mas fomentar o crescimento dos nossos associados", diz ele, destacando que as cooperativas oferecem uma extensa carteira de crédito às MPE, inclusive com financiamento à exportação. (C.A.)