De nomes estranhos, normalmente grafados em letras miúdas nos rótulos dos alimentos industrializados, os aditivos alimentares artificiais são adicionados à maioria dos produtos disponíveis nas prateleiras dos supermercados com o objetivo de realçar o sabor, melhorar a aparência e aumentar a conservação. Considerados inevitáveis à modernidade, visto que permitiram a diversificação da oferta de alimentos em grande escala, são também motivo de polêmica quando se discute a relação entre o consumo de determinados aditivos e o surgimento de doenças como alergias respiratórias e dermatológicas, câncer e até o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
''Pesquisas indicam que alguns aditivos artificiais são associados a essas doenças'', afirma a nutricionista Manuela Dias, pesquisadora da Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor). Para ela, o maior problema não é o consumo esporádico e isolado dessas substâncias, mas a ingestão cumulativa. ''A princípio os aditivos artificiais são seguros, mas há risco no consumo associado em diversos alimentos e a longo prazo'', enfatiza.
A nutricionista ressalta que a Proteste ''não é contra os aditivos'', mas avalia que muitos são desnecessários ou apresentam possibilidade de substituição. ''O glutamato monossódico (presente em salgadinhos e macarrões instantâneos, por exemplo) é um realçador de sabor que não tem função essencial e pode causar intolerância'', afirma. Outro exemplo é o corante caramelo 4, utilizado por algumas marcas de refrigerante de cola. ''Há fabricantes que usam o caramelo natural e obtém o mesmo resultado'', diz.
Entre as substâncias mais nocivas, ela cita o nitrito de sódio e o nitrato de sódio, que são conservadores presentes em alimentos embutidos e que, no organismo, formam a nitrozanina, uma potencial causadora de câncer. ''Cabe ao consumidor escolher se vai ou não ingerir esses produtos'', opina.
Corantes artificiais presentes em alimentos direcionados ao público infantil, como balas, gelatinas, refrigerantes, sucos em pó e chocolates são associados ao TDAH e também a alergias alimentares.
''A principal dica é consumir alimentos frescos ou minimamente processados'', aconselha, lembrando que, no caso dos industrializados serem inevitáveis, ler atentamente o rótulo dos produtos é o caminho para fazer a melhor escolha. No rótulo, aliás, os ingredientes aparecem em ordem decrescente de quantidade. Assim, se o primeiro item listado é o açúcar ou a gordura, significa que esses são os produtos predominantes.
Manuela ressalta que a legislação brasileira é mais ''permissiva'' que a de outros países com relação à liberação de aditivos nos alimentos. ''Por isso, vale o princípio da precaução'', avalia, referindo-se à possibilidade de evitar produtos que contenham muitas substâncias consideradas inadequadas (veja quadro nesta página).
O cuidado na escolha dos alimentos deve ser redobrado com as crianças. Como o limite de consumo diário de cada aditivo é estabelecido por quilograma de peso, elas podem apresentar maior sensibilidade. Para a nutricionista, o ideal é que as crianças não ingiram essas substâncias. ''Os pais são os responsáveis por formar o paladar dos filhos e, por isso, devem ter controle sobre o que eles comem.''